Saturday, October 24, 2009

A arte é uma agonia


É tão difícil explicar o que faz de um filme um bom filme, o que faz de um quadro o seu preferido, o que faz de uma música um resumo da sua vida. É quando a gente diz "parece que ele fez isso pra mim" ou simplesmente se acaba de chorar.
Na verdade, tudo não passa de uma grande agonia. Acho que a arte deixa de ser bonita pra ser espetacular quando desarruma alguma coisa dentro da gente. 
Foi bem o que aconteceu quando vi "4 X 4", o espetáculo da Deborah Colker que, anos depois de ver no Brasil, revi aqui e Nova York. Eu lembrava direitinho o desespero que senti no segundo ato. As minhas amigas ainda tentavam se deliciar com o primeiro, também muito bacana, enquanto eu anunciava: "vocês precisam ver o segundo ato!".
É que só depois que a cortina se levanta pela segunda vez os bailarinos começam a trazer, um a um, vasos chineses pro palco. Pousam num desenho simétrico, marcado no chão do palco, aqueles lindos e frágeis obstáculos. E quando tudo parece em ordem, começam a dançar. Você perceber que a piruetas são mais contidas, mas os batimentos do coração nem por isso se conformam. É desesperador. Dá uma angústia tão enorme, como se nenhum ensaio fosse suficiente e você tivesse que pedir a papai do céu pra proteger aqueles pobres pés do desastre vindouro. 
Claro que nenhuma tragédia acontece a não ser a dolorosa constatação de que, na sua agonia, você se tornou refém da arte. E torce dia a dia, pra que prisões como essa não se abram jamais.

Wednesday, October 21, 2009

De volta pra casa


Depois de um longo período de "café com leite", estou de volta a NY. Fui ao Brasil pra II Conferência das Comunidades Brasileiras no Exterior. Além de descobrir que tem brasileiro no mundo inteiro (Suriname, Líbano, China, Zaire...), foi ótimo ver como pesquisadores, políticos e cidadãos vêem a situação de quem está longe de casa. É que daqui a gente nunca sabe se está sendo visto. Então além de todas as mesas de debates interessantese da belíssima paisagem do Palácio Itamaraty, a gente se viu como cidadãos brasileiros de verdade. Em uma sitação diferente, mas que não exclui nossos direitos e deveres.
Pois bem, isso vai ao ar no programa do próximo sábado. O que não vai ao ar foi o período maravilhoso que eu passei em casa, perto dos amigos mais queridos. É, morar longe também permite que a gente se sinta no direito de encontrar apenas quem se quer mesmo, ficar perto dos que nos fazem falta, sem demagogia. 
Teve jantar, quadra da Portela, chope no Bar Urca, no Pavão Azul, no Jobi e até no São Cristóvão, em São Paulo, numa mesa recheada de amigos brilhantes. Teve família completa, praia, montanha e muitos, muitos sorrisos.
Ah, e pra coroar tudo isso, ainda teve um showzão do Egberto Gismonti no Sesc Vila Mariana. Nunca tinha visto o gênio tocando violão se doze cordas ao vivo. Foi de encher o coração. Coisa de maluco.
Bom estar de volta em casa.