Saturday, February 27, 2010

Dia 30 (28/02) - Mila num céu de diamantes


Sabe o que? Las Vegas tem seu charme. Tá, talvez não seja Las Vegas, e sim o Cirque du Soleil. Mas que tem, tem. Logo cedo fomos andar pela Las Vegas Boulevard, que parece ser a única rua da cidade. Nela estão todos os hotéis, ou seja, todos os pontos turísticos da cidade. Muito louco um lugar em que o que se tem para ver são hotéis. Mais louco ainda que eles representem lugares de verdade que, claro, são infinitamente mais lindos. O Empire State pequenininho, a Opera de Paris de parede de isopor, pessoas andando em gôndolas dentro de uma piscina... Tudo beeeem estranho. Mas gostei das águas dançantes. Cafona, mas divertido. Ainda almoçamos num italiano onde Frank Sinatra costumava ir (lembrei na hora de um restaurante em Madri que exibia orgulhoso uma placa "Ernest Hemingway never ate here") na época em que andava grudadinho com o pessoal da máfia italiana. Deve ter sido destino eu ter lido "Frank Sinatra has a cold" ano passado. Não fosse pela garçonete russa que nos atendeu, eu continuaria achando que as pessoas aqui são as mais antipáticas em que trombamos até agora. Epa! Ela é russa... então... À noite, apesar da chuva, seguimos para o compromisso mais aguardado do século: Love! Há tempos queria ver o espetáculo do Cirque du Soleil com músicas dos Beatles. Primeiro, pelos Beatles. Depois, pelo Cirque du Soleil. E valeu a pena pelos dois. É muito lindo ver os hinos da sua vida ganhando interpretações tão ricas, coloridas. Lucy passeava por um céu de diamantes de verdade (com luzinhas espalhadas pela platéia), polvos surgiam numa espécie de jardim debaixo d'água, soldados tentavam segurar acrobatas de volta à USSR. Lindo, lindo, lindo. Me acabei de chorar e voltei para casa de alma lavada. E achando que Las Vegas pode, sim, valer a pena.

Dia 29 (27/02) - Enfim, Las Vegas


Hoje cruzamos um deserto. De verdade. O Mojave é um dos maiores dos Estados Unidos e cobria quase todo o nosso caminho. Uma paisagem tão diferente as que temos no Brasil que acabou se tornando linda aos nossos olhos. Eram cores que nunca tínhamos visto pintando montanhas. Mais de cinco horas depois, chegamos. Las Vegas é uma cidade estranha. Antes de chegar, falei com alguns amigos efusivos: você vai amar, é o melhor lugar do mundo! Outros, foram veementes: vocé vai detestar, é péssimo! Confesso que minha primeira impressão não foi nada boa. Chegamos a Vegas mais ou menos às 3 da tarde, sem almoço, por causa da minha brilhante idéia de vir de uma pernada só para fugir do trânsito de sexta-feira. Como já disse mil vezes aqui no blog, vida de motorhomeiro não é fácil e até estacionarmos e fazermos os hookups já eram 4 e meia. Só conseguimos comer às cinco, azuis e tendo que enfrentar o mau humor da cidade toda. Acabamos numa steak house, o único restaurante aberto no Circus Circus, onde estamos acampados. Resultado: meu almoço foi uma porção de cogumelos assados! Pior foi quando resolvi perguntar ao bartender se havia alguma coisa para fazer aqui além de ir a cassinos. Ele gaguejou e me lançou um olhar Benny Goodman. Depois, fez cara de paisagem. É, a cidade é isso mesmo. Vou esperar amanhã para ver se o Cirque du Soleil me faz mudar de idéia.

Friday, February 26, 2010

Dia 28 (26/02) - Bakersfield


De São Francisco a Las Vegas é um chão. De carro comum são pelo menos dez horas. No nosso, nem se fala. Por isso resolvemos fazer a viagem em dois tempos, parando em Bakersfield, no meio do caminho. Como de costume, foi um trampo dirigir o RV, mas fizemos ótima viagem. O triste foi chegar e descobrir que o camping era o melhor que vimos até hoje! Banheiro incrível, laranjeiras ao redor das barracas, full hookups e uma vaga que eles chamam de pull trough, quando a gente não precisa fazer manobra. Entra de frente e sai de frente. Quem já andou de motorhome sabe que isso não tem preço! Para completar, ainda tinha donuts com café de graça, no café da manhã. A gente descobre que está mal das pernas quando acha o máximo dos luxos ter banheiro limpo e donuts de graça!

Dia 27 (24/02) - Minha casa fica longe do Vale do Silício


Estávamos precisando de uma folga, mas pesamos e achamos que não seria justo sair de São Francisco sem dar um pulinho no Vale do Silício. Primeira parada, a Nasa, onde dois brasileiros comandam uma empresa de fotografia digital. Fazem álbuns de astronautas, da lua, e se divertem. De lá, passamos em outra grande empresa para conhecer outro brasileiro bem sucedido nesse nebuloso universo da alta tecnologia. Mas o bacana mesmo foi o almoço, entre as duas gravações. Fomos a um restaurante brasileiro! Juro que eu não imaginava que estivesse com tanta saudade de casa! Tive ainda mais certeza de que precisava ouvir voz de família à noite, quando encontramos a Carola. Fomos a um restaurante super bacana, chamado The Stinking Rose (juro que é esse o nome!). No cardápio, tudo com muito, muito alho. Batemos papo, rimos muito e comemos, claro! O mais engraçado é que a Carola demorou para achar nossa mesa porque, sabendo que eu iria janar com minha "equipe", procurou uma mesa grande. Ela não acreditou quando descobriu que a tal "equipe" éramos nós dois! Ainda passamos no The Saloon, famoso refúgio de blues de São Francisco. Um daqueles bares que a gente acha que só existem em filmes.

Dia 26 (23/02) - Napa: entre castelos e armazéns


Já fazia tempo que eu queria conhecer o Napa Valley. Adoro vinho e desde que vim pros Estados Unidos passei a gostar muito dos californianos. O problema é que chovia muito, muito. Primeiro fomos encontrar a Angélica, uma brasileira que seria nossa guia. Ela disse que mais ou menos uns dez brasileiros moram na região. É pouco, mas valia a pena desocbrir quem eram e o que eles faziam por lá. Já começamos descobrindo que o vinho está tão arraigado à cultura do local que quase todo mundo tem uma adega em casa. Angélica tinha uma bem bacana. Até o salão de beleza onde ela trabalhava tinha uma plantação de uvas nos fundos. Nossa primeira parada foi a vendinha do Seu Osvaldo, uma figura. Nascido em Osvaldo Cruz, viveu no Rio até os doze anos, quando se mudou para a Itália, onde os pais haviam nascido. Serviu na segunda guerra, desertou, ficou dois anos escondido nas matas e consegiuu vir para a América. Isso foi há mais de cinquenta anos. E Seu Osvaldo insiste que não fala inglês! Amigão de Francis Ford Coppola e de outros produtores de vinho menos cinematográficos, se diz brasileiro de família italiana. Americano, nunca! Falamos de futebol, feijoada, carnaval e ainda conhecemos a Dona Neide, uma cliente amazonense dele que está em Napa há quarenta anos. Ainda passamos no Culinary Institute of America (CIA), onde conversamos com o chef Almir da Fonseca, brasileiro bamba do lugar. Fechamos as gravações no Castello di Amorosa, uma construção medieval, com direito a sala de torturas, armaduras e igrejinha, que foi construída nos anos 2000 por um produtor de vinhos meio maluco, como todo visionário. A vinícola é hoje uma das mais visitadas e respeitadas da região. Voltamos ao CIA, considerado um dos 100 melhor restaurantes do país, para jantar. Fez valer a chuva, a coreria, o cansaço.

Dia 25 (22/02) - Méier da Califórnia


Tiramos o dia para resolver mais coisas do RV. Parece que elas não acabam! Hoje foi o alarme e o rapaz que nos atendeu já avisou que demoraria e talvez nem conseguisse fazer o serviço. Cruzamos os dedos, deixamos por conta dele, e resolvemos conhecer Berkeley. O caminho para a cidade universitária é bem bonito. Atravessamos uma ponte, passamos entre montanhas e vemos a linda Baía de São Francisco. Procuramos no gps um restaurante para almoçar e ele indicou um tal de Café Brazil. Quando chegamos, decobrimos que o "restaurante" era uma barraquinha charmosa bem perto da entrada do campus. Mesinhas na calçada e parecia que a gente estava no Méier, comendo um churrasquinho de gato. Maravilhoso! Tinha até um PF vegetariano! Suco de manga, açaí e a simpática Monica para nos contar a história do lugar, que está ali há dez anos. O proprietário, Pedro, estava no Brasil, mas por telefone ele me disse que já está abrindo o terceiro restaurante. Martinho da Vila tocando, bandeiras do Brasil por todo lado, arroz com feijão. Depois ainda passamos na Telegraph, a rua hippie (bem mais hippie, aliás, que a própria Haight, em São Francisco) da cidade, onde manifestações contra a guerra do Vietnã ganharam força. Um dia maravilhoso, que terminou ainda melhor com a notícia de que o alarme, depois de 5 horas de trabalho, havia sido instalado. Voltamos pro camping acabados e felizes.

Monday, February 22, 2010

Dias 23 e 24 (20 e 21/02) - Folga?

Era pra ser nosso dia de folga, mas depois de uma sucessão de imprevistos com o RV, acabamos tendo que mudar de camping e isso tomou nosso dia. Saímos do Candlestick RV Park, numa área super deserta, para Novato, uma cidade a mais ou menos 40 minutos de São Francisco, mas mais perto do Napa Valley, para onde vamos na terça-feira. A única diversão do dia foi um jantar maravilhoso num peruano na Fillmore, chamado Fresca. A comida era tão bos que o garçon nicaraguense me disse: "você nem vai acreditar que esse prato é vegetariano"... Até me senti meio ofendida, mas quando o risoto de quinoa com cogumelos e aspargos chegou, entendi direitinho o que ele queria dizer. Para compensar, o domingo, que seria de gravações foi de folga. Mas, como já era de se esperar, choveu justo nesse dia. Ainda assim fomos almoçar em Sausalito, uma cidadezinha na beira da Golden Gate, de colonização italiana, charmosa que só. Fomos ao Spinnaker, de paredes de vidro, debruçado no mar. Até uma foca apareceu para dizer que tudo vale a pena.

Dia 22 (19/02) - Ouro e Leite


No nosso primeiro dia de gravação em São Francisco, começamos cedo. Encontramos o Jurandir, um dos muitos taxistas brasileiros na cidade. Naquela coisa de um conta pro outro, que conta pra mais outro e por aí vai, vários goianos acabaram se mudando para cá para trabalhar dirigindo yellow cabs. O Jurandir chegou há quatro anos e tem uma coisa muito especial, difeente de muitos imigrantes. Jurandir quer fazer da vida na América mais que um bom jeito de ganhar dinheiro. Quer sair daqui um cara melhor. Por isso vai a shows, museus, tenta aprender inglês, conhecer a cidade, vê filmes. E, resultado disso tudo ou da vontade de ser isso tudo, é bom de papo. Jurandir nos levou a Twin Peaks, que eu não conhecia (confesso que achava que era subida demais e que não valeria a pena). São quase 230m de altura, muitas curvas e uma vista linda, linda.

De lá, fomos encontrar Danilo, Adália e Fátima, homossexuais que vivem aqui há mais de 30 anos. Falaram das lutas, do preconceito, contaram várias histórias de Harvey Milk (o Danilo chegou aqui um ano após a morte dele) e me deixaram ainda mais apaixonada pelo Castro, o bairro gay de São Francisco. Para mim, o mais interessante da conversa foi descobrir que existem tantos preconceitos e que, no fim das contas, todos eles são iguais. Adália, por exemplo, falou que sofre por ser brasileira, por ser imigrante, por ser negra, por ser lésbica. Mas que a dor de cada um deles é a mesma: a dor da não compreensão, da impossibilidade de escolher o que quer da vida, do olhar diferente. Sobre a proposition 8, por exemplo, ela disse: "eu nem quero casar, mas eu quero poder não querer casar." Anda fomos ver Shutter Island, do Scorcese, que acaba de estrar por aqui. Mais um dia de lições.


Dia 21 (18/02) - 49 miles


Dia de folga em São Francisco é perfeito para a gente descobrir que nessa nova vida na estrada não há dias de folga. Combinamos que acordaríamos cedo, não falaríamos de trabalho e aproveitaríamos a cidade. Só conseguimos sair depois de meio dia, quando finalmente resolvemos todos os problemas de hook ups no camping em que estávamos hospedados. A água estava vazando, o lugar em que nos colocaram era super ermo e foi uma trabalheira danada. Quando, enfim, conseguimos nos livrar de tudo isso, decidimos pegar a chamada 49 miles, ou scenic drive. Trata-se de uma estrada desenhada para deixar os turistas ainda mais apaixonados por São Francisco. Primeiro passamos pelo Financial District e desaguamos no porto com vista para a Bay Bridge, aquela quase tão linda quanto a Golden Gate, por onde o Dustin Hoffman passa quando se manda à procura da filha da Ms Robinson em "The Graduate". Seguimos passando pelo Presídio, pela Golden Gate, descemos para comprinhas na Haight Street, comemos hot cookies no Castro. A surpresa do dia foi o Palace of Fine Arts, que pra mim está na disputa de lugar mais lindo da cidade, até mesmo com a Golden Gate.

Thursday, February 18, 2010

Dia 20 (17/02) - A caminho de São Francisco


Entre as várias filosofias do Chico, a mais nova é que as cidades são pessoas: têm coração, alma. Por isso não me surpeendeu a súbita alegria que foi nos invadindo a medida que nos aproximávamos de São Francisco. Uma cidade linda, com um histórico de luta pela liberdade, pelo amor, que faz com que o ar pareça colorido. Já na estrada, esbarramos em paisagens inspiradoras, montanhas cor de burro-quando-foge, lagos imensos e vastas plantações de cereja.

A viagem num carro comum de Los Angeles para São Francisco demora mais ou menos seis horas. A gente levou oito na estrada, mais uma para o almoço. Mas o bacana é que não foi cansativo. Poder dirigir um pouquinho e passar o voltante é uma tranquilidade. Chico começou, depois eu segui na direção por umas quatro horas (pai, olha a foto aí!) e ele assumiu de novo. Muito maluco dirigir o bitelo. Primeiro porque o acelerador parece mais pesado. Depois, porque qualquer caminhão que nos ultrapasse nos empurra pro acostamento de um jeito maluco! É preciso estar o tempo todo atento e o tempo todo devagar. Paciência é a palavra-chave de um motorista de motorhome. Antes de embarcar nesta aventura, conversamos com alguns deles e um me disse: "não precisa ter pressa. Você está em casa!

A frase pareceu ainda mais perfeita ontem quando, depois de uma semana em hotéis, voltamos para casa. É bom demais se sentir em casa, com tudo à mão. Quer azeite na salada? Tá ali! E aquele cachecol vermelho? Logo ali! O tênis de corrida? No armário perto da cadeira! Uma alegria sem fim.

O camping de São Francisco é bem bonitinho, com banheiro bacana e roseiras por todo canto. Vamos passar uma semana bacana. Só vamos sentir falta mesmo da nossa equipe, que ficou em Los Angeles. Matamos a já saudade com um jantar na véspera da viagem e um brinde com champagne no estacionamento do hotel, às 8 da matina. Com um time desses, o que pode dar errado?


Wednesday, February 17, 2010

Dias 18 e 19 (15 e 16/02) - Bureaucracy


A segunda-feira era pra ser dia de folga. Era, inclusive, feriado por aqui. Mas acabamos tendo que ir ao médico fazer uma consulta preliminar para que o Chico pudesse tirar o plano de saúde. Eram tantas folhas, tantos exames, tantas pequenas coisinhas que acabamos perdendo a tarde nisso.

Na terça de manhã, prova de trânsito. Aí sim descobri como são as tão famosas instituições americanas. Pena que as informações nos chegam atravessadas. Aquela eficiência, que a gente tanto inveja no Brasil, deve ficar mesmo nos filmes. Até porque, nos desenhos, a realidade é outra. Lembra das irmãs da Marge, nos Simpsons? Aquelas mau-humoradas, insuportáveis? Pois elas trabalham no DMV, o Detran deles. E como Springfield retrata a verdade americana! Todos os funcionários pareciam ter engolido um vespeiro. Depois daquele causo que criaram com meu nome na prova teórica, invocaram que a gente não poderia fazer a prova no mesmo dia, usando o mesmo carro. Reclamaram de tudo, criaram todo tipo de dor de cabeça e um exame que deveria ser feito às 10h ficou pro meio-dia. Em janeiro, quando estive no Rio, fui tirar minha carteira internacional de motorista e em dez minutos já tinha resolvido tudo. Quer vir pra cá, Jacaré? Cuidado que essa lagoa não tem mais tanto peixe, não.

Dias 16 e 17 (13 e 14/02) - Fim de semana


Seria apenas mais um fim de semana em Los Angeles não fosse uma brilhante idéia da Tanira: conhecer o Getty Center. Foi, sem dúvidas, o lugar mais bonito que vimos por aqui. O museu fica no alto de uma montanha, por isso tem uma vista deslumbrante da enseada de Santa Monica até Malibu. Quem não é chegado a exposições pode se deliciar num jardim caprichado. Como não é bem o nosso caso, nos enfiamos numa simpática sala onde se propunha um desafio: descobrir, entre centenas de obras, quais eram de Rembrandt e quais eram de seus pupilos. Na entrada da exibição a gente descobria que esse é um problem que aflige os grandes especialistas há décadas. O pintor holandês teve pelo menos 50 alunos e ensinava a todos eles o seu estilo, chegando a retocar as ilustrações. Tudo isso numa época em que não era comum assinar as obras. Resultado: uma confusão mental nos maiores conhecedores da pitura dele, e uma profusão de interrogações nas cabeças de nós, pobres mortais. Até uma lupa gigante ficava à disposição para a gente tentar ver, nos detalhes, as diferenças. Missão impossível, mas divertidíssima. Ainda fui dar um pulo no shopping com a Tanis para comprar cositchas pro motohome. É que quarta San Francisco nos espera...

No domingo tentamos ir no parque da Universal Studios, mas em menos de dez minutos, debaixo de sol e no final de uma looooonga fila, desistimos. Voltamos pro hotel para ver o pesadíssimo Full Metal Jacket e à noite fomos comemorar o aniversário do Randy, companheiro do Gustavo. A casa deles é linda e eles são cozinheiros de mão cheia. Mesa farta (tinha até couve de bruxelas, especialmente para mim!), conversa boa e uma vontade enorme de ficar até mais tarde. Jóia demais.

Tuesday, February 16, 2010

Dia 15 (12/02) - Sobre nós, animais


Depois de uma semana maravilhosa em San Diego, cheia de paisagens incríveis e histórias bacanas, não podíamos ir embora assim, sem mais nem menos. Decidimos tomar café no Balboa Park, onde fica o famoso Zoo, mas às oito da manhã até os elefantes decansavam. Acabamos indo parar num charmoso café francês do outro lado da cidade, onde encontramos uma figura tão comum por aqui que jamais estaria em exibição numa jaula de zoológico: velhinhos americanos apaixonados pelo Brasil. Um era mergulhador, outro tinha uma casa em Itaparica. Falaram muito, num português engraçado, e ordenaram: "vocês precisam ir a La Jolla".

Olhamos no google maps e vimos que o balneário ficava mesmo no nosso caminho, de volta a Los Angeles. E lá fomos nós.

O lugar é um santuário, onde focas aproveitam para desncansar. Ficam lá, morgando, tomando sol, depois mergulham nas águas transparentes do Pacífico. E não é meia dúzia, não. Eu contei pelo menos 63, numa tacada só. Foi emocionante. Saímos com a bateria recarregada. E precisaríamos dela na volta à cidade mais engarrafada do mundo. O gps indicava que chegaríamos às 3 da tarde ao hotel. Netse horário, de fato estávamos bem perto, na entrada da cidade. Acreditem, levamos mais DUAS HORAS E MEIA até o nosso destino. Às 5 e meia da tarde chegávamos aqui, cuspindo marimbondo, com uma inveja danada daquelas focas...


Thursday, February 11, 2010

Dia 14 - San Diego Futebol Clube


Depois de toda a tensão do dia de ontem, só mesmo histórias lindas para compensar. Principalmente se elas repousarem na gostosa San Diego. Começamos o dia com a história do João e da Selma, nordestinos arretados que vieram para os Estados Unidos 44 anos atrás, ralaram muito e acabaram construíndo uma empresa milionária. Tudo isso quando já passavam dos 50 anos. E o mais bacana: continuam vivendo uma vida deliciosa. Nos levaram para almoçar, passaram a manhã contando causos, combinaram futuros encontros. Depois, encontramos um grupo de brasileiros em Shelter Island, na Baía de San Diego, onde tiramos a foto ao lado. Para terminar o nosso último dia aqui, encontramos um grupo de táxi-ciclistas brasileiros que descobrimos por acaso na rua. Um deles, o Francisco, passava com uma bandeira do Brasil pendurada quando o vimos. Ele juntou uma turma e nos encontrou. São todos estudantes, que vem para cá fazer um intercâmbio curto, mas divertidíssimo.

Bem, depois de uma semana puxada, amanhã voltamos para Los Angeles, mas semana que vem, ueba, é São Francisco! Mal posso esperar!

Dia 13 - Vida na fronteira


A mula pintada de zebra foi a menor das surpresas que tivemos neste um dia de México na veia.

Hoje foi um daqueles dias que mudam a vida da gente. Mais um, aliás.

Acordamos cedo para que conseguíssemos voltar antes de anoitecer em Tijuana. O México fica a menos de 20 minutos do nosso hotel, mas pelas diferenças que vimos assim que atravessamos a fronteira, pareceram anos. Nem sei como explicar. Parece que o ar da cidade é carregado pela vontade que as pessoas têm de estar fora dali, ao mesmo tempo em que tem um certo tempero de alegria. Muito louco.

Passamos o dia "escoltados" pelo fiel Mestre Pelourinho, um baiano que, na definição do Chico, é o malandro, no melhor sentido da palavra. Aquele cara que faz da vida uma aventura errante e uma alegria constante, com o que quer que ela ofereça. Uma beleza de ver. Ele está no México há seis anos, anda pra cima e pra baixo num carro cheio de desenhos de florestas e mestres da capoeira, e é conhecido na cidade toda. Ainda assim, o único momento de turista que a gente teve foi o da foto ao lado. O restante foi de trabalho e tensão. O próprio Pelourinho, que contrariando as estatísticas nunca quis atravessar pros Estados Unidos, já se rendeu e confessou que não aguenta mais tanta violência e que a situação na cidade é ainda pior do que o terror que vemos nos jornais. Passeamos pela Avenida Revolución, decadente ponto turístico da cidade, visitamos a escola de capoeira dele, fomos à casa de uma amiga, conhecemos uma taquería. Ah, e esqueci de dizer! Tomamos um café da manhã típico: feijão, batata assada e um louco omelete vegetariano que vinha com pele de porco (blergh) ao lado. Por que eles não chamam isso de omelete de vegetais? Eu sei lá! Só sei que no fim das contas foi o que me sustentou sem almoço até as 9 da noite.

Estava tudo tenso, mas relativamente tranqüilo, até chegarmos ao temido muro. Fomos acompanhando seu doloroso trajeto até chegar à fronteira do mar. Ali foi difícil aguentar. A energia péssima, dezenas de homens vagando, alguns olhando o navio da marinha americana enquanto o sol se punha. E pouco antes de o muro deitar na areia, ele foi coberto de cruzes, de ponta a ponta. Cruzes brancas a perder de vista, representando aqueles que morrem tentando atravessar. E San Diego logo ali, onde a vista, sem esforço, alcança.

Foi duro voltar para casa. E mais duro ainda, dormir.

Tuesday, February 9, 2010

Dia 12 - Um dia numa base do US Marines


Desde que cheguei aos Estados Unidos sonhava com o dia em que faria esta matéria. Um brasileiro nas Forças Armadas americanas. Tinha ouvido falar de alguns casos, mas nunca tinha conhecido nenhum e achava que jamais chegaríamos a eles. Até conhecer Alex.

Catarinense boa praça, que se alistou pensndo que no futuro conseguiria ter sucesso na vida política americana, ele nos convidou para passar o dia em Camp Pendleton, o maior campo dos Marines. Esse grupo é como o fuzileiro naval no Brasil. Fazem um pouco de tudo: aeronáutica, exército, marinha. São considerados a elite da tropa. Mais impressionante que saber que Alex havia sido selecionado no rigoroso exame deles, resistido aos treinamento, em que os militares passam frio, calor, fome e todo tipo de privação, foi descobrir que ele era completamente apaixonado por aquela vida. Vislumbrar uma guerra, segundo ele, não dá medo. Diz que com o treinamento que recebeu tem certeza de que voltará seguro.

Dentro do campo fizemos coisas normalmente proibidas para civis: almoçamos com eles, visitamos a academia de ginástica, fizemos compras, conhecemos o dormitório de um outro brasileiro (que, aliás, conhecemos por acaso no estacionamento. Ele nos abordou num português carregado de sotaque quando viu a bandeira estampada no carro). Um dia pra não esquecer jamais. Até porque vou dormir com ainda mais perguntas do que tinha quando acordei.

Dia 11 - About a sunset and french fries


Já era hora de sair de Los Angeles. Acordamos cedinho, por volta de 7 da manhã, e fomos arrumar o RV, que iria para a pintura. Tudo demora muito mais do que se imagina nesta nova vida. Desengatar os hook ups, engatar o carro no motorhome. Uma batalha. Sobrevivemos e Chico dirigiu o bitelão pela primeira vez. Também sobrevivemos. Deixamos o RV na loja, em Burbank, e seguimos para Carson, onde encontraríamos um brasileiro que enveloparia o carro pequeno. Nele, seguiríamos para San Diego. Tudo isso antes do almoço.

O problema é que chegando lá me dei conta de que havíamos esquecido o passaporte no RV. Como iríamos para o México na quarta-feira? Como entraríamos numa base do exército americano no dia seguinte? Voltamos tudo, cuspindo marimbondos, e só depois das 3h conseguimos pegar a estrada, com o carrinho já pintado de verde e amarelo e com o logo da tv e do programa. Mas não demorou para descobrirmos que havia um motivo para isso.

No meio da estrada, quase chegando a San Diego, vi um dos mais lindo espetáculos da minha vida. Uma revoada de gaivotas. Paramos no acostamento e descobrimos que as belezuras já estavam tão acostumadas com humanos admirando seus vôos rasantes, que comiam na nossa mão! Já passava das 5h e quando olhamos para o horizonte, o sol começava a se por. Sem brincadeira, eu parecia uma louca, fazendo como os hippies no Arpoador. Bati palmas, assobiei, e os americanos, não sei por que, não entenderam muito bem.

Voltamos pra San Diego e descobrimos uma cidadezinha bem charmosa. Fomos a um café francês no East Village (tão particular quanto o East Village novaiorquino) chamado Café Chloé e comemos a melhor batata frita das nossas vidas. Voltamos pro hotel, onde Pinduca e Dindi nos esperavam impacientes. Hora de dormir bem porque o dia seguinte promete.

Dias 9 e 10 - Entre concertos e futebol

O fim de semana de folga foi perfeito. Aproveitamos o sábado para resolver mais coisinhas no RV e para fazer um programa que eu estava planejando desde que vi o filme "The Soloist": ir ao Walt Disney Concert Hall. Compramos os ingressos pra este sábado uma semana antes e, apesar de eles serem os mais baratos da casa (50 dólares), a moça da bilheteria prometeu: "há quem diga que são os acentos com o melhor som da casa". Imaginando algo perto do melhor som da sala vista como a que tem a melhor acústica do mundo, sabíamos que o espetáculo era promissor.

Por fora, o lugar já vale a pena. Foi construído por Frank Gehry (aquele do Guggenheim de Bilbao), portanto aqueles jogos de luz de tirar o fôlego já estavam previstos à luz do dia. Mas juro que não imaginava que à noite as estruturas de metal refletissem tanta luz.

Os ingressos davam direito a uma palestra sobre a 7a Sinfonia de Beethoven, que ouviríamos a seguir. Foi uma aula. Descobrimos que, ao escrevê-la, o compositor estava cheio de receios, porque havia acabado de compor a 6a, comparada a um quadro, de tantas paisagens emitidas pelo som. Ele não queria que pensassem que sua música deixava tudo claro, como se tivesse legendas. Sabia que se tratava de uma obra abstrata e não queria maus julgamentos. Escreveu o que Wagner chamou de "apogeu da dança".

Regida pelo maestro Herbert Blomstedt, um velhinho fofo que deu vontade de prender no canto da sala da minha casa, mas vigoroso como um moleque de vinte e poucos anos, a Filarmônica de Los Angeles fez a gente querer dançar. Às vezes parecia que eu estava numa banheira de gelo, às vezes sentia um enxame de abelhas me picando, às vezes elas viravam borboletas. Não tinha como ser a mesma depois daquilo. Saímos de alma lavada e nem o trânsito de Los Angeles parecia nos afetar. Claro, até errarmos o caminho e irmos parar no Skid Row, uma área em Downtown que lembra as piores ruas do centro do Rio. Moradores de rua, bêbados, dava medo de parar no sinal. Era o outro lado do "The Soloist". Era a casa do personagem do Jamie Foxx.

E isso foi só o sábado. No dia seguinte, um programa bem americano. Fomos ver o Super Bowl! Torcemos que nos acabamos pelo New Orleans Saints, entre um gole e outro de Corona e chips com a melhor guacamole que já comi (o Rosa Mexicano que me desculpe...). Não poderia ser diferente com Tanira de anfitriã. Casa linda, comida boa, risadas soltas. E com os Saints saindo vitoriosos. Continuo sem entender as regras do futebol americano, mas uma coisa eu confirmei: New Orleans é a Salvador dos Estados Unidos. Não vejo a hora de chegar lá.


Friday, February 5, 2010

Dia 8 - Eu e Nenê, Nenê e eu


Pela primeira vez tivemos a manhã livre no motorhome. Livre é modo de dizer, já que havia mil coisas a resolver. Transferir a conta de luz, marcar a prova de direção, encher a caixa d'água do RV, fazer almoço, decupar as primeiras fitas. Foi pouco tempo pra tudo isso, mas valeu a pena passar o dia "em casa", principalmente agora que descobrimos que a semana que vem será de hotel em hotel. Teremos que deixar a casa, feito caramujo na muda, pra que ela seja envelopada com o logotipo do programa e da tv.

Mas o bacana do dia não foi isso. A foto aí do lado não é motagem nem representa duas espécies diferentes. Somos ambos humanos e brasileiros. Mas quem foi o infeliz que resolveu chamar esta criatura de Nenê? Fiquei me sentindo... sei lá... um feto!

Foi muito bacana a conversa com o pivô dos Nuggets, que me haviam dito ser tímido, mas estava super à vontade, contando histórias de imigrantes e revelando que logo que chegou aqui chorava noites a fio com saudade de casa. Me senti ótima! Se esse marmanjo de 2,11m e sapato 50 pode chorar, o que dizer de uma mocinha fofa feito eu?

Legal também foi o jogo. Estávamos na casa dos Lakers, o Staples Center, que ficou famoso por ter sediado o velório e os últimos ensaios de Michael Jackson. Hoje torcemos feito loucos pelo time de Denver, empurramos Nenê até onde deu, apesar de ele ter sido expulso depois da sexta falta, e vimos o time visitante sair vencedor. Uma noite divertida e grandiosa, com o perdão do trocadilho.

PS: Até na volta pra casa, às 11 da noite, tem engarrafamento em Los Angeles. Quem aguenta isso?

Dia 7 - Berma é a...

Hoje acordamos cedo e fomos conhecer por dentro a estrutura da sociedade americana. E assim vamos conhecendo cada vez melhor um ao outro. Fomos, eu e Chico, tirar a carteira de motorista americana!

Lá chegando, por milagre do destino, me aparece um email no celular avisando que o Social Security do Chico estava pronto. Explico. O Social é o número que mostra que o governo te reconhece como alguém aqui nos Estados Unidos. Sem ele, fica complicado tirar carteira, alugar apartamento, plano de saúde, tudo é mais difícil. A gente ia tentar tirar a do Chico enquanto o número não chegava, mas \ele chegou justo quando a gente estava preenchendo o formulário. Tudo certo, um problema a menos.

Só não contávamos com a burocracia americana. Sei lá por que raios eles entenderam que meu nome era Mila Burnsnascimento, como se meus dois sobrenomes se fundissem em um. Disseram que no meu passaporte estava assim e que no meu social eu aparecia como Mila Burns Nascimento, então eu não poderia tirar a carteira. A solução? Ir até o Social e trocar de nome. Daí eu passaria a ser Mila Burnsnascimento e tudo certo. E como convencer a moça de que esse nunca havia sido meu nome e que isso desencadearia uma crise familar sem precedentes? Misturar escoceses e portugueses assim, sem mais nem menos? Whisky com pastel de santa clara? Bem, o jeito foi uma chefe bem boazinha aparecer e dizer que ia deixar eu tirar a carteira, mas colocaria a observação de que eu tinha dois nomes... rsrsrsrs... Melhor não discutir.

Depois do exame de vista e de tirar uma foto, fomos para o teste escrito, com três chances de passar. 36 perguntas e só poderíamos cometer seis erros. Errei sete e Chico, que não tinha estudado nadica, 11.

Saímos da sala, estudamos mais um pouquinho e voltamos para tentar de novo. Aí vem aquela parte em que disse que estamos nos conhecendo melhor. Pedi a prova em inglês e o marrento do Chico, que acabou de chegar e já quer sentar na janelinha, perguntou: você vai fazer em inglês ou português? Eu estava há horas tentando convencê-lo a faezr em português e achei que havia conseguido, mas quando ouvi a pergunta, pensei: se eu disser que vou fazer em ingl6es, o metido vai pedir igual. Fingi que não ouvi e segui para a minha mesa, para fazer o teste. Chico, desolado, pediu a prova em português. Passamos os dois! E no final, confessei que havia fingido não ouvir a pergunta e ele admitiu que seu dissesse que tinha feito em inglês, também faria. Muito folgado! Muito masculino isso!

Voltamos felizes, com permit na mão e morrendo de rir da história. Ah! E voltamos também com uma dúvida! O que seria berma e camiao? É que na prova do Chico, o portguês não era á essas coisas, então além de chamarem ônibus de autobus, tinham umas palavrinhas bem esquisitas... Évelin, ajuda aí!!!

Wednesday, February 3, 2010

Dia 6


Los Angeles é a cidade das batalhas. O dia começa com uma gata, a Dindi, fazendo escândalo. Ela queria entrar de qualquer maneira no quarto. Moveu o mundo - e as grandes - e a danada conseguiu. Depois de acordada pela gata, fui estrear a lavanderia do camp ground. Enquanto isso, Chico arrumava a casa. Fazer a manutenção do RV não é brincadeira. Enche de água, lava louça (não pode deixar acumular, senão tudo vira uma bagunça) e por aí vai.

Saímos para tentar buscar o cartão do banco que até hoje não chegou, passamos na produtora para um conversinha rápida, seguimos para um almoço mais rápido ainda e lá fomos encontrar Milena em Beverly Hills.

O lugar é mesmo bem charmoso. Vimos o hotel onde foi gravado "Uma linda mulher" e uma porção de lojas de grife. O motivo de termos encontrado Milena lá é que ela é uma ex-modelo, entã tem tudo a ver com esse universo. Aliás, depois de quase uma semana em Los Angeles, essa é uma das primeira diferençasque vi em relação a Nova York. É como se lá todo mundo fosse cheio de estilo, mas estranhamente menos preocupado com a aparência do que aqui. Los Angeles tem gente sarada, carros "tunados", salto alto. Nova York é a cidade da sapatilha, das caminhadas. Los Ageles, dos engarrafamentos. Muitas ruas sequer têm calçadas.

Bem, depois da badalação fomos pra Manhattan (Beach, não a minha Manhattan...), onde vive a Milena, com um marido fofo e duas filhinhas lindas, que falam português feito gente grande. Depois de dez anos como modelo, ela virou... doceira! E continua magérrima! A nós, restou cair de boca no brigadeiro, no docinho de abacaxi e nas trouxinhas de côco, minhas preferidas. Tinha também uma rosquinha de pinga, receita de família, deliciosa. Ainda passamos no Target pra comprar os compartimentos que faltavam para uma vida minimamente organizada dentro do RV e voltamos pra casa.

Mal sabíamos que a maior surpresa do dia ainda estava por vir. Chico abriu a porta para tomar banho e vupt! Dindi escapou. Feliz da vida foi se enfiando debaixo dos outros RVs mas, na escuridão, não conseguíamos encontrá-la. Coube ao Chico buscar uns salgadinhos de frango que ela adora e a mim enxergar a maluca debaixo de um carro mais afastado. Pegamos a danada, eu caí no choro e já estou mesmo convencida de que só a louca da Mila para fazer uma road trip com uma gata e um cachorro quase tão insanos quanto ela. Ok. Vamos em frente. Resta ter mais cuidado ao abrir a porta.

Tuesday, February 2, 2010

Dia 5

Pinduca e Dindi já são oficialente os mais felizes com a mudança. Ele passeia serelepe e nem late mais. Inacreditável. Ela, que uma semana atrás não podia ficar a menos de um metro da coleira sem virar a reencarnação do coisa ruim, já passeia pelo gramado e sobe em árvores. Diz o Chico que, se nós mudamos, imagine os animais. Concordo, mas confesso que jamais pensei que seria tão rápido.

Hoje fomos à produtora para um reunião em que programamos as próximas gravações. Logo depois, pegamos a estrada em direção a Seal Beach. Há mais ou menos dois meses, recebemos uma mensagem no blog do Planeta da dona desse spa. Rosana. O negócio é super bacana, Ela e a filha, Julia, montaram um spa só com produtos orgânicos da Amazônia. Graças ao espírito ecologicamente correto dos californianos viram a crise passar como se fosse brisa. Depois de conhecer o lugar, seguimos com as duas para a linda praia de Seal Beach. O mar do Pacífico é tão gelado que nem no verão dá pra entrar sem roupas de borracha. Só mesmo os surfistas se aventuram. Mas que visual! Imagens lindas, recordações também. E amanhã tem mais!

Dia 4


Tudo quase com cara de casa no RV, mas ainda não conseguimos desarrumar as malas grandes. As duas bitelonas permanecem deitadas nas cadeiras da pequena cozinha. A boa notícia é que hoje encontramos Shanti Correa (na foto com Clara, Gus e Tanira, a equipe da produtora). A carioca chegou aos Estados Unidos há 15 anos e foi morar em São Francisco. Sonhava ser atriz, mas por causa do sotaque, não conseguia papéis bacanas. Foi se enfiando entre uma função e outra na giantesca indústria do cinema. Virou produtora, fotógrafa, dançarina, Costuma brincar que tem várias vidas. Pois a última delas a levou para a intimidade das maiores celebridades. É que ela passou a ser responsável pela arrumação do closet de várias delas. Negócio tão sério que Shanti tem de assinar um termo se compromentendo a não revelar jamais a identidade dos clientes.

Depois de passearmos pela calçada da fama, propus a ela que viesse ao RV, arrumar o meu diminuto closet. Foi o máximo! Transformamos as roupas em rolinhos e devagar ficou tudo bem mais ajeitado. Foi um dia maravilhos também para o programa. Fizemos muitas belas imagens, mas voltamos tão tarde que a reunião na produtora ficou para amanhã.

Dia 2


Depois de uma noite sem sonhos, acordei para lembrar que agora era hora de sonhar acordada. Pinduca era o mais contente, andando sem coleira pelo gramado. Até Dindi saiu de casa, pela primeira vez. Foram só dois minutinhos, mas donos de gatos que já tentaram adestrar os bichinhos para uma caminhada com coleira devem saber que isso é motivo de abrir um champagne. Conseguimos desarrumar as malas e fizemos o primeiro contato com os outros moradores. Minha vizinha veio trazer laranjas e dizer que havia, ainda, um pé de grapefruit e um limoeiro, de onde podíamos pegar quantos frutos quiséssemos. Comemos laranja no quintal e fui correndo colher limões. Vinte de uma vez, que viraram uma azeda limonada no jantar. 

Como era sábado, nosso dia de folga, fomos ao Walt Disney Concert Hall e compramos ingressos para um concerto no sábado que vem. Almoçamos no shopping onde fica o Kodak Theater e fomos para o nosso dia mais turístico da temporada. Calçada da Fama, Teatro Chinês e Museu de Cera. Voltamos para o camping, impressionados com a lua cheia e... com o trânsito em Los Angeles! De verdade, acho que nunca vi tanto carro! Mesmo no fim de semana, demoramos mais de 40 minutos num caminho que o gps indicava ser de 11!  São as facilidades da vida americana, onde comprar um carro não parece ser luxo, e as dificuldades do transporte público por aqui. Repleta de viadutos, freeways e highways, a cidade é um convite à emissão de carbono, contrariando a fama de ecologicamente correta da Califórnia. 


Dia 1

A gente não se dá conta de que o sonho é verdade até a verdade gritar nos nossos ouvidos. Minha verdade chegou às quatro da manhã de sexta-feira, dia 29 de janeiro de 2010, quando o despertador gentilmente lembrou, com "Across the universe", na voz de Rufus Wainwrigth, que era hora de seguir para o aeroporto. Fomos eu, o repórter cinematográfico Francisco Quinteiro Pires, meu cachorro Pinduca, minha gata Dindi, sete malas grandes, três pequenas e um violão.

Na chegada ao aeroporto precebemos que era o início de uma feliz empreitada. A moça do check-in não cobrou pelas quatro primeiras malas. Disse que eu parecia a filha dela, que nunca viajava com menos de três malas, e sugeriu que usássemos o bilhete do vôo São Paulo - Nova York, que fizemos menos de um mês antes, para usar os privilégios de vôos internacionais. Tudo dentro das normas da companhia, mas que jamais saberíamos não fosse a boa vontade da atendente. E teve mais.

Depois de passarmos pelo detector de metal nos equilibrando com tanta bagagem de mão, um cachorro e uma gata, ouvi meu nome sendo chamado na fila de embarque. "Senhora Burns, favor comparecer à mesa". Chegando lá, a notícia. "A senhora não pode embarcar com dois animais na classe econômica. Um é o limite. Vai ter que voltar ao guichê de check-in, comprar uma caixa especial para animais, e despachar um deles". A veterinária já havia me precavido, mas depois de ser autorizada pela gentil moça do check-in, aquilo foi um balde de água fria. Até que veio mais uma boa notícia. "Senhora, infelizmente não vai dar tempo. A senhora terá de ir na classe executiva". Infelizmente, cara pálida? Lá fomos nós, eu e Pinduca. Francisco, sabendo que eu não havia dormido nada na noite anterior, ansiosa com a viagem, foi na classe econômica com Dindi, que é bem mais calma.

Desembarcamos numa Los Angeles ensolarada um dia depois de Francisco ver neve pela primeira vez, em Nova York. Fomos direto à produtora, onde nos receberam com uma sacola de boas vindas recheada de delícias brasileiras. De guaraná a bolacha de chocolate. Almoçamos juntos, a equipe mais animada dos últimos tempos. Depois seguimos para o estacionamento onde estava nossa nova casa.

O encontro com Moby Dick, que ganhou esse nome por ser grandalhona e guerreira como a baleia de Melville, foi emocionante. Era linda demais, do jeitiho que eu imaginava. Lá aprendemos a acoplar o carro no guincho e seguimos, com o funcionário deles Josh, ao volante, para o nosso primeiro acampamento.

Descobrimos, então, que a vida na casa nova era trabalhosa, mas deliciosa. Tínhamos que fazer os "hook-ups", as ligações de água, eletricidade e esgoto, mas nenhuma era um bicho de sete cabeças. Todos acompanharam, aprenderam, ajudaram. Depois, cada um seguiu seu rumo e eu e Francisco seguimos para fazer compras. De volta ao novo lar, só consegui fazer um penne com molho de tomate e capotar na cama. Feliz da vida.