Saturday, February 26, 2011

Películas e filmaços


Programão não apenas para casais fofos como este aí ao lado, que encontrei no metrô, quando ia para lá: Festival de Cinema Latino-americano. Ontem vimos dois filmes (Gatos Viejos comentado pelo diretor, Sebastián da Silva, o mesmo de La Nana). Hoje mais dois. Tudo de graça.
O melhor do festival (tá, eu não vi os outros, mas já sei que é o melhor... rsrsrsrs) é Dzi Croquettes, documentário de Tatiana Issa e Raphael Alvarez sobre a trupe de teatro que revolucionou o Brasil na época da ditadura, mas é desconhecida das novas gerações. Eu mesma nunca tinha ouvido falar até descobrir o filmaço da dupla. Já é o documentário mais premiado da história do Brasil. Vejam e entenderão por que.

From China with love


Vale muito a pena ir à exposição When Worlds Collide, do fotógrafo chinês Wang Qingsong. Está no International Center of Photography, um museu super bacana que visitei pela primeira vez com a Flavinha. Naquele dia quentinho de 2009 a gente viu uma outra mostra, chamada This is not a Fashion Photograph, com fotos de um monte de feras, de Walker Evans a Robert Mapplethorpe. Desta vez, um maluco. Até então incógnito para mim.
Qingsong mostra em retratos montados (à la Norman Rockwell) o choque entre a tradição chinesa, o comunismo, a mão de obra barata e a chegada de bens de consumo, sobretudo os americanos. As fotos são lindas e perturbadoras. Algumas até fisicamente, como em Yaochi Fiesta. A foto ao lado é Archaeologist, em que o artista encheu de lama um bando de figurantes para simular uma escavação, em que corpos foram encontrados depois do fim de alguma civilização. Símbolos do Mc Donalds se misturam a pinturas do século 12. Tudo detalhadamente calculado.
Mas o mais bacana da exposição foi uma cena, em frente à foto Follow me. Na obra, um professor aponta para um quadro negro cheio de coisas escritas em inglês. Parece impor a todo um povo que compreenda as investidas do inimigo. O que aconteceu foi que um dos seguranças da sala, um senhor de uns 60 anos, chamou a segurança da sala ao lado. "Corre aqui. Achei outra coisa. Olha, aqui está escrito: onde fica o banheiro, bem ao lado de ideogramas chineses." Os dois discutiram longamente sobre o sentido da obra.
Esses profissionais sempre me fascinaram. Cercados de arte o dia inteiro, mas ao mesmo tempo, tendo de olhá-la com o distanciamento de que fita um bem financeiramente valioso. E nada mais. Sempre quis saber se, por trás do terno azul-marinho, eles se apaixonavam pelos quadros e esculturas, ou se apenas batiam ponto e poderiam estar tomando conta de caixas sabão de brio (das que não valem dois dólares, não as do Warhol). Um dia, no Whitney, na exposição do Paul Thek (que, particularmente, detestei), vi um deles fazendo cara feia pras instalações. No mesmo museu, no entanto, conheci a obra de Charles LeDray que, vejam só, foi segurança de museu! Poxa, se o cara virou artista, é porque estar ali, perto das obras, de fato deve acordar o bicho carpinteiro de alguns deles. Achei lindo ver a arte mexendo desse jeito com as pessoas. E, olha, em poucos museus encontrei funcionários tão felizes. Deve ter alguma coisa a ver.

Wednesday, February 23, 2011

As más línguas chegaram às lojas

Quem acha o Pinduca pequeno...


... nunca o viu saindo do banho! É petitiquinho!

Eataly e a saudade de um bom pé sujo


Outro dia fui ao aclamado, incensado, verborragizado Eataly. Todo mundo falou tanto desse super duper lugar que a gente quis levar o João, na sua despedida. Chegando lá, decidimos sentar na praça da alimentação entre a área de Vegetables e Fish. Os meninos pediriam coisas do mar e eu pediria algo que combinasse com o meu vegetarianismo. Primeira surpresa! Lá não é possível pedir pratos de áreas diferentes. Se você senta na parte de peixe, tem que pedir peixe. E no cardápio não há opção vegetariana! E se você fora para a parte vegetariana e namorar um carnívoro, pobrezinho. Vai ter que comer cenoura. Decidimos, então, seguir para as massas. Tristes, pedimos pizza.
Aí, como prêmio de consolação, resolvemos pedir uma entradinha. Que tal um prato de frios? Daí eu como os queijos e os meninos os embutidos, né? É, mas esse tipo de prato não existe por lá. Ou só se come embutido, ou só se come queijo, ou só se come vegetal. Hã? Ok. Vamos lá, pulemos a entradinha. Veio a pizza. Ok. Agora, a conta e três cafés. E de sobremesa... "Nem café, nem sobremesa", sentenciou a garçonete, completando com um "eu sei que é maluquice, mas tem que ir até a área do café e da sobremesa. Aqui não servimos. Mil desculpas."
Quando eu era pequena, aprendi que comer era uma momento de confraternização, de unir amigos, a família, enfim, sentar junto, celebrar, falar do dia. Lá em casa nem tinha tv na cozinha por isso. Era hora de conversa. O Eataly parece querer impedir isso. Propõe que cada um coma por si ou todos sigam infelizes para comer o que não queriam, em nome da amizade. Corta o clima do cafezinho depois da refeição, impondo que você se meta numa fila imensa para comer um Tiramissú que faria corar a italiana do Café Dante. E ainda te faz andar mais um pouco por um espresso que o Lavazza serve até em posto de gasolina por aqui. Fala sério.
Mas como se não deu certo é porque ainda não acabou, à noite, depois de assitir ao documentário sobre o Vidal Sassoon e aprender tudo sobre o corte de cinco pontas, encontramos o João (ele vinha de um concerto no Carneggie Hall que disse ter sido um dos melhores da sua vida) no Jimmy no. 43, um boteco pé sujo num porão do East Village. Fica do lado do McSorleys. A diferença é que a comida é maravilhosa. Sim, eles têm opções para vegetarianos. Sim, têm opções para carnívoros. E sim, podemos, juntos, comer e beber (um extenso cardápio de cervejas belgas, entre outras). De preferência numa mesa bem apertadinha, para fazer valer o que mamãe ensinou.

Friday, February 18, 2011

Para moças que gostam de sapatos e livros


Saiu esta semana aqui em Nova York um livro maravilhoso chamado "Everyday Icon". Trata da construção do estilo da primeira-dama americana, Michelle Obama, de quem sou fã de carteirinha. Olhando a foto da moça na época do High School você pode até não concordar, mas pense no vestido Wu do dia do Baile da posse? Ou no lemongrass e nas luvas verdes na posse em si?
Quantas vezes nós nos perguntamos como é que damos conta de ser donas de casa, mães (e olha que eu ainda escapo dessa), funcionárias, bailarinas? A própria descrição da dona deste blog que aqui vos fala, ali no alto, diz muito sobre isso.
E quantas vezes a gente também não se pergunta se é frescura se preocupar com o cabelo? Eu volta e meia me pego entre questões profundas como: uso um cinto grosso ou aquele fininho dourado? Scarpin azul ou rasteirinha de oncinha? Pois bem, chega de se culpar por isso! Se Michelle pode, por que não eu?
A mulher de Barack Obama transborda estilo, é mãe de duas molecas fofas, conselheira do homem mais poderoso do mundo, advogada de sucesso. Ainda promove campanhas por uma boa alimentação entre os americanos e exibe bíceps sarados.
O que a autora do livro defende é que estilo e conteúdo não são entidades independentes. Pelo contrário. Ter estilo é parte da inteligência. Coisa que os franceses já sabem há muito, mas os americanos relutam em assumir. Se está bem vestida, é burra. Se for bonita, então, afff! Pois bem, amigas elegantes e brilhantes, encham-se de orgulho! Mirem-se no exemplo daquela mulher de Washington! E, pela foto aí do lado, a gente percebe que não se nasce com estilo (se bem que acho este penteado dela bem fashion)...

Thursday, February 17, 2011

É demais esta cidade


Não me canso de declarar meu amor por Nova York. Na virada do ano aluguei na biblioteca (o que dizer de uma cidade que tem centenas de bibliotecas públicas maravilhosas de onde qualquer um pode levar para casa clássicos ou obras recém-lançadas?) o livro "Just Kids", da Patti Smith. Até então minha relação com a cantora era bem "Because the night" e pronto. No livro, ela conta sua história de amor (primeiro de amante, depois de amigo, depois de irmão, ou tudo junto, sei lá) com Robert Mapplethorpe. Com ele, minha relação era mesmo de um pouco de medo. Difícil compreender ensaios fotográficos tão pesados.
O livro é escrito com a caneta da alma. Cheio de emoção, mostra essa história de amor numa Nova York que se descobria junto de seus moradores. Na verdade, é assim até hoje. Parece que nada por aqui é como era ontem. A cidade se transforma, tem vida, personalidade.
Pois bem, o que dizer de um lugar que te empresta um livro num mês e te deixa ouvir a autora no mês seguine? Aliás, não só a autora. Patti chamou ao palco do 92 Y Lenny K e, pasmem, Sam Shepard, que cantou duas belas canções country. Patti falou de Ginsberg, Dylan, de si mesma e, claro, de Nova York. Leu passagens emocionantes, me fez chorar de novo quando falou da morte de Coltrane, chorou de novo contando o dia em que viu Mapplethorpe pela primeira vez.
Hoje, se eu fosse escrever um livro declarando meu amor a alguém, como ela fez, certamente seria a Nova York.

Thursday, February 10, 2011

Nixon in China


Quando não entendo muito do assunto tenho uma dificuldade enorme de comentá-lo. Não consigo sair dando orelhada em terreno estranho. Mas gosto muito de ópera. É, não entendo nada, mas só pelo amor, já me sinto capaz de dar alguma opinião. E ontem, puxa, que ópera mais chata!
Nixon in China é bacana por ser moderna. Os fatos se passaram no início da década de 70, outro dia, se pensarmos que se trata se uma arte em que quase sempre estão retratadas histórias de, no mínimo, um século atrás. Até tentei me apegar a isso para aproveitar o programa, que me custou 20 dólares e quatro horas na fila do rush hour ticket. Mas não deu.
O elenco era fraco. O Nixon, tadinho, fazia um esforço tremendo para se fazer ouvir. Terminei ontem a biografia da Callas e lembrei na hora de espetáculos que ela cancelou por não ter voz. Ou pior, de outros em que ela pagou um baita mico, forçando a barra para cumprir contrato mesmo estando gripada. Pensei que fosse esse o problema do barítono, mas não. O bichinho devia estar nervoso, sei lá. Sei que foi uma tortura para quem estava ouvindo. A música também não contribuía para o bom desempenho dos cantores. As melodias eram pobres, às vezes mais parecia um rap que uma ópera.
Valeu mesmo pela experiência de ver como os americanos reagem frente a uma criação de um conterrâneo. Muitos foram embora antes do fim (viu como era chato?), mas a maioria resistiu até o final apenas para aplaudir John Adams. Em tempos de concorrência chinesa, todo nacionalismo é bem-vindo.

Tuesday, February 8, 2011

Vlado e a nossa amnésia


Ontem assisti, pelo Netflix, a "Vlado: 30 anos depois", um filme de João Batista de Andrade. Pensei nos meus pais, na época do movimento estudantil; em Doramundo, filme em que os dois amigos se encontram (Vladimir Herzog escreveu o primeiro roteiro, João Batista de Andrade dirigiu); no mais recente documentário "Tempo de Resistência", que meu pai intimou todos os amigos a verem, para que não esquecessem aquele período tão doloroso quanto decisivo para a nossa formação como povo.
Mas pensei muito mesmo na minha viagem para a Argentina, nos idos de 2004, se não me engano. Fui com minha irmã. Organizamos tudo para chegar lá no dia em que os hermanos comemoram o fim da ditadura militar naquele país. O problema é que era um feriado e não era uma data redonda para as comemorações, portanto imaginei que não veria ninguém na rua. "Devem ter viajado pro feriado", pensei. Mas os argentinos tinham muito a me ensinar. Quando cheguei ao Obelisco uma multidão tomava as ruas. "No perdonamos y no olvidamos", gritavam, mais de duas décadas depois do fim do regime. E me envorgenhei da nossa falta de memória. Devia haver pelo menos 200 mil pessoas naquele fim de tarde em Buenos Aires, seguindo em marcha até a Casa Rosada. Me juntei às mães da Praça de Maio como se aquela luta fosse minha, que se fossem meus filhos os mais de 30 mil desaparecidos durante o período da Revolução Argentina. Mas não eram.
Os nossos filhos - ou pais - atuaram em lutas semelhantes aqui no nosso quintal, e cabe a cada um de nós fazer com que essa história não seja esquecida. Vendo Vlado ontem percebi, mais uma vez, que apesar de todo o meu interesse, ainda sabia pouco sobre a história desse herói acidental. Menos ainda sei de outros heróis brasileiros, que desapareceram no cruel coador da memória.
Cabe a nós lembrar. "No perdonamos y no olvidamos". Talvez a internet, os filmes, os livros, sirvam também para isso. Para refrescar uma lembrança que nos construiu como pátria.

Monday, February 7, 2011

Solidão companheira


Semana incrível. Concerto no Carneggie Hall, mais doze vinis na coleção, visita maravilhosa em casa, passeio por torda a ilha (levando a visita), show no Jazz at Lincoln Center, exposição do Hopper, La Bohéme na Met, restaurantes incríveis com amigos incríveis, despedida da Aline, jantar na Aninha com direito a baralho com Joaninha.
Mas vou ser breve. La Bohéme foi frustrante. Não é a ópera mais bacana do mundo e, pela primeira vez, achei a montagem do Zefirelli meio datada. Não sei se é porque estou lendo a maravilhosa biografia da Maria Callas (que quando eu terminar, talvez amanhã, merecerá um post inteiro), mas fiquei meio exigente de uma semana para cá. Tudo bem que o segundo ato foi emocionante. Pela música, pela neve que caía lá fora e no palco, pela companhia do João. João é nossa visita maravilhosa. Conhece ópera e música clássica como poucos (pouquíssimos, aliás), e não nos fizemos de rogados ao aproveitar a presença dele para ver tudo o que queríamos com tradução simultânea.
Foi assim também no Carneggie Hall, quando ouvimos a orquestra de Cleveland tocar um vigoroso Wagner, um lírico Schumann e um tenaz Bartók. João explicou que tocar peças tão distintas é rotina entre novas orquestras que, na tentativa de encorajar patrocinadores, precisam mostrar serviço. Funcionou. Saímos de lá maravilhados. E tinha, ainda, uma Tiger Mom no assento da frente, fuzilando seus pequenos tigrinhos, com o olhar, a cara tosse. Os dois eram lindos. Imitavam o pianista no apoio de mãos. Espero que o azedume da mamãe não os afaste do amor pela música.
E teve o Hopper. Meu favorito entre os americanos, virou uma espécie de obsessão desde que cheguei à América. Quando morava em Paris, meu périplo por museus foi em vão. Não vi nada dele. Aqui, me esbaldei. Vi Hopper por onde passei: Los Angeles, Dallas, Cleveland, Pittsburgh e, o grand finale, em Chicago. Mas a maior coleção fica aqui pertinho e casa, no Whitney. Já tinha ido lá procurar meu objeto do desejo algumas vezes, mas a exposição que está em cartaz até abril é especial. Mostra o pintor ao lado de outros artistas de seu tempo. E a gente descobre que a solidão das telas não transborda para o profissional. De Stiegliz a Demuth, muitos dialogaram com ele. Foi revelador. E, para quem estiver em NY, o passeio vale ainda mais se combinado com a exposição de Charles de LeDray, no mesmo museu. Minimalismo, loucura, chamem como quiserem. Eu chamo de beleza.