Wednesday, December 8, 2010

Guerra Cinzenta


Algumas experiências acontecem lado a lado por obra de Santa Clara. Só pode ser. O que mais explicaria o fato de eu ter lido Amos Oz, visto Anselm Kiefer e assistido a Joan Baez no mesmo dia? Separadamente, talvez nenhum dos três fizesse tanto sentido quanto juntos. Um puxou o outro.
Primeiro, "How to cure a fanatic", um livrinho de bolso tão pequeno nas páginas quanto gradioso nas idéias. Munido de palavras (num trecho, ele se diz colecionador delas; se compara àqueles aficcionados por dinheiro, que sentem prazer em manipular moedinhas, com a diferença de que palavras são mais sólidas que metal) Amos Oz defende a formação de um estado palestino-israelense. Seria um divórcio doloroso, segundo ele, como se ex-marido e ex-mulher ainda tivessem que dividir o mesmo apartamento, sendo que nele só havia um banheiro e um cozinha. Mas seria a única solução justa e definitiva para a região.
Depois, Anselm Kiefer na Gagosian Gallery. O alemão já havia chamado minha atenção com suas telas gigantes nos Museus da Filadélfia e de Cleveland. Agora se revelou ainda mais cinza, ainda mais doloroso, em instalações. Se é para se divertir, corra para a exposição de John Baldessari, no Metropolitan. Passe longe daqui. Kiefer é duro, seco, como a guerra de Oz. Não é possível sair de lá sem o coração machucado. O casamento, a relação com os pais, a primeira casa, tudo é destruído pelo isolamento, pela intolerância. Kiefer transforma em gesso moído qualquer argumento de que a guerra é necessária. Dialoga com Oz no desespero, no medo da burrice.
E quando o meu dia parecia cheio de descobertas e devastado por tristezas surge, linda, com seu sorriso quebrado, Joan Baez. O documentário lançado ano passado é um primor. Consegue transmitir a nós, da geração que só a viu de cabelos curtos e grisalhos, o que aquela mulher fez pelo outro. "Prefiro que não me classifiquem como nada. mas se quiserem classificar, que seja, primeiro, como ser humano. Depois, pacifista. E só se precisarem, ainda, de um terceiro rótulo, só aí, podem dizer que sou cantora de folk", diz Baez. O amor por Bob Dylan desaparece perto da amizade com Martin Luther King (aliás, o que não desaparece perto de um discurso de Luther King?). As fofocas, o estilo, a beleza, apesar de intensos, ficam diminutos perto da ativista que segue de peito aberto para o Chile, Sarajevo, Mississippi, Vietnã. Para qualquer lugar onde ela possa mudar alguma coisa.
Cenários de guerra e paz se misturaram nesta terça-feira pré-Brasil.

Monday, November 22, 2010

Versos Satíricos


Salman Rushdie é dos caras mais engraçados que já vi. Hoje, numa longa leitura na 92Y (mais uma surpresa típica de Nova York, que, depois de tanto tempo aqui eu ainda não conhecia), ele fez graça com tudo. A lei de imigração do Arizona, por exemplo, serviu de gancho para o autor de Versos Satânicos dizer que o Kansas era a prova de que Darwin estava errado, porque a espécie humana nunca poderia evoluir para aquilo.
Confessou que leu, a duras penas, os sete livros de J.K Rowling (que chamou de Tio Patinhas) para agradar o filho mais novo. Sabia tudo sobre todos os personagens de Harry Potter, confessou que acompanhava cada lançamento da indústria de videogames, falou sobre os hábitos de leitura das mais distintas regiões da Índia. Foi uma aula, boa para nos lembrar como é parte obrigatória para a gente se sentir vivendo passar um tempo, algumas horinhas que sejam, ao lado de pessoas inteligentes.
Nos últimos meses, no isolamento da estrada, me sentia emburrecendo. O conceito de casa foi se esvaindo e eu já começara a acreditar que um chuveiro e uma cama confortável bastavam para que eu me sentisse em uma. Nada disso.
Nova York me lembrou que casa é um lugar de onde você não quer sair, mas que te leva para ver o mundo. É aquele cantinho onde você pode se recolher e se sentir crescendo, ao mesmo tempo. Casa é o lugar que te faz querer ter filhos, pôr mais cobetura de chocolate no bolo, borrifar essência de lavanda pelo quarto. Casa, aliás, tem cheiro de lavanda.
Sobre Luka and the fire of life, o novo livro de Rushdie, pouco posso dizer, pois ainda não o li. Ouvi apenas curtos trechos, lidos pelo autor, que falavam de uma bela relação entre pai e filho. Talvez por isso ele tenha me levado a pensar sobre a importância de ter um lugar no mundo, de pertencer a algo. Hoje, sou completamente da minha casa, do meu bairro, da minha cidade. Amanhã posso ser de logo ali. Mas por enquanto, ainda tenho muitas coisas para descobrir aqui. E como é boa essa sensação.

Saturday, November 6, 2010

A vida é um balão vermelho


Algumas vezes vi amigos artistas sofrerem uma abordagem um tanto esquisita dos fãs. Eles punham as mãos pesadas sobre os ombros dos pobres autores e diziam: "eu seeeeeei que você fez aquela música para mim. Quem te contou"? Ou ainda "sou eu, não sou? Aquele personagem sou eu, tenho certeza". Assustador.
Pois hoje me peguei fazendo a mesma coisa para um filme que eu já deveria ter visto há muito tempo, mas sempre adiei. Adiei porque tenho certeza de que Albert Lamorisse o fez para mim. E para que eu o visse hoje.
São 34 minutos, suficientes para mostrar o que tantos de nós passamos em tantos momentos das nossas vidas. Palavras são desnecessárias na saga do menino que encontra um balão encantado numa rua de Montmartre. Os dois ficam juntos, tão juntos que o balão passa a seguir seu "dono". Às vezes lhe prega peças, brinca de esconde-esconde. Lado a lado, os dois descobrem a cidade, as pessoas, a vida.
O problema é que, como nas histórias reais, uma hora alguém se incomoda com aquela harmonia. Por que é que ele tem uma balão vermelho mágico e eu não? Por que os dois se dão tão bem? Quanta injustiça! A alguns, cabe a simples vontade de ter o balão. São crianças que perseguem o garoto, o cercam até conseguirem rouba-lo.
Mas há, ainda, aqueles que nem se importam em ter um amigo encantado. Querem apenas destruir o balão do outro. O primeiro aponta um estiligue. Cambaleante, o balão cai no chão. Outro se aproxima e, com toda a força (aquela que ele deixou de usar construindo seus próprios sonhos e brinquedos), pisa o pobre.
Quem nunca teve um balão vermelho?
Pois bem, meus amigos. Se vocês pensam que, como num bom filme francês, o menino aprende que a vida é assim mesmo e vai para casa de mãos abanando, a lição é outra. Sentindo o que acontecera, dezenas, centenas de balões multicoloridos voam impávidos pelos céus de Paris. Atravessam ruelas, desvencilham-se de duras janelas, driblam telhados. Chegam ao terreno baldio onde o menino velava seu amigo. Dançam ao redor dele que, num lampejo de alegria, segura um por um. E, todos juntos, voam, sabe lá para onde.
Por isso, pode ter certeza. Se o balão vermelho for mesmo seu, chore um pouco por ele. Mas chore sabendo que de onde veio esse, tem uma porção para tornar sua vida ainda mais colorida.

Friday, October 22, 2010

Dia 267 - Carmen e, mais uma vez, os japoneses


Mais uma de Chicago. Num só dia vi uma das óperas mais fantásticas de todos os tempos (ou será a mais fantástica?) e fui apresentada a uma experiência completamente nova nas artes.
Começando pelo começo, no início da tarde fomos à Lyric Opera de Chicago, ver Carmen. Ópera tem umas coisas engraçadas. A de hoje era o fato de Don José ser coreano. Pensei que isso jamais funcionaria. Tá certo que, na hora das lutas de faca, ele sempre parecia mais hábil que o Don José da minha imaginação, mas Yonghoon Lee roubou a cena. Deu até pena da Carmen, se é que isso é possível. Sobre a ópera, preciso dizer como me encantou o libretto. Ou talvez a história original, de Prosper Mérimée. Já me queixei com alguns amigos especialistas no assunto sobre o exagero em alguns librettos. Parece que, numa encruzilhada, sem saber como explicar a mudança de um personagem, lança-se mão de um feitiço, uma distração, e pronto! Coisa que em novela das oito seria duramente repreendida. Pois em Carmen, isso nunca acontece. São todos humanos, demasiado humanos, até. E com tudo isso, ainda tem a música de Bizet, que dialoga tão perfeitamente com o canto, que somos transportados imadiatamente a Sevilla. Quatro horas que parecem duas. Demais.
Saímos em êxtase de lá e seguimos para o que seria a maior revelação dos últimos tempos. Fomos ver nosso primeiro espetáculo de Butoh. Já tinha visto o Sankai Juku no cinema, em "Cherry Blossoms". Fiquei super curiosa e quando vimos que eles estariam no Harris Theater corremos pra comprar ingressos. Pois não era nada do que eu estava esperando.
Já falei algumas vezes nos orientais por aqui, especialmente do cinema. E mais especialmente ainda, do Koreeda, de quem sou fã incondicional. Mas nada havia me preparado para aquele espetáculo. Em seis cenas, Amagatsu Ushio nos apresenta a vida. Da escuridão do útero, ao peso da solidão, da culpa, à descoberta de si mesmo. E o mais maluco é que a gente sente tudo isso, reflete sobre nossa própria vida.
No palco, um pó fino, como de um jardim japonês, cria desenhos de altos e baixos, como os dias. Grandes vasos, mais semelhantes a centros de mesa cheios de água, se espalham pelo chão. Em alguns deles, pequenas gotas continuam caindo. O ritmo é lento. Tão lento que nem parece se tratar de uma dança, mas de uma sucessão de quadros. O pintor em questão dá preferência a cores primárias e a um jogo de luz de deixar Vermeer cheio de inveja. É claro que essa experiência é dolorosa. Tanto que dezenas de espectadores deixaram a sala durante a performance. Quem resistiu até o final ganhou uma viagem pelo inconsciente que nem a melhor das meditações é capaz de guiar. Obrigada, Chicago.

Tuesday, October 19, 2010

Dia 264 - Entre Mahler e a favela


Chicago é mesmo uma cidade incrível. Depois de ir a dois museus fabulosos (o de arte contemporânea com uma emocionante temporária do Calder), a um show do Chucho Valdez, a três filmes do Festival de Cinema e a um concerto da Sinfônica, resolvi que era hora de escrever.
O cônsul geral do Brasil aqui é o escritor João Almino, com quem passamos um dia, caminhando pela Universidade de Chicago. Já dá para esperar algo muito diferente de uma cidade onde nosso representante maior é um homem das letras. Pois Almino conseguiu trazer vários brasileiros, atuantes em diferentes áreas (arquitetos, escritores, artistas plásticos), para apresentar seus trabalhos aqui. Os últimos, conhecemos ontem.
Cacau Amaral, Rodrigo Felha e Cadu Barcellos, são três dos diretores de 5 X Favela, recebido com aplausos e um interessado debate no final da exibição que vimos no festival. O filme me deixou orgulhosa, em primeiro lugar, pela qualidade mesmo. Bem dirigido, com roteiros inteligentes, não subestima o espectador. Diverte, faz chorar, assusta. E, com cinco episódios distintos, é possível ter uma boa noção sobre vários aspectos da vida numa favela carioca: o medo, a amizade, as rivalidades entre quadrilhas, os sonhos. Outro ponto que me deixou orgulhosa dos brilhantes rapazes foi a postura. Acho o bom e velho complexo de vira-lata um companheiro do mal. Um daqueles "amigos" que quando a gente menos espera nos dão uma bela punhalada. Pois os três diretores não pediram desculpas nem obrigado. Simplesmente olharam no mesmo nível. Como disse Cadu, não se posicionam como cineastas da favela, mas cineastas, capazes de fazer qualquer filme.
E, só para deixar registrado, teve ainda o Mahler 7, regido pelo Pierre Boulez. Não e à toa que essa é a sinfonia mais desconhecida de Mahler. É difícil mesmo. Já no primeiro movimento você percebe que as coisas vão sair do planejado. Sempre brinquei que não deve haver profissão mais ingrata que a de percussinista de orquestra! Imagina ficar ouvindo tudo, tudo, pra só bater um gongo no final? Pois neste começo, vi os pobrezinhos correndo de um lado pro outro, demandados pela pujança daquelas notas que pareciam sempre esbarrar no "fora de hora". O segundo movimento, mais civilizado, digamos assim, destaca os sopros. Mas no terceiro, ele já volta para um clima "quem vem lá? que horas são? isso não são horas, que horas são?". No quarto, violão e bandolim, que desta vez fizeram as vezes dos tais percussionistas e ficaram três movimentos paradinhos, roubam a cena. Para culminar num quinto movimento estranho, com um final lindamente esquisito. E, pobre Boulez, tentando pôr ordem naquela bagunça. E não é que ele conseguiu?

Tuesday, October 12, 2010

Dia 257 - Meu encontro com o desconhecido


Já faz uns dez anos. Foi num dia muito, muito frio, em Paris. Lembro que era o primeiro domingo de novembro. Não por mérito da minha memória. Era esse o dia da gratuidade e, vivendo numa cidade cara, ganhando salário de estagiária, era sempre no primeiro domingo do mês que eu visitava meu museu favorito.
Mas aquela era a primeira vez em que eu ia até lá. Estava cheia de curiosidade, não apenas para ver Monet, Rodin, Renoir e tantos outros artistas que conhecia só de livros da Taschen, mas para conhecer a estrutura do lugar, que fora uma das mais charmosas estações de trem da cidade.
O Musée D'Orsay era mesmo tudo isso e um tanto mais. Naquele inverno de 2000, ainda tinha uma exposição temporária sobre a carreira do Nijinsky, com fotos e obras inspiradas nos movimentos dele.
Sala após sala, foram horas de encantamento. Passeei por rios cheios de vitórias-régias, andei por plantações de trigo, fiz piquenique na beira do lago. Descobri cores que desconhecia, rodeei inúmeras esculturas, guerreei com ávidos fotógrafos japoneses para sentir um respiro de impressionismo.
Até que entrei numa sala cheia.
Entre tanta gente, mal conseguia ver os quadros. Demorava. Eram pelo menos uns dez minutos para passar de um para o outro, fora o tempo que eu já levo naturalmente, de frente para cada um deles.
De repente, um mundo saltou da tela pro meu colo. Era "O quarto", de Van Gogh. Completamente diferente de qualquer reprodução que eu já tinha visto. Nada que eu conseguisse descrever, ou prever. O vermelho do cobertor, o azul da parede, o dourado das cadeiras. Tudo tão novo, tão único, que meu coração jamais poderia se preparar.
Caí no choro.
Chorava tanto e tão alto que as lentes japonesas passaram a se virar pra mim, desprezando Manet e Cézanne. Um papelão.
Minha tarde acabou ali. Saí da sala, bebi água, sentei num banquinho no corredor. E chorei, chorei, chorei.
Lembrei o motivo de eu nunca ter pôsters de quadros em casa: eles nunca reproduziriam a minha sensação ao ver a obra de verdade. E aprendi que um objeto retangular, pequeno e pessoal, pode ser tão poderoso quanto uma canção, um namorado, nossa mãe, ao falar de sentimentos.
Naquele momento, estava eu, em meu quarto apertado no 17eme arrondissement, com medo de morrer e ninguém me encontrar. Estava o pouco dinheiro, nunca suficiente para telefonar para casa. Estava a vontade de saber daquilo tudo e a assustadora descoberta de que tudo o que eu sabia até então era nada perto do que o mundo ainda tinha para oferecer.
Mas naquela época eu tinha meus 19, 20 anos, e descobertas fazem parte da rotina.
Lindo é descobrir que hoje, beirando os 30, ainda posso me sentir menina de novo. Aqui em Chicago, não foi Vicente, mas Eduardo o responsável pelo meu renascimento.
Descobri Hopper pouco antes de ir morar em Paris, lendo uma revista. A solidão dos personagens, as paisagens infinitas me pegaram pelo pé. Comprei um livrinho de mão e fui descobrindo aos poucos novas obras. Depois da temporada em Paris, voltei à Europa várias vezes, mas nunca consegui ver um quadro dele. Afinal, com tantos vizinhos geniais, para que um museu europeu daria destaque a um americano?
Chegando a Nova York, no Whitney Museum, tive meu primeiro encontro tête-a-tête com ele. Foi emocionante. De lá para cá, rodando a América, pude ver vários outros quadros de Hopper, exceto um.
"Nighthawks" foi o primeiro Hopper que eu vi na vida, naquela revista. Foi ele que despertou em mim o amor pelo artista. E hoje, por alguns minutos, ele foi só meu.
Numa terça-feira de dia lindo em Chicago, não havia quase ninguém no Art Museum. Passei por várias salas para conhecer a belíssima coleção de impressionistas de lá. A segunda mais completa do mundo, dizem eles, só perdendo para... tcharam! O Musée D'Orsay. Devia ser um pernúncio que eu não entendi, então, mais uma vez, não me preparei. Fui desembestada para a sala, com se fosse encontrar um velho amigo, que eu só conhecia por foto. Só que o tal amigo era completamente diferente do que eu imaginava. Na parede do diner, um amarelo cor de luz. O verde... Não sei... É quase o verde água da caixa de 36 cores da Faber-Castel, só que bem mais intenso. Quase molhado. E se antes eu não sabia o que estava se passando entre aquelas quatro pessoas, hoje, soube menos ainda. Não sei nem mais se se conhecem. O casal.... casal? A única coisa que sei é que, depois de visitar mais de 20 estados, depois de mais de nove meses morando nas estradas americanas, posso dizer que Hopper conhece a alma deste país como ninguém. Solitária. Devastada. Devastadora. Única.
O museu nada mais é que o lugar onde diferentes partes do mundo aparecem entre quatro pedaços de madeira.
PS: A reprodução acima é só para o leitor se localizar, mas não tem nada, nadica a ver, com a emoção da obra verdadeira. Vê-la já vale a viagem. E Chicago tem muito mais.

Wednesday, September 15, 2010

Dia 230 - Sobre tantas coisas...

Faz tanto tempo que não escrevo que mal sei onde parei. O blog também serve para isto: me lembrar de que há quase cem dias não anoto as nossas memórias de viagem. Motivos não faltam para ausência, mas também não faltariam razões para escrever diariamente. Acho que são tantas coisas acontecendo em tão pouco tempo que acabou sendo, como dizem os americanos, overwhelming. Ou cinquenta anos em cinco, para ser mais brasileira.
Depois do último post, na Carolina do Norte, passamos por Oter Banks, no mesmo estado, o lugar mais bonito que viamos desde o início da viagem. Atravessamos a Virgínia, vimos o Brasil sair da Copa e o 4 de julho em Washington D.C, passamos por diferentes cidades de Massachussets (inclusive duas ilhas paradisíacas, Nantucket e Martha's Vineyard), e voltamos para as casas. Primeiro NY, depois o Brasil.
Segunda-feira, depois de semanas maravilhosas na casa de amigos queridos, voltamos para o RV. É que, quando fomos para o Canadá, tivemos que deixá-lo para trás. Ah! Havia esquecido de mencionar que passamos por Toronto e Quebec no meio do caminho.
Hoje estamos na Philadelphia, uma cidade linda, e que, até agora, se mostrou mesmo do amor fraterno. Eu havia lido que aqui estavam os americanos mais rudes do país, mas até agora está tudo indo tão bem... Pode ser porque estamos acampados no meio do Amish County e eles não são exatamente americanos, mas por enquanto, tudo feliz por aqui.
Amanhã conto mais. Se não ficar overwhelmed de novo...

Tuesday, June 29, 2010

Dias 141 a 144 - Olhai pro céu


Raleigh é a capital da Carolina do Norte. Uma cidade sem grandes atrações, mas cheia de jovens, por causa das universidades que rodeiam a chamada área do Triângulo. São três cidades onde a pequisa em diferentes áreas - tecnologia, medicina, sociologia... - é incentivada: Chapel Hill, Durham e Raleigh. Conseguimos conhecer bem as três cidades, levados por brasileiros que entrevistamos e pelo Gustavo e a Roberta, amigos de Vitória que estão abrindo uma empresa de importação de granito aqui.

Eu poderia ficar horas falando das pessoas bacanas que conhecemos e reencontramos nesses primeiros dias na Carolina do Norte. Em vez disso, vou falar um pouco do céu. O céu daqui é tão diferente, de um azul tão único, que a cor, naquela tonalidade que a gente chama de "bebê", está em todo lugar. Nos toldos das lojas, nas camisetas, nas casas (mais abastadas, já que o galão de "Carolina blue" custa duaz vezes o preço do convencional) e, pasmem, nos carros do corpo de bombeiros! A natureza por aqui foi generosa.

Outro dia, Roberta me disse "é bem lindo esse país, né?" e eu, num daqueles dias de fúria, fiz cara de quem comeu limão. Pois preciso fazer justiça. É mesmo muito lindo este país. Um lugar que tem um céu degradê como o do Arizona, azul royal como o da Flória, azul marinho como a noite do Mississippi e azul bebê, é privilegiado. Em vez de se orgulhar de naves espaciais e aviões, os americanos deveriam olhar mais pro céu.

Thursday, June 17, 2010

Dia 140 - Sara, Theroux e um belo e estranho caminho


Desde que escrevi aqui a última vez, já passamos por Nashville, Atlanta, Savannah, Charleston e agora nos despedimos de Myrtle Beach, na Carolina do Sul. Seria difícil e, confesso, pouco prazeroso, tentar lembrar o que se passou dia-a-dia, durante minha ausência. Em vez disso, vou escrever nos próximos dias um post sobre cada uma dessas cidades e voltar à rotina de passar por aqui todos os dias.

Hoje chegamos ao 140o dia da nossa viagem. Ontem, lendo um livro do Paul Theroux, consegui encontrar eco para as angústias que encontramos pelo caminho. Ele, talvez o homem mais viajado do mundo, fala do desespero que é você passar a vida sendo um estranho. Onde quer que ele chegasse, as diferenças culturais, idiomáticas e até sensoriais se faziam tão presentes, que ele se sentia isolado. O problema é que com o passar do tempo, abarcando tantas coisas diferentes, tantos Therouxs distintos, ele passou a perceber que o sentimento de outsider já era parte de sua existência. Ele se sentia assim em casa, ao lado da família.

Abrir o coração para o mundo, abraçar as diferenças, se interessar pelo estranho é seguramente mais doloroso do que não se deixar envolver. Hoje, seguimos nos envolvendo, em gravações com brasileiros, cada um com sua história, em piadas com franceses que estavam aqui acampados, sobre a derrota pro México na Copa, num jantar num restaurante etíope. Aliás, veio de lá a maior lição. Sara, a linda senhora africana que nos antendeu, se disse fã do futebol brasileiro, contou que no país dela, sempre que nossa seleção joga as pessoas saem às ruas, em festa. Contou ainda que o que havíamos aprendido no nosso etíope do coração, na 105th, em NY, é verdade: os etíopes de fato comem com as mãos sem sujar as mãos, tarefa impossível para nós, brasileiros, mais habilidosos com os pés.

Antes de trazer a conta, Sara trouxe um papel amarelo já meio morno, com uma porção de rabiscos. Pediu que eu escrevesse "what's your name" em português e explicou que pedia o mesmo a todos os estrangeiros que provavam seu tempero. Escrevi e, logo abaixo, anoitei "comida maravilhosa, pessoas maravilhosas". Talvez Sara nunca saiba o significado do que escrevi. Talvez nem precise. A curiosidade dela, a vontade de saber do outro e a confiança de que o estranho vai se dispor a anotar ali o que lhe foi pedido, fazem de Sara uma pessoa especial. Estranha em qualquer parte do mundo e, ao mesmo tempo, acolhedora, como se o mundo todo fosse sua casa.

Tuesday, May 25, 2010

Dia 117 (25/05) - Mesa da vovó


Comer, nos Estados Unidos, não é das atividades mais deliciosas. Além de exibirem um cardápio, digamos, não muito diverso, eles levam a sério essa história de fast food. É o espírito do capitalismo, que não permite uma conversa mais comprida na mesa. Para se ter uma idéia, na maioria dos restaurantes, quando chega para oferecer a sobremesa, o garçom já traz a conta no bolso e, se a resposta for não, joga a melindrosa na mesa. Aquela coisa de passar a tarde no botequim, tão nossa, por aqui não existe. Hoje, no entanto, tive uma experiência única aqui em Nashville. Chegamos à cidade à tarde e, seguindo o guia, fomos ao restaurate Monell's, com a promessa de experimentar "uma nova tradição do sul". Era mesmo uma coisa completamente nova. Apresentando-nos a "family style", que para mim significava PF bem temperado, o garçom nos sentou na cabeceira de uma mesa comprida. Na outra ponta, uma americano gorducho se deliciava. Daí o garçom foi tirando as vasilhas do lado dele e colocando para a gente. O tal estilo família, nada mais é que o almoço de domingo na casa da vovó Penha. Uma mesa grande, bagunçada, cheia de gente falando alto e compartilhando os pratos. Uma maravilha! Aqui, você paga um preço fixo (que para mim, vegetariana, foram módicos USD 9,00) e come o que quiser. Tinha pudim de milho, galinha frita, salada de brocólis, de pepino, de ervilhas com bacon, carne assada, couve refogada, purê de batata. Incrível como uma mesa bem posta nos remete aos melhores momentos da nossa vida. Parecia que ali eu estava matando as saudades do mingau de aveia da Vovó Bininha, abraçando minha irmã, ganhando coceguinhas do tio Fernando. Ah, se os americanos soubessem!

Dia 116 (24/05) - Beale Boy King e um rei brasileiro


Hoje saímos para fazer imagens da cidade antes de gravar e resolvemos almoçar no BB King's Blue Club, na Beale Street. Não é que uma brasileira veio nos atender? Primeiro fizemos o pedido em inglês. Depois, ouvindo a gente conversar em português, Tamy perguntou de onde a gente era. Nos encantamos à primeira vista com a história de luta dessa imigrante. Aos 24 anos, ela já rodou boa parte do país trabalhando numa churrascaria. Casou-se, teve dois filhos, se separou e voltou a morar em Memphis para dar uma vida mais sossegada aos filhos. Claro que ela também aproveita. Adora trabalhar ali, conhece os melhores bares, aprendeu tudo sobre blues. Um achado. Passamos no Sun Studios, onde Elvis, Roy Orbinson, Johny Cash e muitos outros gravaram seus primeiros ábuns (na foto aí do lado, eu canto no mesmo microfone que Th King of The Rock cantava na foto atrás). De lá, ainda fomos gravar no St Judes Hospital, onde um médico brasileiro faz um trabalho lindo. Quando chegou aqui, 24 anos atrás, Dr. Raul conta que o índice de cura de crianças com câncer no Brasil era zero. Aqui, poucas se salvavam. Hoje, 94% dos casos de leucemia são curados. Orgulhoso dos resultados, ele trabalha mais. Visita países, tentando implementar o mesmo projeto. Entre eles, o Brasil, onde, no Recife, funciona um centro de referência no tratamento pediátrico da doença. Um rei, um salva-vidas, um orgulho.


Dia 115 (23/05) - The real King


Mais uma oportunidade de conhecer a história dos Estados Unidos nos foi dada hoje, no Civil Rights Museum, em Memphis. O lugar poderia ser simplesmente assustador, dar arrepios, pois foi ali que Martin Luther King foi assassinado em 1968. O hotel Lorraine poderia ser uma espécie de Sixth Floor Museus, em Dallas, onde senti um misto de calafrios e dor de barriga. Lá, em vez de contar apenas a história de vida de Dr King, a gente passeia pela bela, ainda que sofrida, luta dos negros americanos em busca de igualdade de direitos. Podemos entrar numa réplica do ônibus em que Rosa Parks decidiu não se levantar, para mudar o mundo. Vemos um bar os se faziam os seat-ins. E, sobretudo, temos uma aula de história americana. Talvez o meu maior "sacode" tenha sido justamente perceber que os americanos podem ser pessoas lindas, inteligentes, que levam, sim, a liberdade e a justiça como bandeiras. Claro, estavam lá os red necks, a KKK, e tantos movimentos que nos causam repúdio e nos fazem questionar a verdadeira essência do ser humano. Mas também estão lá heróis, anônimos ou não, que acreditavam nas pessoas, na vida, num sonho. Quando se mata um sonhador, não se mata necessariamente o sonho, dizia um deles. Daqui, continuamos com muitos sonhos e algumas realizações, mas seguros de que às vezes, uma pessoa pode mudar o destino do mundo todo.

Dia 114 (22/05) - Clarksdale


Em Clarksdale o blues foi criado. Ali, na região do Delta do Mississippi, bluseiro que se preze ou nasceu ou passou boa parte da vida. John Lee Hoocker, W.C Handy, BB King, Ike Turner, entre eles. O ator Morgan Freeman também é daqui e hoje tem dois restaurantes bacanas à beça na cidade. O Mardidi, mais arrumado, é ótima pedida para o jantar. O Ground Zero tem shows de blues, comida boa e um estilo largado com charme. Estar aqui me levou de volta às rodas de violão em Vitória, em que o Chico e o Antonio, ainda achando que mudariam o mundo, cantavam "Vampiro Doidão" como se fosse uma grande música. Estavam todos ali. Os meus amigos, mas também Muddy Waters, o maior orgulho da cidade. E o mais curioso: ontem, em Memphis, vimos um show bacana na Lewitt Shell, mas não conseguimos entender o nome do cara. Parecia algo como "Super Chicken", nome estranho demais para eu confiar apenas na minha compreensão da língua inglesa. Mas era isso mesmo, exceto pelo fato de que a grafia é Chikan, pra ficar mais chique. Pois não é que o cara é um mito entre os apreciadores de blues e estava na parede do Museu? Mais que isso: um americano almofadinha, blusa pra dentro da bermuda e mocassim, nos puxou num canto do museu e convidou: "venham comigo e finjam que são meus convidados". Chico, desconfiado, quase não foi. Eu segui. De repente estávamos numa salinha, com outras dez pessoas, num show privé do tal Super Chicken dentro do Museu. Um luxo! Mas a maior surpresa do dia foi mesmo Clarksdale. Eu imaginava uma cidade relativamente desenvolvida, grande. Que nada! O lugar parece mesmo ter saído de uma canção do Robert Johnson (aliás, fica ali a encruzilhada em que ele teria feito um pacto com o diabo); em cada esquina parece que uma guitarra chora com uma faca sendo usada no lugar do slide. Dá vontade de andar de sapato bicolor por aquelas calçadas por onde tantos gênios passaram. Da vontade de ouvir Blues Before Sunshine.

Saturday, May 22, 2010

Dia 113 (21/05) - The king is alive


Depois de uma manhã cheia de coisas a resolver, do supermercado, à tosa do Pinduca, passando pelo Fedex e o banco, finalmente fomos conhecer Graceland, a casa de Elvis Presley. Tivemos a companhia de Jane e Eddie. Ela, médica, brasileira. Ele, músico, do Tennessee. Conhecer a cidade pelos olhos de moradores é mesmo outra coisa. Eddie sabia tudo sobre Elvis e tudo sobre Graceland. Mas o mais bonito ele não descobriu em livros. Veio do coração dele a certeza de que, tantos anos depois (Elvis faria 75 anos em 2010, mas morreu com apenas 42) 600 mil pessoas vão visitar o lugar todos os anos porque Elvis é o resumo do sonho americano. Para o bem e para o mal. Ele explica: é simbólico, um orgulho viver num país onde alguém pobre como ele possa construir um império com base apena no próprio talento e em trabalho. Por outro lado, o tal sonho é nocivo na medida em que oferece ao seu dono um mundo de fantasia, onde não se sabe quem é quem, nem aonde se pode chegar.Foi especial ver aquelas salas dos anos 60, somadas ao jeito Elvis de ser, e entender que aquilo tudo é parte da formação desse povo. Elvis continua levando turistas para a cidade que tanto amou, enche os cofres americanos mesmo depois da morte. Fez da sua casa a segunda mais visitada dos Estados Unidos (perde apenas para a Casa Branca), apesar de ter buscado a vida inteira um minuto de sossego, Apenas o segundo andar é fechado ao público. Era o refúgio de Elvis, o único lugar em que ele se sentia Presley.

Para deixar registrado, fomos jantar no Rendez-Vous, lugar indicado em todos os guias, pelas famosas costelas. É muito bacana. Comi feijão com arroz, no capricho e Chico se deliciou com as ribs. Vale a pena!

Dia112 (20/05) - Rock n'Soul


A chegada a Memphis já havia sido promissora. Ontem à noite fomos à Beale Street, só mesmo porque o guia indicava. O lugar é como uma mini Bourbon, mas mais charmosa, mais elegante, se é que você me entende. Não tem aquela turma louca, andando com bebidas gigantes e coloridas nas mãos. É uma coisa mais blues. Pois hoje descobrimos a história da Beale e ela se tornou muito mais bacana. Aliás, Memphis foi um maravilhosa surpresa. No Museu Rock n'Soul, além de ouvir seis horas de música, o vistante tem lições sobre o surgimento desses ritmos. Elvis, Roy Orbinson, BB King,estão todos lá. Também estão ídolos locais que eu desconhecia, como Rufus e Carla Thomas. Oties Redding eu só conhecia pela história trágica e a voz marcante, mas hoje deu para descobrir muito mais. A região do sul do Tennessee, perto da fronteira com o Mississippi, sentiu comopoucas a tensão racial. Basta dizer que foi aqui, em 1968, que morreu Martin Luther King, assassinado no bar do hotel em que estava hospedado, logo depois de pedir que o saxofonista tocasse seu hino favorito. King estava na cidade para apoiar a greve de funcionários da limpeza urbana. Hoje o hotel virou o Museu dos Direito Civis. Fechamos a noite num bar super bacana, o Flying Saucer, que tem cervejas para todos os gostos. E fui dormir sonhando com o que Memphis me apresentaria no dia seguinte. Como é bom se apaixonar!

Dia 111 (19/05) - Judas perdeu as botas no Brazil!


A caminho de Memphis, depois de uma noite iluminada ao lado de Ryan, Lindy e família, resolvemos parar em Brazil. Isso mesmo. Existe uma Brazil no meio do Mississippi. Claro que o Ryan mandou um email para nos ajudar a achar o caminho e eu já havia olhando as instruções na internet. Até que chegamos a um lugar no meio do nada e vimos a placa. Pronto! agora vamos achar Brazil. Seguimos por quilômetros em ver uma casa com sinal de vida, um morador, nada. Até que o simpático Andrew aparece pilotando um trator. Verde e amarelo, acreditem. Paramos o motorhome ali mesmo e eu fui perguntar se ele sabia onde ficava Brazil. "This is Brazil!" Pois bem Brazil é duas curvas depois de onde o vento fez a curva, um pouco depois da casa do chapéu. Um lugar abandonado, onde vimos casas destruídas e uma queimada. Como a foto mostra, no entanto, Brazil tem um lugar para votação. Os moradores, onde quer que eles estejam, podem escolher candidatos e, se bobear, lá tem até prefeito. Andrew disse que é assim mesmo, não tem nada, e soltou uma gargalhada quando eu perguntei se tinha restaurante. Nunca na minha vida eu quis tanto ir embora do Brazil.

Friday, May 21, 2010

Dia 110 (18/05) - Se ele forem a alma do Mississippi...


...este é o estado mais rico dos Estados Unidos. Hoje conhecemos uma família americana atípica. Pelo menos não tem nada a ver com o esteriótipo do americano que não se ineteressa por outros países ou pessoas. Lindy é uma carioca de sotaque carregado que se casou com um americano e deixou tudo para trás para viver um grande amor. E para isso, nem precisou ter braço de remador, porque o Ryan já o tinha. Ele é um daqueles caras iluminados, que jamais passarão a sua frente sem mudar, pelo menos um pouquinho, a sua vida. Ryan tem sorriso aberto e um dom raríssimo: consegue olhar para tudo com amor. Assim, vai transformando o mundo. É um herói anônimo, um cara que nem precisaria ter um mundo melhor como ideal. Bastaria espalhar sua gargalhada por aí e o mundo mudaria por si só. Ryan construiu um simulador de vôo com carretéis. Ryan aprendeu português com um livrinho velho. Ryan disse que eu estava salvando uma vida apenas porque dei uns minutos de atenção a um menino da pobre Forchard Street. Ryan tem pais que viveram na pele o auge do racismo, na década de 60, mas diz que as pessoas têm de "morar juntas", se conhecer, para saber que toda raça tem contrubuições e, por isso, não devem se pensar isoladamente. Conhecer o Ryan e a maravilhosa família dele foi uma alegria. Do mesmo jeito que cidades podem se assemelhar a pessoas, algumas pessoas podem fazer uma cidade. Por causa deles, Jackson se tornou uma cidade inesquecivel.

Wednesday, May 19, 2010

Dia 109 (17/05) - Um problema pesadíssimo


Não foi à toa que resolvemos falar de obesidade aqui, no Mississippi. O estado é o que tem o maior índice de obesos nos já obesos Estados Unidos. Por aqui, 32% estão nessa situação e quase 80% têm sobrepeso. É assustador para nós, brasileiros, ver tanta gente se entregando a um problema de saúde tão grave. O prejuízo para os cofres do estado é tanto, que muito se tem investido em pesquisa. Hoje entrevistamos dois brasileiros que se dedicam a descobrir as relações entre obesidade, pressão alta e diabetes. Tentam isolar um tal hormônio chamado leptina para ver no que ele contribui para a obesidade. Alexandre e Jussara nos deram uma idéia do perigo que é conviver com o problema e nos mostraram mais um pouco da vida em Austin. Ele a classificou como uma grande Itaú de Minas, cidade do interior do Brasil de onde ele vem. Ela disse estar bem feliz aqui, apesar da violência. O Mississippi tem a menor renda per capita do país, o pior sistema de saúde, o maior índice de obesidade. E ainda coleciona desafios, como combater o racismo. Um tema para o post de amanhã.

Dias 107 e 108 (15 e 16/05) - Como é bom ficar assim


Fim de semana em Jackson, não adianta inventar, não há muito o que fazer. Nós resolvemos passear pela cidade e fazer compras. Tentamos ir ao High Noon, um vegetariano bacana, indicado pelo Maurício, que está numa mini, mas completíssima road trip. Pena que estava fechado e só fizemos compras no mercadinho do Rainbow. Também fomos a um bom restaurante, Julep, onde um simpático garçom nos fez uma lista dos melhores restaurantes da cidade. O interesse dele pela nossa mesa não veio dos meus belos olhos ou da generosa barba do Chico. Ele viu que chegamos num carro com a bandeira do Brasil e quis nos contar que estava na faixa azul no Jiu-Jitsu. Pois é. Aqui no Mississippi, Ronaldinho é desconhecido, mas a família Grayce reina. Já é a segunda pessoa que se aproxima da gente falando deles, dizendo que é fã, mandando abraços. Há mais coisas divulgando o nosso país do que se imagina. Ainda vimos o fraquíssimo "Letters to Juliet" (o que é que eu esperava)? Era só o que tinha no cinema. Juro.


Dia 106 (14/05) - Para quem achava que co Pavão Azul era pé sujo...


Depois de passar o dia no camping fechando texto, resolvemos sair em busca do que o guia nos mostrava ser o melhor de Jackson. Entre as "mil coisas para se fazer antes de morrer nos Estados Unidos e Canadá", estava comer um hamburger do Stamp's Burgers, na capital do Mississippi. Chico procurou os endereços na internet e achou dois diferentes, um deles era o mesmo de um tal Cool Al's, "o melhor hamburger vegetariano da cidade", seguindo algum site. Colocamos esse endereço e não vimos o tal do Stamp's Burgers. Decidimos, então, seguir para o outro. Foi quando nos deparamos com um lado estranho da cidade: ruas escuras, uma mulher bêbada se jogando na frente do carro, e o tal Stamp's, que mais parecia a parada de um trem fantasma. Decidida, disse ao Chico, "vamos assim mesmo". Mais decidido ainda, ele disse, "vamos embora já"! Resolvemos, então, tentar novamente o tal Cool Al's. O lugar é um pé imundo, sem exagero algum, no coração da vizinhança negra do Mississippi. Até eu, escoladíssima depois de um ano de Harlem, achei que estavam me olhando torto demais. De toda, forma, valeu a aventura. Comi batatas doces fritas, completamente diferetes de tudo o que já haia provado, e um delicioso e imenso hamburger vegetariano, com direito a fatia de abacaxi, para me deixar cheia de saudades do Cervantes.


Friday, May 14, 2010

Dia 105 (13/05) - Mais uma capital


A viagem de Biloxi a Jackon deveia ser uma das mais curtas que já fizemos: apenas três horas. O problema é que o gps nos mandou pelo caminho mais curto, evitando highways, mas pegando um bocado de sinais e pistas de baixa velocidade. Demoramos mais de quatro horas. Em compensação, vimos um estado que as auto-estradas escondem. Casinhas pequeninas, florestas e lagos, muitos lagos. Chegando a Jackson, num camping simples, mas à beira de um deles. Uma paisagem linda (na foto ao lado, estamos nele, com Chico fazendo um amigo). À noite, a grande surpresa: numa cidade perto daqui estava em cartaz "Babies", um documentário que estava sendo anunciado quando ainda estávamos em Dallas (quanto tempo faz, meu Deus?). Em filmão, inspirador para quem busca o mundo, para quem está viajando, para quem está filmando, para quem gosta de boas histórias, para quem gosta de desafios. Com planos lindíssimos, o diretor Thomas mostra o primeiro ano de vida de bebês na Namíbia, na Mongólia, em São Francisco e em Tóquio. Sem entrevistas, sem narração, apenas com aqueles grunhidos tão cheios de significados que só os bebês têm, o filme retrata realidades diferentes sem arrogância, mas indo direto ao nosso coração. Recomendo.

Dia 104 (12/05) - Biloxi e Maurília


Calvino continua puxando meu tapete. Quando fala de Maurília, em "As cidades Invisíveis", ele descreve Biloxi, a cidade a que chegamos hoje. Às vezes parece que ele está conosco, na estrada, descobrindo este país tão rico e contraditório. O Mississippi é o estado mais pobre daqui, com o menos nível de educação dos moradores e o maior índice de obesidade. Sofreu com o Katrina, agora sofre com o vazamento de petróleo e, o mais maluco, é uma terra tão desgraçada que nem como tal é lembrada. Quando a gente pensa no Katrina, fala a verdade, vem à cabeça New Orleans. Nessa história do vazamento até a Flórida está sendo citada, mas o pobre MIss, coitado! Biloxi já foi a terceira cidade do estado. Caiu para a quarta posição depois dos danos causados pelo furacão. Passamos por algumas áreas atingidas e, de mansões, sobrava apenas o piso. Às vezes uma única coluna do que havia sido um quarto resplandecia. Uma dor. Conversamos aqui com dois brasileiros que viveram isso e foram categóricos: não é um estado bom para os imigrantes. Falta emprego, sobra ignorância. Mas a tal Maurília, de Calvino, me lembrou Biloxi por outro motivo. Ele fala de uma cidade substituída por outra, com o mesmo nome. De colinização francesa, Biloxi já foi uma New Orleans. Os casarões, coretos, tudo o que permeava a minha imaginação por causa dessa referência, virou uma sucessão de cassinos. Uma tentativa de Las Vegas. Apenas um velho farol, em frente à praia de areias brancas, lembra que deuses deviam morar ali. Hoje, são deuses desconhecidos, que talvez tenham tirado umas férias de lá e ido passar uma temporada ou em Las Vegas, ou em alguma praia paradisíaca. Bem longe dali.


Tuesday, May 11, 2010

Dia 103 (11/05) - Por que precisamos dos gênios?


Quando a gente passa por muita coisa ao mesmo tempo, há que buscar maneiras de organizar pelo menos uma parte delas dentro da alma, ou a gente enlouquece. À beira de me dizer Napoleão, corri paraantigas e eficientes alternativas. Voltei a meditar de manhã, correr, fazer uma série curtinha de exercícios debruçada no RV mesmo (feito aqueles de revista feminina que a gente não usa na academia, e que sempre achei que não serviam para nada, até descobrir que eles são feitos para pessoas que moram em RVs e não conseguem ir a academias saindo de uma cidade para a outra) e, por fim, ouvir meu "Triplo mantra". E, poucos dias, já me sinto, se não mais organizada, mais blindada em relação às inconveniências que vinham insistindo em bater à minha porta.

Eu só havia esquecido que existe uma outra tática anímico-organizadora tão poderosa quanto o desgaste físico: a leitura. Já fazia mais de um mês que estava agarrada na biografia do Louis Armstrong, "Pops", um livro maravilhoso, mas excessivamente rico. É o problema da biografia. Ao mesmo tempo que tem a beleza de fazer você compreender o outro, é meio chato para que não lê Contigo ficar um tempão se ocupando em saber tudo da vida de alguém. Daí, ontem, passei para "As Cidades Invisíveis", do Ítalo Calvino. Dele eu só havia lido "O visconde partido ao meio" e " O cavaleiro inexistente". As duas obras-primas, aliadas à história de vida do autor, já me faziam colocá-lo no meu pequeno altar de gênios. Ontem, ele me surpreendeu. Vi como ler faz falta para escrever melhor. Como a visão do gênio nos é necessária no processo de tentar entender o novo! Falando de Anastácia, ele parecia definir Las Vegas:

"A cidade aparece como um todo no qual nenhum desejo é desperdiçado e do qual você faz parte, e, uma vez que aqui se goza tudo o que não se goza em outro lugares, não resta nada além de residir nesse desejo e se satisfazer. Anastácia, cidade enganosa, tem um poder, que às vezes se diz maligno e outras vezes benigno: se você trabalha oito horas por dia como minerador de ágatas ônix crisóprasos, a fadiga que dá forma aos seus desejos toma dos seus desejos a sua forma, e você acha que está se divertindo em Anastácia quando não passa de seu escravo."

Falando de Zaíra poetisava minha última paixão, Nova Orleans:

"A cidade se embebe como uma esponja dessa onda que reflui das recordações e se dilata. Uma descrição de Zaíra como é atualmente deveria conter todo o passado de Zaíra. Mas a cidade não conta o seu passado, ela o contém como as linhas da mão, escrito nos ângulos das ruas, nas grades das janelas, nos corrimãos das escadas, nas antenas dos para-raios, nos mastros das bandeiras, cada segmento riscado por arranhões, serradelas, entalhes, esfoladuras."

Quisera eu ter dito que a cidade contém seu passado, como as linhas da mão!

Pois bem, hoje chegamos a mais um novo estado. O MIssissippi. Biloxi é bem menos inspiradora que Nova Orleans. Hoje mesmo, uma mulher (tudo bem que a placa do RV dela era do Texas...) gritou comigo pela janela do RV que eu tirasse o meu gato de perto da caminhonete dela. Hein? Quem no mundo se incomoda com uma gata vira-lata linda, andando calmamente numa coleira? É, meus amigos, estamos de volta à América. Quem sabe com o olhar de Cavino pousado no meu ombro, eu consiga tirar daqui alguma inspiração.

Monday, May 10, 2010

Dia 102 (10/05) - Eu e o vovô


Anteontem escrevi aqui falando dos cds que havia comprado numa loja local. Coisas maravilhosas e, entre elas, Grandpa Elliot, aquele senhorzinho que tocava nas ruas de New Orleans, foi descoberto após um vídeo do Playing for change cair no Youtube e ter mihões de acessos. Amigos de NY chegaram a ir a um show dele; um simplesmente adorei o cd. Pois hoje, que surpresa. Enquanto filmávamos na esquina da Royal com a Toulousse, Chico disse: não é o Grandpa Elliot ali? E era. Assim mesmo, como aparece nas fotos do disco, como a gente viu no vídeo. Pensei um monte de coisas. Primeiro, a frustração de saber que o cara não virou uma mega estrela depois daquilo e continuava na mesma esquininha da sua cidade natal. Depois, a realização e imaginar que, ser um artista de rua em New Orleans não tem nada de indigno e deve ser motivo de orgulho para muita gente. Bom mesmo foi ver que o cara, velhinho, com um cd gravado e um vozeirão, estava feliz, curioso para saber de que faixa eu mais tinha gostado. Tive que dizer, quase em tom de conselho, "Let it shine", Grandpa.

Sunday, May 9, 2010

Dia 101 (09/05) - Jardins cinzas


Seguindo mais conselhos do Bob, tivemos mais um dia de "local" aqui em Nova Orleans. Começou com um almoço ao som do Some like it hot, no Buffa's. O que mais me impressionou, no início, foi que a maioria dos integrantes da banda era mulher. Depois, fiquei surpresa com meu próprio chororô diante de um rapaz negro que estava em uma das mesas e levanto para cantar. Um só música e ele roubou a cena. Chico, que esta lendo A história social do jazz, disse que o Hobsbawn diz que o pior baterista negro era mil vezes melhor que o melhor entre os brancos europeus. Nos perguntamos por que, e respondi na hora: deve ser por isso; estou chorando com o cara. É a emoção. E Chico disse que também era assim que o historiador explicava: o jazz e a música da emoção.

Nosso dia ainda teria outras polêmicas. Vimos, no teatro, Grey Gardens. Sempre quis ver a peça porque não entendia como alguém poderia montar um documentário, ainda mais um tão duro e triste como esse dos irmãos Maysles. A resposta está na pobreza da montagem, que faz graça da desgraça dos outros. Triste é ver o pessoal sari do teatro como entrou, depois de uma história que, bem contada, é capaz de mudar vidas. Não sei qual foi a reação dos irmãos à adaptação, mas a minha foi a pior possível. Só serviu mesmo para a gente ter um debate rico na hora do café com pralines, sobre o papel do documentarista, do jornalista, do antropólogo. Bem, tudo sempre serve para alguma coisa...


Saturday, May 8, 2010

Dia 100 (08/05) - A todo vapor


Hoje a gente comemorou os cem dias sem saber que era dia de festa. Decidimos deixar a câmera em casa e fazer um passeio com o Natchez, o famoso barco a vapor que atravessa o Rio Mississippi. Foi o momento mais turístico desses dez dias em Nova Orleans, mas foi um dos que mais valeram a pena. Tomar uma cerveja Abita vendo aquela linda paisagem, num dia de sol forte, mas não quente demais e, o mais importante, sem compromissos, foi maravilhoso. Saímos de lá e passamos na Music Factory, uma maravilhosa loja de cds locais, onde deixamos boa parte do nosso salário, por ótimas causas. Trouxemos para casa dois cds da Margie Perez, minha nova fixação, Grandpa Elliot, Allen Toussaint e Elvis Costello, Blu Lu Barker (que eu nem sabia que existia em cd) e até um dvd dos shows do Ray Charles no Brazil, em 1963. Entre outras coisas. Ainda deu tempo de passear pelo French Quarter, comprar lembrancinhas, provar deliciosas pralines e voltar feliz pro camping.

Dia 99 (07/05) - Frenchmen Street

Para quem acha que a Bourbon Street ficou turística demais (eu, inclusive) a Frenchmen Street é feita sob medida. Cheia de artistas de primeira, tocando em bares que se acumulam, ou mesmo no meio da rua, é o melhor lugar para aproveitar a noite da cidade. Ontem, vimos uma banda ótima, Tuba skinny, tocando de graça. Depois, uma menina de uns 17 anos arrebentando no trombone. Uma rua charmosa, que tem ainda o Praline Connection, um restaurante de comida típica com gosto de casa da vovó. Deve ser a primeira parada de qualquer apaixonado por música e boa mesa.

Dia 98 (06/05) - Bob e Zydeco


Demos uma sorte danada ao encontrar Bob Freeland no nosso caminho. O nome americano esconde um brasileiro cheio de histórias. Filho e um americano e uma brasileira, nascido em São Paulo, ele morou no Panamá, em Lima, em São Paulo, Rio... Enfim, em dez cidades diferentes. E foi New Orleans que ele escolheu para chamar de casa depois da aposentadoria. E foi aí que ele começou uma nova vida. Deixou de lado a empresa de cartões de crédito para dar aulas de história e virar guia de turismo. Durante um dia, ele foi o nosso guia. E ver a cidade pelos olhos de uma pessoa tão apaixonada foi maravilhoso, nos deixou ainda mais apaixonados. Passeamos pelo French Quarter, comemos um Gumbo delicioso, visitamos o convento das Ursolinas, e ele ainda nos deu dicas para depois do passeio. Fomos ao Rock and Bowl, uma casa de shows aberta desde 1941, que já recebeu estrelas da música daqui. Hoje era dia de zydeco, uma espécie de forróblues. Instrumentos eletrônicos, sanfona, reco-reco. Juntos, trouxeram um som único, que fez a gente se acabar de dançar.

Dias 96 e 97 (04 e 05/05) - A Nova Orleans reconstruída


Depois de um dia pesadíssimo ontem, passamos dois dias indo e vindo pela Nova Orleans já inteira. na área turística da cidade, o French Quarter, tudo já está bonito, reconstruído, quiçá melhor que antes. Ainda assim é estranho imaginar que o aquário central perdeu todos os peixes porque não havia luz.

Passando o susto, é possível aproveitar e muito as belas construções dessa cidade que já foi da Espanha, da França, dos Estados Unidos, claro, e sempre será dos africanos. Na culinária rica, na arquitetura charmosa, na música diversa, Nova Orleans é única. Talvez seja a menos americana das cidades por onde passamos. O que pode ser uma alegria e tanto.

Longe dali, em Kenner, também conhecemos Greyce, um brasileiro que veio para cá depois do furacão. Pois é, a cidade que tinha mais de 500 mil habitantes viu esse número cair pela metade, mas a comunidade brasileira só cresceu. Foram trabalhadores de todo canto, vindo ajudar na reconstrução.

Dia 95 (03/05) - Somos iguais em desgraça


Desde o festival venho pensando que New Orleans é, de longe, a cidade americana mais parecia com o Brasil. Antes de mais nada, pela gente. São pessoas singularmente felizes, apaixonadas pelas próprias raízes. Gostam da música que fazem, da comida que preparam, brindam às próprias tradições. Também saber ser felizes, sabem atropelar os pesares, sabem trabalhar menos quando necessário. Claro, não estou falando de todos, mas da índole do povo, da energia que se sente cá e lá. Mas hoje, gravando no 9th Ward, tive a triste percepção de que somos parecidos também em coisas ruins. A área, baixa, foi a mais atingida pelo furacão Katrina, 5 anos atrás. O dinheiro para a reconstrução não chegou às mãos de boa parte das famílias e a força dos voluntários e das ongs, naturalmente, não foi suficiente para reconstruir a área, que mais parece uma cidade fantasma. casas abandondas, índices de violência altíssimos, miséria. Vimos operários tirando entulho de uma casa, 5 anos depois. Um deles me disse"onde está o governo? Nã sabemos dele e ele não sabe da gente". Vimos um homem numa cadeira de rodas morando de favor com amigos, 5 anos depois. Vimos lama dentro das casas, 5 anos depois. E lá, mais uma vez, nos demos conta das nossas semelhanças. No meio de tudo isso, os tais operários riam alto, empurrando uns aos outros para a frente das câmeras, fazendo terríveis piadas homofóbicas e racistas, sendo felizes, no meio de tudo isso. Cinco anos depois.

Dias 92, 93 e 94 (30/04, 01 e 02/05) - Festival de Jazz


Nos nosso três primeiros dias em New Orleans, realizamos um sonho atrás do outro. Das 11 da manhã às 7 da noite, sexta, sábado e domingo, ouvimos música boa. De ídolos antigos, como Jeff Back, Pete Fountain, Earth Wind and Fire, Ellis Marsalis, Take 6 a novidades incríveis, como Margie Perez, de quem virei fã de carteirinha. O festival é organizado, tem banquinhas com comidas típicas (aqui Mc Donalds não passa nem perto) e resume muito da rica cultura de New Orleans: música de primeira, comida boa e gente feliz.

Dia 91 (29/04) - Putz!


Quando a gente imagina que já passou por tudo nessa estrada maluca, a chegada Nova Orleans nos puxou o tapete. Primeiro porque nos deparamos com paisagens terríveis. Passando pela área leste da cidade, parecia que uma bomba atômica tinha acabado de atravessar o caminho desta esperada cidade do sul. Chegamos ao camping, no meio desta região, e fomos recebidos por uma chinesa que não falava inglês com pinta de serial killer, coberta de pingos de tinta branca, que provavelmente ela usou pra ocultar sua última vítima. A distinta louca deu um envelope pro Chico e começou a dizer; "money, money". O tal camping onde a gente ficaria não tinha portão e era um terreno baldio mais mal cuidado que um terreno baldio de verdade. Fui pedir referência ao único grupo de pessoas ali dentro e quando me dei conta, era três bêbados. Entramos no motorhome, determinados a sair correndo dali, mas, sem endereço, paramos no portão à espera de uma luz da produção. Bow, bow, bow. Um gordo com cara de açogueiro de filme dos irmãos Coen bateu à porta ordenando que a gente saísse dali imediatamente. Depois desse passeio pelo trem fantasma, conseguimos parar em outro lugar, mais seguro e longe dali. E para descansar, fomos para a Bourbon Street, comer ostras e tomar uma Abita na The Bourbon House. Ufa!

Dias 89 e 90 (27 e 28/04) - A caminho da terra dos sonhos


Para chegar a New Orleans saindo de Miami são mais ou menos 13 hora num carro comum. No nosso, você já sabe. Por isso fizemos a viagem em dois dias. Primeiro, seguimos até a capital da Flórida, Tallahassee. Uma das nossas maiores diversões nesse trajeto foi tentar descobrir o motivo pelo qual os motoristas paraddos pela polícia estavam sendo advertidos. Era tanta gente sendo parada, que a curiosidade se tornava inevitável. Dormimo num camping ok para pegar a estrada novamente no dia seguinte.

Tuesday, April 27, 2010

Surpresas no caminho

Tem dias em que nada de especial acontece; a gente não grava, não entrevista ninguém, e ainda assim aprende um bocado. Hoje foi um deles. Chegamos a Miami de manhã cedo, mas passamos uma hora na imigração. Pegamos um shuttle sozinhos e rapidinho estávamos na oficina onde deixamos o carro e o Rv para fazerem a revisão. A primeira surpresa veio logo depois, quando chegamos ao camping e vimos o carro todo sujo, as coisas caídas no chão. Sim, americanos fazem essas coisas. O serviço ficou bem feito, os carros bem mais ajeitadinhos, mas o capricho ganhou nota zero. A segunda surpresa veio em seguida, quando fomos buscar a câmera no conserto. Fomos recebidos por uma dupla que nada tinha a ver com o esteriótipo (que tatas vezes confirmamos ao longo da estrada) do americano que pouco se interessa por outras culturas. Queriam saber absolutamente tudo sobre o Brasil e, mais que isso, sobre nossa vida, como brasileiros vivendo na casa deles. No final, estávamos todos encantados: nós, com a curiosidade deles; eles, com a nossa coragem. A aventura, aliás, continua amanhã, quando seguimos para Tallahassee, capital da Flórida e nossa primeira parada rumo ao Festival de Jazz de New Orleans.

Sunday, April 25, 2010

Alma de pomba

A semana perto da família e longe demais de tudo ainda não foi suficiente para organizar as prateleiras. A imagem, meio Dalai Lama, meio Rubem Braga, é coisa do Chico para definir minha personalidade abarcadora e, ao mesmo tempo, complexa. Feito passarinho que, tão afoito para fazer um ninho, esquece de pôr o ovo. Meu guru, em NY, dizia que eu tenho tanta energia que preciso fazer exerícios e meditar diariamente, para que as coisas não explodam dentro de mim. Maneco, o astrólogo-bruxo que fez meu tardio primeiro mapa astral disse que eu sou uma usina gerenciada por um general prussiano. Assim vou seguindo, atropelando experiências, tentando meu enriquecer com cada uma delas e, involuntariamente, crescendo, de fato. A Mila do começo do ano já não se parece com aquela que vi hoje no espelho. Uma semana não bastou para dizer o que mudou. Mas mudou tanto... Ver um novo país, aprender com tantas histórias, conhecer num dia uma que casou com um índio e no outro voar de avião, ao mesmo tempo em que se dirige um caminhão puxando um carro. Às vezes acho que é demais e que serão necessários muitos anos para absorver toda a grandiosidade dessa experiência. Às vezes acho que a riqueza maior de tudo isso vai ser descobrir Milas novas a cada dia. Lembro da linda deifinição de complexidade de Simmel, para quem o indivíduo se tornava mais complexo à medida que se relacionava com mais redes sociais. Me tornei, então, um labirinto de barbante. Talvez more aí a maior conquista que tantas caminhadas têm me dado: a descoberta da liberdade. Poder me saber eu e me aceitar eu, no meio de tantas possibilidades, tantos contrastes, tantas vidas, é uma riqueza que jamais sala de aula alguma me daria. Liberdade que hoje defino como gosto de viver. Talvez quando as prateleiras estiverem mais organizadas, eu consiga encontrar minha caixinha de música e ver para que lado a bailarina dança. E ao som de que canção.

Tuesday, April 20, 2010

Mais Planetas

Semana de break no Brasil. Vou dar uma folga dos posts pra aproveitar a família. Enquanto isso, mis uns programas que já foram ao ar!

Napa Valley
bloco 1: http://www.youtube.com/watch?v=e6LdMR8aSaw
bloco 2: http://www.youtube.com/watch?v=7XN7vBVwc_M
bloco 3: http://www.youtube.com/watch?v=dMF_9GeXgKg

San Francisco
bloco 1: http://www.youtube.com/watch?v=YxUTIq0vql0
bloco 2: http://www.youtube.com/watch?v=EeKcgnPpG-Q
bloco 3: http://www.youtube.com/watch?v=0oWRdiEFxnU

San Diego
bloco 1: http://www.youtube.com/watch?v=RIMr0NX-Rzc
bloco 2:
bloco 3: http://www.youtube.com/watch?v=Psc6RVzhCy4

Thursday, April 15, 2010

Dias 75 e 76 (13 e 14/02) - Dois dias sem nada pra contar!

Pela primeira vez desde o início da nossa aventura, passamos dois dias sem nada para contar. Fiquei enfurnada no motorhome decupando, tentando fechar o máximo de textos que conseguisse. O problema é que parece que as pessoas descobrem e danam a te telefonar. Por isso não conseguimos escapar para dar uma voltinha na praia, conhecer a cidade, nada. O máximo foi dar uma escapadinha para um almoço e uma cervejinha na praia de Fort Lauderdale com Aline. E, claro, para comprar algumas das várias encomendas que temos de levar pro Brasil. Já é segunda! Pelo menos tem isso para contar!

Monday, April 12, 2010

Dia 74 (12/02) - Só para baixinhos


Quando vi a Xuxa pela primeira vez, uns sete ou oito anos atrás, era Criança Esperança, em São Paulo. Eu saí do Rio sabendo que iria entrevistá-la e, confesso, preparada para me indispor. O problema é que quando ela entrou na sala, vi um clarão. A moça parece que tem luz própria. Desde então, passei a defendê-la, arrumando briga com uma porção de amigos. Não é que eu seja fã e, na verdade, nem fui uma baixinha muito afoita. Meu pai me empurrava coisas mais maduras, me obrigando a números meio patéticos, como "Da janela lateral" (não lembro o nome certo, mas pelo primeiro verso, todo mundo reconhece), apresentada todo fim de semana para os amigos. Hoje acho engraçado. Foi esquisito ouvir a opinião da Xuxa sobre imigração, mas reconfortante ver que até ela, do alto daquela nave espacial onde nem Praga, nem Dengue, nem eu entrávamos, se sente impactada pela realidade de quem vive longe de casa, passando por dificuldades que não alcançam rainhas.

Dia 73 (11/02) - Mais uma despedida chaaaaata


Fico feliz pelos dois dias que passamos em Cancún, mas ah! Como eu queria que fossem duas semanas! Não só pelo mar azul, a areia branca, os deliciosos burritos envolvidos por margaritas. É que Cancún foi simbólica por representar a primeira pausa desde o início dessa aventura maluca. Pela primeira vez, a gente saiu do roteiro, pegou um avião e não levou a câmera a tira-colo. Isso me fez um bem que nem sei. Hoje, mais uma vez, passamos o dia na praia e ficou ainda mais claro como somos parecidos com os mexicanos. Semana passada, em Orlando, um entrevistado que viajou toda a América Latina de carro me disse que, o que percebeu, era que os povos se uniam pela tolerância a regimes socialistas. Não acho que seja isso. Acho que a gente se une na paixão pelo outro. Como nós, os mexicanos querem saber sua história, se interessam pelas suas diferenças, pelos seus problemas. Na chegada ao hotel, um me perguntou como estava o Rio, depois de tanta chuva. Outro abriu um sorriso quando nos ouviu falando português e correu para dizer que conhecia Rio e São Paulo. À noite, no jantar, o garçon batucou na mesa para dizer como amava o nosso país. Claro que com tudo isso percebo, cada vez mais, que o Brasil é o país do presente. E que os mexicanos de coração bom são bem-vindos na nossa festa.


Dia 72 (10/02) - Não qualquer azul azul


Quando cheguei a Cancún, o Caetano Veloso parecia berrar "Rumba Azul" no meu ouvido. "À la Rumba Azul, vamos!". Tudo na cidade é azul e de um azul quqase inexistente, que já não há. "Azul que é pura memória de algum lugar". Desculpem pelas citações, mas elas não vão parar até o fim deste post. É que ver poesia assim, na sua frente, pisar em poesia, se banhar em poesia, sentir cheiro de poesia, deixa a gente mesmo meio romântico. Lembrei também do Gil, com "não qualquer azul, azul, de qualquer céu, qualquer dia, o azul de qualquer poesia, de samba tirado em vão". Foi mal, Gil, mas este azul não é apenas o "que a gente fita no azul do mar da Bahia" (que, aliás, pra mim tá mais pra verde), mas o azul do caribe mexicano. Pensei que fosse coisa de photoshop. Nada disso. Como diz a Dany, parece que tem uma luz vinda da areia, é uma coisa meio sobrenatural. Chegamos cansados, depois de um sono curto, mas ficamos o dia inteiro esticados na areia, com pausas apenas para um mergulho na piscina. Ops, no mar. É que mar mais azul que piscina eu nunca tinha visto. Nada melhor que, no meio de tanta turbul6encia, encontrar "um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar".


Dia 71 (09/04) - Miami e até loguinho


Não sei o que pensar de mim quando tiver filhos. Já ouvi de muita gente que ter animais é um ótimo treinamento para a maternidade. Se for verdade, os meus rebentos vão ser insuportavelmente mimados. Deus me ajude a melhorar até lá. Tudo isso é porque amanhã vamos para Cancun, passar o fim de semana. Sempre quis conhecer qualquer lugar do Caribe, ver se aquele mar das fotos existe mesmo de verdade. A questão é que, para isso, Pinduca e Dindi tiveram de ficar por aqui. Uma amiga me recomendou uma moça ótima. Ela trabalha numa pet shop, entende tudo de animais, tem um apartamento ótimo, com jardim e até um lago na frente e uma filha de onze anos fofa, apaixonada por bichos. Poderia ser mais perfeita? Pois mesmo assim, deixei os dois com o coração partido. É um misto de saudade e da dor de saber que eles não são meus e não dependem de mim para sobreviver. O maior egoísmo do mundo, eu sei, mas fazer o que? O amor é assim.


Dia 70 (08/04) - Companheiros de camping

Hoje passamos o dia com o Seu Roberto, uma figuraça de Orlando. Aos 77 anos, ele montou na garagem de casa uma redação de jornal. Detalhe. O repórter, o diagramador e até mesmo o gráfico são a mesma pessoa. Ele. Ah! E Seu Roberto ainda distribui os jornais pelo comércio brasileiro em Orlando.

Voltei para casa para decupar mais, escrever mais e, já exausta, seguir para mais uma gravação, que não estava programada. É que outro dia eu estava na recepção do camping quando um senhor me abordou perguntando se eu era brasileira. Disse que sim e ele falou que a mulher dele também era, e que eles ocupavam a vaga 301. Maria e Robert têm um coach, um ônibus gigante, mega confortável, todo pimpão. Ele era diretor do World Series of Pooker, eles tinham uma mansão linda em Las Vegas, mas resolveram trocar a banheira de hidromassagem e o closet por uma vida de aventuras. Confessaram que é difícil, dura, cheia de sobressaltos, mas nos fizeram ressaltar as compensações (coisa tão importante hoje, quando vivo um momento de mais ódio que amor com essa casa ambulante). Para se ter uma idéia, eles estão há dois anos e meio de um lado pro outro, sem voltar para casa. Aliás, eles chegaram a voltar a Vegas, mas decidiram dormir no coach.

Dia 69 (07/04) - Caldo de cana do Mickey


Orlando é um lugar meio diferente. Uma cidade com clima de Brasil e astral de Las Vegas. Bem diferente. Não dá para esperar outra coisa de um lugar que cresceu ao redor de um castelo de sonhos. A Disney é mesmo o motor da vida por aqui, por isso para quem não gosta muito de parques de diversões não há muito o que fazer. Eu até que sou bem chegada a uma monta-russa, mas com tanto trabalho, só de pensar em enfrentar fila debaixo do sol fiquei com dor de cabeça. Achei melhor ir até o International Blvd, à procura dos brasileiros que lá se concentram. Foi maravilhoso perceber o resultado do programa: onde a gente entrava, o pessoal gritava: "Planeta Brasil, não acredito!" Legal demais. E ainda sobrou tempo para um caldo de cana com pastel de feira na padaria! Mas o Oscar do momento mais engraçado do dia vai para o repórter que foi nos entrevistar no camping e disse: "meu Deus, é mesmo verdade? achei que fosse caô de televisão, que vocês viessem de avião e um motorista guiasse o RV! E que tivesse um trailer de apoio atrás"! Hahaha! Bem-vindo ao nosso mundo!


Dia 68 (06/04) - Asas do desejo


A vida no RV certamente já nos transformou. A gente percebe isso vez por outra, em alguma situações do dia-a-dia em que nos comportaríamos de forma diferente. Como outro dia, quando percebemos que haviam batido no carro. Em condições normais de temperatura e pressão, isso, no mínimo, estragaria o dia. A gente nem se lembrou de contar isso para as mães, na hora sagrada do telefone. Minha mãe, aliás, se decepcionou quando me contou, toda animada, que um amigo nosso havia tirado a barba e eu disse: bacana. Ela: como assim, só bacana? É que é tanta coisa acontecendo, se modificando na nossa frente, que fica difícil perceber algumas pequenices. Mesmo queelas não sejam tão pequenas assim. Tudo isso, na verdade, é para contar que hoje a gente pilotou um avião. É esse aí, da foto, bonitinho que só. Chico assumiu o "volante" por mais de vinte minutos, e passou até por turbulências. Minha participação foi mais tímida, mas não menos divertida. Saí com a sensação de que, depois de pilotar RV, lavar encanamento de esgoto e montar o reboque do carro, ninguém me pega!


Dia 67 (05/04) - Pensacola- Orlando

Era o trecho mais longo da compridíssima viagem entre Austin e Orlando, mas esse nosso novo método de revezar a direção ajudou muito. Ainda assim, passar nove horas dentro de um motorhome, com uma gata maluca e um cachorro carente, é fogo. O lado bom é que na Flórida encontramos as melhores estradas até agora. É o primeiro estado onde todas as rest areas estão abertas, com banheiros limpos e até segurança à noite. Chegamos à Orlando já anoitecendo, mas tranquilos.

Dia 66 (04/04) - Praia nova


O guia dizia que Pensacola já valia a pena, mas cheios de disposição e já calejados a pegar horas de estrada, resolvemos nos arriscar. Passamos por quase todas as praias de Pendhandle até parar em Santa Rosa Beach, praia de areia branca feito talco, águas agitadas, mas possíveis, e alguns banhistas animados. Duas horas por lá e decidimos nos arriscar até o Grayton Beach State Park, segundo o guia, uma das mais belas praias do país. A meção não é exagero. Entre um imenso lago, cercado de árvores, e o mar azul, se espreme uma faixa de dunas branquinhas e intocadas (a gente tem que atravessá-las por pontes, infelizmente). Fossem os americanos um pouquinho mais brasileiros e a gente pudesse sentir a areia nos pés, teria sido perfeito. O jeito foi se contentar com o quase e fechar o fim de semana perfeito no parte permitida da areia, já bonita demais.


Dia 65 (03/04) - Fim de semana de sossego


Os dias têm sido puxados à beça desde que nossa aventura começou e quem acompanha o blog já deve ter percebido como reclamo! Pois esse fim de semana foi o que a gente pediu a Deus. Na Flórida, alta temporada é no inverno, quando nos outros estados a neve reina e no sunshine state, bem, você já sabe. Por isso nessa época, as praias estão mais tranquilas e a gente pode aproveitar de verdade. Parecia uma tarde em Guarapari, fora de estação. Cervejinha na areia, mar calmo, água transparente e um sol meio morno, delicioso. Fomo à Pensacola, numa parte chamada Quiet Waters, que parece uma piscina, como o nome diz.

Dia 64 (02/04) - Lake Charles - Pensacola


A gente sinceramente não havia se programado para atravessar quatro estados em um único dia. Quando vi o nosso trajeto pelo google maps não me dei conta! De repente, saíamos da Louisiana para o Mississipi. Depois, do nada, surgiu o Alabama. Finalmente, nosso destino, a Flórida. Apesar disso, a viagem não foi das mais longas. Dirou apenas sete horas. Nossa, como essa viagem está me deixando Poliana! Para não dizer que estou otimista demais, quando chegamos ao camping, um enxame de muriçocas veio nos dar as boas-vindas. Fui dormir toda inchada. Pelo menos aprendi a falar muriçoca em inglês.


Dia 63 (01/04) - Austin - Lake Charles


Pela primeira vez a gente deixa uma cidade com uma pontinha de tristeza. Austin foi uma surpresa tão maravilhosa que deu vontade de ficar mais. Pela primeira vez tudo parecia perfeito: o clima, as pessoas, as paisagens. Para completar, a cidade é tão generosa que deixou o dia nublado para diminuir nossa tristeza. Jersey, o rapaz das panquecas, veio da cozinha se despedir com duas barrinhas de cereal, dizendo que a gente precisava se alimentar na estrada. Existe isso? Nariz em pé e nó na gargante, seguimos para Lake Charles, na Louisiana. Estrada péssima, cansativa, cheia de motoristas imprudentes. Camping bacana, com um lago lindo, com direito a ilhota no meio, cheia de cabritos. O único problema era o chuveiro. Mas vamos em frente!

Dia 62 (31/03) - Despedida de Austin


No nosso último dia em Austin fomos fazer o que por aqui se chama b-roll, o rolo b das gravações. No Brasil, são as famosas "imagens de apoio", usadas para "cobrir" o depoimento de alguém um pedaço da minha narração. Em Austin, fazer o b-roll representou nossa despedida de uma cidade tão apaixonante. Voltamos ao capitólio, à South Congress, à ponte dos morcegos, ao Zilker Park. Pra machucar meu coração.


Dia 61 (30/03) - San Antonio


Não sei se foi o impacto tão forte de Austin, mas acabei achando San Antonio menos sensacional do que eu imaginava. Não é que não seja sensacional, mas acho que minhas expectativas estavam altas demais. É a cidade mais turística do Texas e lembro que a compararam a Santa Fé, no Novo México. Por isso segui para lá esperando uma vilazinha pequeninha e bucólica. San Antonio está entre as dez maiores cidades dos Estados Unidos, tem uma porção de edifícios enormes e apenas um pedacinho de arquitetura antiga. Um pedacinho, é bom dizer, que vale a pena. No Riverwalk a gente encontra uma bela estátua do padroeiro da cidade (e xará do nosso herói), no Álamo, descobre um pouco mais da história texana (lá ocorreu uma batalha sangrenta que deu a independência à República do Texas). A companhia da Mayara, brasileira casada com um americano e nossa guia pela cidade, ajudou a deixar as coisas bem mais legais. Teve até almoço na churrascaria!