Tuesday, June 28, 2011

NOVO ENDEREÇO

EXTRA! EXTRA!
Depois de dois anos de maravilhosos serviços prestados, amores, canções, filmes e muitas descobertas, meus pensamentos agora moram no www.milaburns.com
O prateconfundir vai ficar aqui, como uma belo arquivo desses primeiros anos fora de casa. Mas as novidades da cidade mais incrível do mundo, agora estão de casa nova.
Espero vocês lá!

Wednesday, June 1, 2011

Julie Kent é Giselle

Ontem, patrocinada pela amiga Juliana Rosa, fui ver Giselle na Met Opera. O ABT, em qualquer versão, já vale a ida. Só que esta noite foi ainda mais especial. Julie Kent, a melhor intérprete do papel, estava acompanhada de Manuel Carreno, que dançava sua última performance do espetáculo. Emocionante, tecnicamente perfeito, lindo de chorar. Para dar um gostinho, o vídeo que a Ana Cláudia Paixão mandou. Noite para guardar para sempre na memória.

Tuesday, May 31, 2011

Elliott Erwitt no ICP


Elliott Erwitt poderia ser simplesmente um fotógrafo pop. Ele o é. Mas é também dono de um talento único. Consegue resumir a um quadro a expressão de um lugar inteiro. Talvez por isso todas as fotos recebam, como título, o nome do lugar onde foram tiradas. Uma das Nova Yorks está aí do lado. Passar no International Center of Photography é um programão.

Wednesday, May 4, 2011

For dog lovers

Muito fofo o vídeo que Dani me mandou. É de morrer de rir. E dá uma vontade de repetir o feito com o Pinduca... Será que um dia eu consigo?

Sunday, May 1, 2011

Omaha Feelings


Veio de casa o exemplo. Trabalhe, seja honesta, esforçada e, mesmo que demore, a recompensa vem. Lembro das broncas homéricas que recebia se jogasse lixo no chão. Pintar minhas bonecas, tudo bem, afinal, eram minhas. Mas estragar o "coletivo", como meu pai dizia, o que era de todo mundo, ah, isso era imperdoável. Tendo a retidão e a dedicação como guias, fui tocando o barco. E como a tal da recompensa demora pra quem escolhe, como dizia Tim Maia, "o caminho do bem"! Mas ela chega.
Morei em várias cidades, me apaixonei por muitas delas, preservo bons amigos, conquistei algumas coisas no trabalho. Mas depois de muito esforço, me dei conta de que talvez estivesse negligenciando o mais importante: eu mesma. Preocupada com o coletivo, esqueci que eu fazia parte dele. Acabei me deixando de lado em várias situações.
Nem sei por que esse assunto surgiu. Aliás, sei. Estou em Omaha, no Nebraska. Para quem não tem mapa, fica na meiuca dos Estados Unidos. Vim para cá cobrir o Encontro anual de acionistas da Berkshire Hathaway, conglomerado do bilionário Warren Buffet. A cidade não tem nenhuma grande atração fora esse evento e é a cara dos Estados Unidos. Uma porção de malls cortados por highways, grandes estacionamentos e uma Radioshack em cada esquina.
Vi essa paisagem ano passado inteiro e o retorno para Nova York me havia feito esquecer como a vida pode ser pequena. Se a gente permitir que o cenário da nossa história seja este, que os figurantes estejam sempre preocupados com o efêmero e que o diretor nos diga como fazer cada movimento, o filme passa, ninguém se lembra e o protagonista chega a um final nem triste nem feliz. Água choca, como dizem os portugueses. Tô fora. É moleza procurar vilões. Eles sempre vão existir, reais ou fictícios. Difícil é ser autor da sua própria história.
Faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro leva o barco devagar. Mas leve, você mesmo, seu barco.


Spring in NY

Demorou, mas a primavera chegou a Nova York. E se a cidade já é imbatível no frio, quando ela começa a ficar colorida, você se sente o mais feliz dos mortais por fazer parte dela.
Com uma super 8 nas mãos, aí é felicidade demais. Fiz um vídeo para dar as boas-vindas à estação que ensinou Cecília Meirelles, inspirou Tim Maia e me faz tão feliz!

Friday, April 8, 2011

Duas belezinhas assustadoras no New Museum


A exposição de Lynda Benglis no New Museum é um banho de novidade. Apesar de quase tudo por lá ser do início da década de 70. Como pode? Também não sei. Acho que a temporalidade é o poder maior que uma obra de arte pode conquistar. E ver aqueles quadros/esculturas é tão moderno hoje quanto deve ter sido àquela época.
Mas o que me pegou pelo pé na minha última visita ao New Museum foi o George Condo. Os rostos repulsivos nos lembram uma humanidade odiosa e verdadeira. A pequenez do indivíduo está toda ali, retratada em bochechas com dentes, olhos amorfos, bocas tortas. Tanta gente estava naquelas telas... É impressionante como, na despretensão, na falta de um estilo uniforme, o artista consegue muitas vezes ser mais engajado que quem o faz intencionalmente. Bom demais descobrir a obra dele.
E para completar, a poucas quadras no New Museum ficam as melhores padarias de Chinatown. Um pão de côco com café para pôr a cabeça em ordem. Ou tirá-la de vez do lugar.

Monday, March 28, 2011

Glenn Ligon e Maira Kalman


Foram as duas exposições mais bacanas que vi esta semana aqui em Nova York.
Ele é um artista afro-americano que esbanja questionamentos com uma roupagem tão bonita que faz você se abrir para cada um deles. Aí, já viu: soco no estômago. Ela é bem menos pretenciosa e justamente em sua busca pela simplicidade nos faz refletir sobre o que há de mais complexo no mundo: da vida a morte.
Glenn Ligon está no Whitney e Maira Kalman no Jewish Museum.

Wednesday, March 16, 2011

Duas exposições, dois filmes e duas damas


Nova York é tão cheia de vida que bastam alguns dias sem escrever para deixar para trás uma porção de coisas que vi por aqui. Então vou deixa-las mesmo guardadas apenas na memória e registrar aqui apenas as mais recentes.
Para começar, duas exposições que conversam entre si e valem muito a pena. Na Gagosian Gallery do Upper East vimos Malevich and the American Legacy. Além do pintor que dá nome à mostra, os curadores reuniram artistas influenciados por ele. Descobrir Kazimir Malevich me ajudou a entender John Baldessari, Ad Reihardt, Alexander Calder e Sol Lewitt, entre outros. Precursor de uma arte não objetiva, em que a geometria representando o real nos faz enxergá-lo melhor que nossos olhos, o russo dizia ter escapado do ciclo das coisas, o que o levou à liberdade de não se ater a formas ou às regras da natureza.
Impossível não pensar nele numa outra exposição, igualmente bela e desafiadora. O Moma vestiu-se do papel de casa do expressionismo abstrato para montar uma das mostras mais completas já feitas sobre o tema. Estão todos lá. Velhos conhecidos, como Pollock e sua Lee Krasner, Willem de Kooning e Mark Rothko. Mas também aparecem em destaque obras que a gente não vê em todo canto. Adolph Gottlieb (com certeza muito fã de Malevich), Philip Guston, Barnett Newman e vários do Ad Reinhardt que, vocês já devem ter percebido, é o meu queridinho do momento.
Também passaram pela minha vida nesta última semana um clássico que eu nunca tinha visto, Bonnie and Clyde e um documentário do Albert Maysles que, como o diretor indica, é genial. Os dois estão instantâneos no Netflix, então para quem vive aqui, é mole ver. Bonnie and Clyde, além de música do Serge Gainsbourg é uma filmaço do Arthur Penn. Daqueles em que a gente ri de chorar, depois chora sem saber se é pelo mocinho ou pelo bandido. Aliás, quem é mesmo o bandido?
The Gates conta a intrépida luta de Christo e Jeanne-Claude para fazer aquela famosa instalação no Central Park, quando portais laranjas cobriram os caminhos do parque. Foram 26 anos gravados, desde o comecinho, pelos Maysles. Mesmo com a morte de David, Albert seguiu a empreitada para testemunhar a realização do sonho dos artistas. É demais. Valeu, Rodrigo, a recomendação! (Rodrigo é o tecladista da minha banda. Sim, eu tenho uma banda, mas isso é outra história).
Por fim, rapidinho, só para não deixar de dizer, me deparei, coincidentemente ou não, com duas damas complicadíssimas nas últimas semanas. Hannah Arendt era parte da leitura da Columbia e Susan Sontag caiu nas minhas mãos em um livro que vai ser lançado em abril. De Arendt, li "O que é autoridade", um ensaio que parece mais atual que nunca, nestes tempos de tirania e revoluções. De Sontag eu já havia lido outros ensaios. O último (que super recomendo) foi Ao mesmo tempo, uma sequência de socos no estômago. Mas o livro que dormiu na minha cabeceira esta semana, Sempre Susan (é esse o nome, mesmo em inglês), é uma memoir escrita pela ex-namorada de David, filho de Susan, que viveu na casa da escritora por um ano e meio. Mostra a Susan desmistificada: a péssima mãe, a boa amiga, a mulher esnobe e generosa, brilhante e implicante. Impossível não se envolver.

Saturday, February 26, 2011

Películas e filmaços


Programão não apenas para casais fofos como este aí ao lado, que encontrei no metrô, quando ia para lá: Festival de Cinema Latino-americano. Ontem vimos dois filmes (Gatos Viejos comentado pelo diretor, Sebastián da Silva, o mesmo de La Nana). Hoje mais dois. Tudo de graça.
O melhor do festival (tá, eu não vi os outros, mas já sei que é o melhor... rsrsrsrs) é Dzi Croquettes, documentário de Tatiana Issa e Raphael Alvarez sobre a trupe de teatro que revolucionou o Brasil na época da ditadura, mas é desconhecida das novas gerações. Eu mesma nunca tinha ouvido falar até descobrir o filmaço da dupla. Já é o documentário mais premiado da história do Brasil. Vejam e entenderão por que.

From China with love


Vale muito a pena ir à exposição When Worlds Collide, do fotógrafo chinês Wang Qingsong. Está no International Center of Photography, um museu super bacana que visitei pela primeira vez com a Flavinha. Naquele dia quentinho de 2009 a gente viu uma outra mostra, chamada This is not a Fashion Photograph, com fotos de um monte de feras, de Walker Evans a Robert Mapplethorpe. Desta vez, um maluco. Até então incógnito para mim.
Qingsong mostra em retratos montados (à la Norman Rockwell) o choque entre a tradição chinesa, o comunismo, a mão de obra barata e a chegada de bens de consumo, sobretudo os americanos. As fotos são lindas e perturbadoras. Algumas até fisicamente, como em Yaochi Fiesta. A foto ao lado é Archaeologist, em que o artista encheu de lama um bando de figurantes para simular uma escavação, em que corpos foram encontrados depois do fim de alguma civilização. Símbolos do Mc Donalds se misturam a pinturas do século 12. Tudo detalhadamente calculado.
Mas o mais bacana da exposição foi uma cena, em frente à foto Follow me. Na obra, um professor aponta para um quadro negro cheio de coisas escritas em inglês. Parece impor a todo um povo que compreenda as investidas do inimigo. O que aconteceu foi que um dos seguranças da sala, um senhor de uns 60 anos, chamou a segurança da sala ao lado. "Corre aqui. Achei outra coisa. Olha, aqui está escrito: onde fica o banheiro, bem ao lado de ideogramas chineses." Os dois discutiram longamente sobre o sentido da obra.
Esses profissionais sempre me fascinaram. Cercados de arte o dia inteiro, mas ao mesmo tempo, tendo de olhá-la com o distanciamento de que fita um bem financeiramente valioso. E nada mais. Sempre quis saber se, por trás do terno azul-marinho, eles se apaixonavam pelos quadros e esculturas, ou se apenas batiam ponto e poderiam estar tomando conta de caixas sabão de brio (das que não valem dois dólares, não as do Warhol). Um dia, no Whitney, na exposição do Paul Thek (que, particularmente, detestei), vi um deles fazendo cara feia pras instalações. No mesmo museu, no entanto, conheci a obra de Charles LeDray que, vejam só, foi segurança de museu! Poxa, se o cara virou artista, é porque estar ali, perto das obras, de fato deve acordar o bicho carpinteiro de alguns deles. Achei lindo ver a arte mexendo desse jeito com as pessoas. E, olha, em poucos museus encontrei funcionários tão felizes. Deve ter alguma coisa a ver.

Wednesday, February 23, 2011

As más línguas chegaram às lojas

Quem acha o Pinduca pequeno...


... nunca o viu saindo do banho! É petitiquinho!

Eataly e a saudade de um bom pé sujo


Outro dia fui ao aclamado, incensado, verborragizado Eataly. Todo mundo falou tanto desse super duper lugar que a gente quis levar o João, na sua despedida. Chegando lá, decidimos sentar na praça da alimentação entre a área de Vegetables e Fish. Os meninos pediriam coisas do mar e eu pediria algo que combinasse com o meu vegetarianismo. Primeira surpresa! Lá não é possível pedir pratos de áreas diferentes. Se você senta na parte de peixe, tem que pedir peixe. E no cardápio não há opção vegetariana! E se você fora para a parte vegetariana e namorar um carnívoro, pobrezinho. Vai ter que comer cenoura. Decidimos, então, seguir para as massas. Tristes, pedimos pizza.
Aí, como prêmio de consolação, resolvemos pedir uma entradinha. Que tal um prato de frios? Daí eu como os queijos e os meninos os embutidos, né? É, mas esse tipo de prato não existe por lá. Ou só se come embutido, ou só se come queijo, ou só se come vegetal. Hã? Ok. Vamos lá, pulemos a entradinha. Veio a pizza. Ok. Agora, a conta e três cafés. E de sobremesa... "Nem café, nem sobremesa", sentenciou a garçonete, completando com um "eu sei que é maluquice, mas tem que ir até a área do café e da sobremesa. Aqui não servimos. Mil desculpas."
Quando eu era pequena, aprendi que comer era uma momento de confraternização, de unir amigos, a família, enfim, sentar junto, celebrar, falar do dia. Lá em casa nem tinha tv na cozinha por isso. Era hora de conversa. O Eataly parece querer impedir isso. Propõe que cada um coma por si ou todos sigam infelizes para comer o que não queriam, em nome da amizade. Corta o clima do cafezinho depois da refeição, impondo que você se meta numa fila imensa para comer um Tiramissú que faria corar a italiana do Café Dante. E ainda te faz andar mais um pouco por um espresso que o Lavazza serve até em posto de gasolina por aqui. Fala sério.
Mas como se não deu certo é porque ainda não acabou, à noite, depois de assitir ao documentário sobre o Vidal Sassoon e aprender tudo sobre o corte de cinco pontas, encontramos o João (ele vinha de um concerto no Carneggie Hall que disse ter sido um dos melhores da sua vida) no Jimmy no. 43, um boteco pé sujo num porão do East Village. Fica do lado do McSorleys. A diferença é que a comida é maravilhosa. Sim, eles têm opções para vegetarianos. Sim, têm opções para carnívoros. E sim, podemos, juntos, comer e beber (um extenso cardápio de cervejas belgas, entre outras). De preferência numa mesa bem apertadinha, para fazer valer o que mamãe ensinou.

Friday, February 18, 2011

Para moças que gostam de sapatos e livros


Saiu esta semana aqui em Nova York um livro maravilhoso chamado "Everyday Icon". Trata da construção do estilo da primeira-dama americana, Michelle Obama, de quem sou fã de carteirinha. Olhando a foto da moça na época do High School você pode até não concordar, mas pense no vestido Wu do dia do Baile da posse? Ou no lemongrass e nas luvas verdes na posse em si?
Quantas vezes nós nos perguntamos como é que damos conta de ser donas de casa, mães (e olha que eu ainda escapo dessa), funcionárias, bailarinas? A própria descrição da dona deste blog que aqui vos fala, ali no alto, diz muito sobre isso.
E quantas vezes a gente também não se pergunta se é frescura se preocupar com o cabelo? Eu volta e meia me pego entre questões profundas como: uso um cinto grosso ou aquele fininho dourado? Scarpin azul ou rasteirinha de oncinha? Pois bem, chega de se culpar por isso! Se Michelle pode, por que não eu?
A mulher de Barack Obama transborda estilo, é mãe de duas molecas fofas, conselheira do homem mais poderoso do mundo, advogada de sucesso. Ainda promove campanhas por uma boa alimentação entre os americanos e exibe bíceps sarados.
O que a autora do livro defende é que estilo e conteúdo não são entidades independentes. Pelo contrário. Ter estilo é parte da inteligência. Coisa que os franceses já sabem há muito, mas os americanos relutam em assumir. Se está bem vestida, é burra. Se for bonita, então, afff! Pois bem, amigas elegantes e brilhantes, encham-se de orgulho! Mirem-se no exemplo daquela mulher de Washington! E, pela foto aí do lado, a gente percebe que não se nasce com estilo (se bem que acho este penteado dela bem fashion)...

Thursday, February 17, 2011

É demais esta cidade


Não me canso de declarar meu amor por Nova York. Na virada do ano aluguei na biblioteca (o que dizer de uma cidade que tem centenas de bibliotecas públicas maravilhosas de onde qualquer um pode levar para casa clássicos ou obras recém-lançadas?) o livro "Just Kids", da Patti Smith. Até então minha relação com a cantora era bem "Because the night" e pronto. No livro, ela conta sua história de amor (primeiro de amante, depois de amigo, depois de irmão, ou tudo junto, sei lá) com Robert Mapplethorpe. Com ele, minha relação era mesmo de um pouco de medo. Difícil compreender ensaios fotográficos tão pesados.
O livro é escrito com a caneta da alma. Cheio de emoção, mostra essa história de amor numa Nova York que se descobria junto de seus moradores. Na verdade, é assim até hoje. Parece que nada por aqui é como era ontem. A cidade se transforma, tem vida, personalidade.
Pois bem, o que dizer de um lugar que te empresta um livro num mês e te deixa ouvir a autora no mês seguine? Aliás, não só a autora. Patti chamou ao palco do 92 Y Lenny K e, pasmem, Sam Shepard, que cantou duas belas canções country. Patti falou de Ginsberg, Dylan, de si mesma e, claro, de Nova York. Leu passagens emocionantes, me fez chorar de novo quando falou da morte de Coltrane, chorou de novo contando o dia em que viu Mapplethorpe pela primeira vez.
Hoje, se eu fosse escrever um livro declarando meu amor a alguém, como ela fez, certamente seria a Nova York.

Thursday, February 10, 2011

Nixon in China


Quando não entendo muito do assunto tenho uma dificuldade enorme de comentá-lo. Não consigo sair dando orelhada em terreno estranho. Mas gosto muito de ópera. É, não entendo nada, mas só pelo amor, já me sinto capaz de dar alguma opinião. E ontem, puxa, que ópera mais chata!
Nixon in China é bacana por ser moderna. Os fatos se passaram no início da década de 70, outro dia, se pensarmos que se trata se uma arte em que quase sempre estão retratadas histórias de, no mínimo, um século atrás. Até tentei me apegar a isso para aproveitar o programa, que me custou 20 dólares e quatro horas na fila do rush hour ticket. Mas não deu.
O elenco era fraco. O Nixon, tadinho, fazia um esforço tremendo para se fazer ouvir. Terminei ontem a biografia da Callas e lembrei na hora de espetáculos que ela cancelou por não ter voz. Ou pior, de outros em que ela pagou um baita mico, forçando a barra para cumprir contrato mesmo estando gripada. Pensei que fosse esse o problema do barítono, mas não. O bichinho devia estar nervoso, sei lá. Sei que foi uma tortura para quem estava ouvindo. A música também não contribuía para o bom desempenho dos cantores. As melodias eram pobres, às vezes mais parecia um rap que uma ópera.
Valeu mesmo pela experiência de ver como os americanos reagem frente a uma criação de um conterrâneo. Muitos foram embora antes do fim (viu como era chato?), mas a maioria resistiu até o final apenas para aplaudir John Adams. Em tempos de concorrência chinesa, todo nacionalismo é bem-vindo.

Tuesday, February 8, 2011

Vlado e a nossa amnésia


Ontem assisti, pelo Netflix, a "Vlado: 30 anos depois", um filme de João Batista de Andrade. Pensei nos meus pais, na época do movimento estudantil; em Doramundo, filme em que os dois amigos se encontram (Vladimir Herzog escreveu o primeiro roteiro, João Batista de Andrade dirigiu); no mais recente documentário "Tempo de Resistência", que meu pai intimou todos os amigos a verem, para que não esquecessem aquele período tão doloroso quanto decisivo para a nossa formação como povo.
Mas pensei muito mesmo na minha viagem para a Argentina, nos idos de 2004, se não me engano. Fui com minha irmã. Organizamos tudo para chegar lá no dia em que os hermanos comemoram o fim da ditadura militar naquele país. O problema é que era um feriado e não era uma data redonda para as comemorações, portanto imaginei que não veria ninguém na rua. "Devem ter viajado pro feriado", pensei. Mas os argentinos tinham muito a me ensinar. Quando cheguei ao Obelisco uma multidão tomava as ruas. "No perdonamos y no olvidamos", gritavam, mais de duas décadas depois do fim do regime. E me envorgenhei da nossa falta de memória. Devia haver pelo menos 200 mil pessoas naquele fim de tarde em Buenos Aires, seguindo em marcha até a Casa Rosada. Me juntei às mães da Praça de Maio como se aquela luta fosse minha, que se fossem meus filhos os mais de 30 mil desaparecidos durante o período da Revolução Argentina. Mas não eram.
Os nossos filhos - ou pais - atuaram em lutas semelhantes aqui no nosso quintal, e cabe a cada um de nós fazer com que essa história não seja esquecida. Vendo Vlado ontem percebi, mais uma vez, que apesar de todo o meu interesse, ainda sabia pouco sobre a história desse herói acidental. Menos ainda sei de outros heróis brasileiros, que desapareceram no cruel coador da memória.
Cabe a nós lembrar. "No perdonamos y no olvidamos". Talvez a internet, os filmes, os livros, sirvam também para isso. Para refrescar uma lembrança que nos construiu como pátria.

Monday, February 7, 2011

Solidão companheira


Semana incrível. Concerto no Carneggie Hall, mais doze vinis na coleção, visita maravilhosa em casa, passeio por torda a ilha (levando a visita), show no Jazz at Lincoln Center, exposição do Hopper, La Bohéme na Met, restaurantes incríveis com amigos incríveis, despedida da Aline, jantar na Aninha com direito a baralho com Joaninha.
Mas vou ser breve. La Bohéme foi frustrante. Não é a ópera mais bacana do mundo e, pela primeira vez, achei a montagem do Zefirelli meio datada. Não sei se é porque estou lendo a maravilhosa biografia da Maria Callas (que quando eu terminar, talvez amanhã, merecerá um post inteiro), mas fiquei meio exigente de uma semana para cá. Tudo bem que o segundo ato foi emocionante. Pela música, pela neve que caía lá fora e no palco, pela companhia do João. João é nossa visita maravilhosa. Conhece ópera e música clássica como poucos (pouquíssimos, aliás), e não nos fizemos de rogados ao aproveitar a presença dele para ver tudo o que queríamos com tradução simultânea.
Foi assim também no Carneggie Hall, quando ouvimos a orquestra de Cleveland tocar um vigoroso Wagner, um lírico Schumann e um tenaz Bartók. João explicou que tocar peças tão distintas é rotina entre novas orquestras que, na tentativa de encorajar patrocinadores, precisam mostrar serviço. Funcionou. Saímos de lá maravilhados. E tinha, ainda, uma Tiger Mom no assento da frente, fuzilando seus pequenos tigrinhos, com o olhar, a cara tosse. Os dois eram lindos. Imitavam o pianista no apoio de mãos. Espero que o azedume da mamãe não os afaste do amor pela música.
E teve o Hopper. Meu favorito entre os americanos, virou uma espécie de obsessão desde que cheguei à América. Quando morava em Paris, meu périplo por museus foi em vão. Não vi nada dele. Aqui, me esbaldei. Vi Hopper por onde passei: Los Angeles, Dallas, Cleveland, Pittsburgh e, o grand finale, em Chicago. Mas a maior coleção fica aqui pertinho e casa, no Whitney. Já tinha ido lá procurar meu objeto do desejo algumas vezes, mas a exposição que está em cartaz até abril é especial. Mostra o pintor ao lado de outros artistas de seu tempo. E a gente descobre que a solidão das telas não transborda para o profissional. De Stiegliz a Demuth, muitos dialogaram com ele. Foi revelador. E, para quem estiver em NY, o passeio vale ainda mais se combinado com a exposição de Charles de LeDray, no mesmo museu. Minimalismo, loucura, chamem como quiserem. Eu chamo de beleza.

Thursday, January 27, 2011

Direto do túnel do tempo


Achei que, voltando a morar em Nova York, com tanta coisa para fazer, passaria a atualizar o blog diariamente. Pois não é que, justamente por ter tanta coisa para fazer, não consigo! Então hoje vou falar de um show que vi anteontem. Mas para quem esperou quarenta anos, o que são dois dias?
Charles Bradley deveria ter estourado como um grande nome da Soul Music na década de 60. A voz crua, triste, expressiva, macia, lembra Otis Redding. A postura no palco, com direito a requebrados e espacates, tem um ar Jamesbrownístico irresistível. Mas quando ele começou a despontar no mercado musical, o rock and roll surgia fresco, jovem, e a Soul Music soava como música da vovó. Não é à toa que o primeiro álbum dele, lançado no último dia 25, no Brooklyn, sai com o título "No time for dreaming". Resta pouco tempo para Bradley mostrar a que veio e ele não quer perder um minuto sequer. Por isso sua performance é tão intensa, regada a "I love you" para o público e a uma certa amargura em "Why is it so hard to make it in America?".
A delícia de ver o show de Bradley no Southpaw (casa linda na 5th Ave do Brooklyn) foi me sentir transportada à época de Sam Cooke e Odetta sem precisar de uma vitrola e sem recorrer a covers baratos, cheios de técnica, mas que deixam a alma em casa. Bradley se rasga, chora, se apaixona pelo público genuinamente, como se fazia em 62.
Se você é dos meus e vive se perguntando, "por que é que eu não nasci naquela época", é hora de parar de reclamar. Acompanhado de uma banda de jovens surpreeendentemente despretensiosos, a Menahan Street Band, Bradley traz a verdadeira alma do soul para os nossos dias. E tudo que vale a pena permanece intacto até hoje.

Monday, January 10, 2011

De Messerchmidt a Norman Rockwell


Uma das coisas de que mais gosto nesta vida é ser surpreendida. Tem gente que se sente mal quando não conhece um artista, não ouviu uma música. Para mim, êxtase é não saber. Ter certeza da minha pequenice.
Semana passada a novidade veio na Neue Gallerie, uma preciosidade ao lado do Central Park que guarda alguns dos mais lindos quadros de Klimt e Schiele. Franz Xaver Messerschmidt influenciou vários artistas, mas para mim era um desconhecido. Foi Chico quem, vendo no jornal expressões esquisitas demais para um escultor do século 18, quis conhecê-lo. É claro que ele foi taxado de doido - e talvez tivesse mesmo uns parafusos a menos, ou a mais - mudou de cidade, morreu sem ser reconhecido. Mas até hoje o que ele faz é intrigante.
Messerschmidt chegava às expressões que viraram sua marca se beliscando. São todos auto-retratos, que ele desenhava após árduas horas em frente ao espelho.
A técnica foi repetida por diversos artistas. Mas em termos de processos, ninguém ganha de Norman Rockwell. O passo a passo das criações do gênio da capa do Saturday Evening Post é revelado na exposição em cartaz no Brooklyn Museum. O curioso é que descobrir que Rockwell projetava retratos na tela para dar origem a seus quadros, coisa que ele mesmo chama de "trapacear", não tira em nada a beleza da obra. Mais que um pintor, ele era um diretor, um cineasta apaixonado pelo humano. Usava vizinhos, parentes, amigos como modelos. Pedia a fotógrafos profissionais que registrassem o momento e depois usava partes diferentes de cada foto para chegar ao resultado final. Somos apresentados a um Rockwell humano como sua obra.
Assim, ele nos mostra que conhecimento é tolerância.