Tuesday, April 27, 2010

Surpresas no caminho

Tem dias em que nada de especial acontece; a gente não grava, não entrevista ninguém, e ainda assim aprende um bocado. Hoje foi um deles. Chegamos a Miami de manhã cedo, mas passamos uma hora na imigração. Pegamos um shuttle sozinhos e rapidinho estávamos na oficina onde deixamos o carro e o Rv para fazerem a revisão. A primeira surpresa veio logo depois, quando chegamos ao camping e vimos o carro todo sujo, as coisas caídas no chão. Sim, americanos fazem essas coisas. O serviço ficou bem feito, os carros bem mais ajeitadinhos, mas o capricho ganhou nota zero. A segunda surpresa veio em seguida, quando fomos buscar a câmera no conserto. Fomos recebidos por uma dupla que nada tinha a ver com o esteriótipo (que tatas vezes confirmamos ao longo da estrada) do americano que pouco se interessa por outras culturas. Queriam saber absolutamente tudo sobre o Brasil e, mais que isso, sobre nossa vida, como brasileiros vivendo na casa deles. No final, estávamos todos encantados: nós, com a curiosidade deles; eles, com a nossa coragem. A aventura, aliás, continua amanhã, quando seguimos para Tallahassee, capital da Flórida e nossa primeira parada rumo ao Festival de Jazz de New Orleans.

Sunday, April 25, 2010

Alma de pomba

A semana perto da família e longe demais de tudo ainda não foi suficiente para organizar as prateleiras. A imagem, meio Dalai Lama, meio Rubem Braga, é coisa do Chico para definir minha personalidade abarcadora e, ao mesmo tempo, complexa. Feito passarinho que, tão afoito para fazer um ninho, esquece de pôr o ovo. Meu guru, em NY, dizia que eu tenho tanta energia que preciso fazer exerícios e meditar diariamente, para que as coisas não explodam dentro de mim. Maneco, o astrólogo-bruxo que fez meu tardio primeiro mapa astral disse que eu sou uma usina gerenciada por um general prussiano. Assim vou seguindo, atropelando experiências, tentando meu enriquecer com cada uma delas e, involuntariamente, crescendo, de fato. A Mila do começo do ano já não se parece com aquela que vi hoje no espelho. Uma semana não bastou para dizer o que mudou. Mas mudou tanto... Ver um novo país, aprender com tantas histórias, conhecer num dia uma que casou com um índio e no outro voar de avião, ao mesmo tempo em que se dirige um caminhão puxando um carro. Às vezes acho que é demais e que serão necessários muitos anos para absorver toda a grandiosidade dessa experiência. Às vezes acho que a riqueza maior de tudo isso vai ser descobrir Milas novas a cada dia. Lembro da linda deifinição de complexidade de Simmel, para quem o indivíduo se tornava mais complexo à medida que se relacionava com mais redes sociais. Me tornei, então, um labirinto de barbante. Talvez more aí a maior conquista que tantas caminhadas têm me dado: a descoberta da liberdade. Poder me saber eu e me aceitar eu, no meio de tantas possibilidades, tantos contrastes, tantas vidas, é uma riqueza que jamais sala de aula alguma me daria. Liberdade que hoje defino como gosto de viver. Talvez quando as prateleiras estiverem mais organizadas, eu consiga encontrar minha caixinha de música e ver para que lado a bailarina dança. E ao som de que canção.

Tuesday, April 20, 2010

Mais Planetas

Semana de break no Brasil. Vou dar uma folga dos posts pra aproveitar a família. Enquanto isso, mis uns programas que já foram ao ar!

Napa Valley
bloco 1: http://www.youtube.com/watch?v=e6LdMR8aSaw
bloco 2: http://www.youtube.com/watch?v=7XN7vBVwc_M
bloco 3: http://www.youtube.com/watch?v=dMF_9GeXgKg

San Francisco
bloco 1: http://www.youtube.com/watch?v=YxUTIq0vql0
bloco 2: http://www.youtube.com/watch?v=EeKcgnPpG-Q
bloco 3: http://www.youtube.com/watch?v=0oWRdiEFxnU

San Diego
bloco 1: http://www.youtube.com/watch?v=RIMr0NX-Rzc
bloco 2:
bloco 3: http://www.youtube.com/watch?v=Psc6RVzhCy4

Thursday, April 15, 2010

Dias 75 e 76 (13 e 14/02) - Dois dias sem nada pra contar!

Pela primeira vez desde o início da nossa aventura, passamos dois dias sem nada para contar. Fiquei enfurnada no motorhome decupando, tentando fechar o máximo de textos que conseguisse. O problema é que parece que as pessoas descobrem e danam a te telefonar. Por isso não conseguimos escapar para dar uma voltinha na praia, conhecer a cidade, nada. O máximo foi dar uma escapadinha para um almoço e uma cervejinha na praia de Fort Lauderdale com Aline. E, claro, para comprar algumas das várias encomendas que temos de levar pro Brasil. Já é segunda! Pelo menos tem isso para contar!

Monday, April 12, 2010

Dia 74 (12/02) - Só para baixinhos


Quando vi a Xuxa pela primeira vez, uns sete ou oito anos atrás, era Criança Esperança, em São Paulo. Eu saí do Rio sabendo que iria entrevistá-la e, confesso, preparada para me indispor. O problema é que quando ela entrou na sala, vi um clarão. A moça parece que tem luz própria. Desde então, passei a defendê-la, arrumando briga com uma porção de amigos. Não é que eu seja fã e, na verdade, nem fui uma baixinha muito afoita. Meu pai me empurrava coisas mais maduras, me obrigando a números meio patéticos, como "Da janela lateral" (não lembro o nome certo, mas pelo primeiro verso, todo mundo reconhece), apresentada todo fim de semana para os amigos. Hoje acho engraçado. Foi esquisito ouvir a opinião da Xuxa sobre imigração, mas reconfortante ver que até ela, do alto daquela nave espacial onde nem Praga, nem Dengue, nem eu entrávamos, se sente impactada pela realidade de quem vive longe de casa, passando por dificuldades que não alcançam rainhas.

Dia 73 (11/02) - Mais uma despedida chaaaaata


Fico feliz pelos dois dias que passamos em Cancún, mas ah! Como eu queria que fossem duas semanas! Não só pelo mar azul, a areia branca, os deliciosos burritos envolvidos por margaritas. É que Cancún foi simbólica por representar a primeira pausa desde o início dessa aventura maluca. Pela primeira vez, a gente saiu do roteiro, pegou um avião e não levou a câmera a tira-colo. Isso me fez um bem que nem sei. Hoje, mais uma vez, passamos o dia na praia e ficou ainda mais claro como somos parecidos com os mexicanos. Semana passada, em Orlando, um entrevistado que viajou toda a América Latina de carro me disse que, o que percebeu, era que os povos se uniam pela tolerância a regimes socialistas. Não acho que seja isso. Acho que a gente se une na paixão pelo outro. Como nós, os mexicanos querem saber sua história, se interessam pelas suas diferenças, pelos seus problemas. Na chegada ao hotel, um me perguntou como estava o Rio, depois de tanta chuva. Outro abriu um sorriso quando nos ouviu falando português e correu para dizer que conhecia Rio e São Paulo. À noite, no jantar, o garçon batucou na mesa para dizer como amava o nosso país. Claro que com tudo isso percebo, cada vez mais, que o Brasil é o país do presente. E que os mexicanos de coração bom são bem-vindos na nossa festa.


Dia 72 (10/02) - Não qualquer azul azul


Quando cheguei a Cancún, o Caetano Veloso parecia berrar "Rumba Azul" no meu ouvido. "À la Rumba Azul, vamos!". Tudo na cidade é azul e de um azul quqase inexistente, que já não há. "Azul que é pura memória de algum lugar". Desculpem pelas citações, mas elas não vão parar até o fim deste post. É que ver poesia assim, na sua frente, pisar em poesia, se banhar em poesia, sentir cheiro de poesia, deixa a gente mesmo meio romântico. Lembrei também do Gil, com "não qualquer azul, azul, de qualquer céu, qualquer dia, o azul de qualquer poesia, de samba tirado em vão". Foi mal, Gil, mas este azul não é apenas o "que a gente fita no azul do mar da Bahia" (que, aliás, pra mim tá mais pra verde), mas o azul do caribe mexicano. Pensei que fosse coisa de photoshop. Nada disso. Como diz a Dany, parece que tem uma luz vinda da areia, é uma coisa meio sobrenatural. Chegamos cansados, depois de um sono curto, mas ficamos o dia inteiro esticados na areia, com pausas apenas para um mergulho na piscina. Ops, no mar. É que mar mais azul que piscina eu nunca tinha visto. Nada melhor que, no meio de tanta turbul6encia, encontrar "um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar".


Dia 71 (09/04) - Miami e até loguinho


Não sei o que pensar de mim quando tiver filhos. Já ouvi de muita gente que ter animais é um ótimo treinamento para a maternidade. Se for verdade, os meus rebentos vão ser insuportavelmente mimados. Deus me ajude a melhorar até lá. Tudo isso é porque amanhã vamos para Cancun, passar o fim de semana. Sempre quis conhecer qualquer lugar do Caribe, ver se aquele mar das fotos existe mesmo de verdade. A questão é que, para isso, Pinduca e Dindi tiveram de ficar por aqui. Uma amiga me recomendou uma moça ótima. Ela trabalha numa pet shop, entende tudo de animais, tem um apartamento ótimo, com jardim e até um lago na frente e uma filha de onze anos fofa, apaixonada por bichos. Poderia ser mais perfeita? Pois mesmo assim, deixei os dois com o coração partido. É um misto de saudade e da dor de saber que eles não são meus e não dependem de mim para sobreviver. O maior egoísmo do mundo, eu sei, mas fazer o que? O amor é assim.


Dia 70 (08/04) - Companheiros de camping

Hoje passamos o dia com o Seu Roberto, uma figuraça de Orlando. Aos 77 anos, ele montou na garagem de casa uma redação de jornal. Detalhe. O repórter, o diagramador e até mesmo o gráfico são a mesma pessoa. Ele. Ah! E Seu Roberto ainda distribui os jornais pelo comércio brasileiro em Orlando.

Voltei para casa para decupar mais, escrever mais e, já exausta, seguir para mais uma gravação, que não estava programada. É que outro dia eu estava na recepção do camping quando um senhor me abordou perguntando se eu era brasileira. Disse que sim e ele falou que a mulher dele também era, e que eles ocupavam a vaga 301. Maria e Robert têm um coach, um ônibus gigante, mega confortável, todo pimpão. Ele era diretor do World Series of Pooker, eles tinham uma mansão linda em Las Vegas, mas resolveram trocar a banheira de hidromassagem e o closet por uma vida de aventuras. Confessaram que é difícil, dura, cheia de sobressaltos, mas nos fizeram ressaltar as compensações (coisa tão importante hoje, quando vivo um momento de mais ódio que amor com essa casa ambulante). Para se ter uma idéia, eles estão há dois anos e meio de um lado pro outro, sem voltar para casa. Aliás, eles chegaram a voltar a Vegas, mas decidiram dormir no coach.

Dia 69 (07/04) - Caldo de cana do Mickey


Orlando é um lugar meio diferente. Uma cidade com clima de Brasil e astral de Las Vegas. Bem diferente. Não dá para esperar outra coisa de um lugar que cresceu ao redor de um castelo de sonhos. A Disney é mesmo o motor da vida por aqui, por isso para quem não gosta muito de parques de diversões não há muito o que fazer. Eu até que sou bem chegada a uma monta-russa, mas com tanto trabalho, só de pensar em enfrentar fila debaixo do sol fiquei com dor de cabeça. Achei melhor ir até o International Blvd, à procura dos brasileiros que lá se concentram. Foi maravilhoso perceber o resultado do programa: onde a gente entrava, o pessoal gritava: "Planeta Brasil, não acredito!" Legal demais. E ainda sobrou tempo para um caldo de cana com pastel de feira na padaria! Mas o Oscar do momento mais engraçado do dia vai para o repórter que foi nos entrevistar no camping e disse: "meu Deus, é mesmo verdade? achei que fosse caô de televisão, que vocês viessem de avião e um motorista guiasse o RV! E que tivesse um trailer de apoio atrás"! Hahaha! Bem-vindo ao nosso mundo!


Dia 68 (06/04) - Asas do desejo


A vida no RV certamente já nos transformou. A gente percebe isso vez por outra, em alguma situações do dia-a-dia em que nos comportaríamos de forma diferente. Como outro dia, quando percebemos que haviam batido no carro. Em condições normais de temperatura e pressão, isso, no mínimo, estragaria o dia. A gente nem se lembrou de contar isso para as mães, na hora sagrada do telefone. Minha mãe, aliás, se decepcionou quando me contou, toda animada, que um amigo nosso havia tirado a barba e eu disse: bacana. Ela: como assim, só bacana? É que é tanta coisa acontecendo, se modificando na nossa frente, que fica difícil perceber algumas pequenices. Mesmo queelas não sejam tão pequenas assim. Tudo isso, na verdade, é para contar que hoje a gente pilotou um avião. É esse aí, da foto, bonitinho que só. Chico assumiu o "volante" por mais de vinte minutos, e passou até por turbulências. Minha participação foi mais tímida, mas não menos divertida. Saí com a sensação de que, depois de pilotar RV, lavar encanamento de esgoto e montar o reboque do carro, ninguém me pega!


Dia 67 (05/04) - Pensacola- Orlando

Era o trecho mais longo da compridíssima viagem entre Austin e Orlando, mas esse nosso novo método de revezar a direção ajudou muito. Ainda assim, passar nove horas dentro de um motorhome, com uma gata maluca e um cachorro carente, é fogo. O lado bom é que na Flórida encontramos as melhores estradas até agora. É o primeiro estado onde todas as rest areas estão abertas, com banheiros limpos e até segurança à noite. Chegamos à Orlando já anoitecendo, mas tranquilos.

Dia 66 (04/04) - Praia nova


O guia dizia que Pensacola já valia a pena, mas cheios de disposição e já calejados a pegar horas de estrada, resolvemos nos arriscar. Passamos por quase todas as praias de Pendhandle até parar em Santa Rosa Beach, praia de areia branca feito talco, águas agitadas, mas possíveis, e alguns banhistas animados. Duas horas por lá e decidimos nos arriscar até o Grayton Beach State Park, segundo o guia, uma das mais belas praias do país. A meção não é exagero. Entre um imenso lago, cercado de árvores, e o mar azul, se espreme uma faixa de dunas branquinhas e intocadas (a gente tem que atravessá-las por pontes, infelizmente). Fossem os americanos um pouquinho mais brasileiros e a gente pudesse sentir a areia nos pés, teria sido perfeito. O jeito foi se contentar com o quase e fechar o fim de semana perfeito no parte permitida da areia, já bonita demais.


Dia 65 (03/04) - Fim de semana de sossego


Os dias têm sido puxados à beça desde que nossa aventura começou e quem acompanha o blog já deve ter percebido como reclamo! Pois esse fim de semana foi o que a gente pediu a Deus. Na Flórida, alta temporada é no inverno, quando nos outros estados a neve reina e no sunshine state, bem, você já sabe. Por isso nessa época, as praias estão mais tranquilas e a gente pode aproveitar de verdade. Parecia uma tarde em Guarapari, fora de estação. Cervejinha na areia, mar calmo, água transparente e um sol meio morno, delicioso. Fomo à Pensacola, numa parte chamada Quiet Waters, que parece uma piscina, como o nome diz.

Dia 64 (02/04) - Lake Charles - Pensacola


A gente sinceramente não havia se programado para atravessar quatro estados em um único dia. Quando vi o nosso trajeto pelo google maps não me dei conta! De repente, saíamos da Louisiana para o Mississipi. Depois, do nada, surgiu o Alabama. Finalmente, nosso destino, a Flórida. Apesar disso, a viagem não foi das mais longas. Dirou apenas sete horas. Nossa, como essa viagem está me deixando Poliana! Para não dizer que estou otimista demais, quando chegamos ao camping, um enxame de muriçocas veio nos dar as boas-vindas. Fui dormir toda inchada. Pelo menos aprendi a falar muriçoca em inglês.


Dia 63 (01/04) - Austin - Lake Charles


Pela primeira vez a gente deixa uma cidade com uma pontinha de tristeza. Austin foi uma surpresa tão maravilhosa que deu vontade de ficar mais. Pela primeira vez tudo parecia perfeito: o clima, as pessoas, as paisagens. Para completar, a cidade é tão generosa que deixou o dia nublado para diminuir nossa tristeza. Jersey, o rapaz das panquecas, veio da cozinha se despedir com duas barrinhas de cereal, dizendo que a gente precisava se alimentar na estrada. Existe isso? Nariz em pé e nó na gargante, seguimos para Lake Charles, na Louisiana. Estrada péssima, cansativa, cheia de motoristas imprudentes. Camping bacana, com um lago lindo, com direito a ilhota no meio, cheia de cabritos. O único problema era o chuveiro. Mas vamos em frente!

Dia 62 (31/03) - Despedida de Austin


No nosso último dia em Austin fomos fazer o que por aqui se chama b-roll, o rolo b das gravações. No Brasil, são as famosas "imagens de apoio", usadas para "cobrir" o depoimento de alguém um pedaço da minha narração. Em Austin, fazer o b-roll representou nossa despedida de uma cidade tão apaixonante. Voltamos ao capitólio, à South Congress, à ponte dos morcegos, ao Zilker Park. Pra machucar meu coração.


Dia 61 (30/03) - San Antonio


Não sei se foi o impacto tão forte de Austin, mas acabei achando San Antonio menos sensacional do que eu imaginava. Não é que não seja sensacional, mas acho que minhas expectativas estavam altas demais. É a cidade mais turística do Texas e lembro que a compararam a Santa Fé, no Novo México. Por isso segui para lá esperando uma vilazinha pequeninha e bucólica. San Antonio está entre as dez maiores cidades dos Estados Unidos, tem uma porção de edifícios enormes e apenas um pedacinho de arquitetura antiga. Um pedacinho, é bom dizer, que vale a pena. No Riverwalk a gente encontra uma bela estátua do padroeiro da cidade (e xará do nosso herói), no Álamo, descobre um pouco mais da história texana (lá ocorreu uma batalha sangrenta que deu a independência à República do Texas). A companhia da Mayara, brasileira casada com um americano e nossa guia pela cidade, ajudou a deixar as coisas bem mais legais. Teve até almoço na churrascaria!