Thursday, August 27, 2009

Platéia afinada, maestro genial ou é só música?


Sempre fui fã do Bobby McFerrin. Na verdade só descobri que aquela musica bonitinha, que dizia "Don't Worry Be Happy"era dele tarde, bem depois de "Hush", meu primeiro amor. O disco, que também me apresentava Yo-Yo Ma, me veio em forma de fita cassete quando eu tinha uns 14 anos. Depois vieram "Paper Music", meu preferido, e "The Mozart Sessions", com o Chick Corea, que meu pai já havia me mostrado alguns anos antes. A modernidade de Bang!Zoom, com McFerrin numa uma provocativa blusa de gola rolê na capa, foi trilha de muitos almoços de domingo, até a família toda enjoar e eu sequestrar o disco de vez pro Rio.
Fiquei muitos anos sem ouvir falar de novidades do McFerrin. Ele lançou poucos discos de lá pra cá, mas se manteve ativo na demonstração de que a música é orgânica.
O vídeo, sucesso no Youtube, é de encher os olhos. De repente se forma um coral afinado, de arrepiar. O chão vira piano, o maestro, pianista. No final, no entanto, ele nos avisa: não é talento. O fenômeno acontece em qualquer lugar do mundo, qualquer que seja a audiência. É só música. E precisa de mais?
http://www.youtube.com/watch?v=ne6tB2KiZuk

Tuesday, August 25, 2009

Yore accent sucks, y'all hea-ah?


Na semana em que Chico estava aqui vimos três filmes no cinema em sequência. "Adam", uma belezinha, com Hugh Dancy interpretando um jovem com síndrome de Asberger brilhantemente. Adam não é caricato, não faz caras e bocas, apenas vive, por mais difícil e tortuoso que isso possa ser. Depois, vi "Funny People" e saí do cinema feliz da vida porque as piadas eram boas e eu tinha entendido todas. No dia seguinte, "Julie & Julia", com Maryl Streep e Amy Adams divertidíssimas e, mais uma vez, eu rocking no meu inglês. 
É uma aflição comum a quem vive em outro país. Nos primeiros filmes, a gente quase não entende nada. Aos poucos começa a perder apenas algumas coisinhas e pimba! (pimba é muto bom...). Entendemos as piadas, o filme inteirinho! Nossa, é uma alegria!
Pois resolvi ver "Gandhi", um filme de 1982 que cismava em faltar na minha lista de preferidos. Um filme maravilhoso, com Ben Kingsey apaixonante no papel título. Três horas de belíssima fotografia, com elenco afinado e diálogos lindos. E como não seriam se são o que Gandhi disse? Pois foi justamente esse o meu erro. Perdi muita coisa porque os atores, bons que são, falam com sotaque indiano. E meu inglês, pobrezinho, não dá conta de entender sotaques. O mesmo acontece quando são japoneses falando inglês, ou os turcos dos táxis de NY. Não sei como eles entendem o meu sotaque. 
Será que eles entendem?

Sunday, August 23, 2009

O tempo e o artista


Hoje fui ver o filme argentino "The Headless Woman". Já começava bem: cinco estrelas, segundo a Time Out, "Brilhante", de acordo com o NY Times, em cartaz no meu cinema preferido, o Film Forum, na West Houston. Enquanto isso, em São Paulo, Chico foi ver o uruguaio "Gigante". Foi o mais perto que conseguimos do nosso sistema "at the same time", um jeito esperto de nos mantermos próximos, a um oceano de distância. É simples: a gente vai ao cinema ver o mesmo filme, ao mesmo tempo, lê livros simultaneamente, enfim, tudo o que for possível para que possamos dividir sensações sobre o mundo.
Pois bem, o meu filme era mesmo excelente. Parecia um Antonioni com a graça do novo cinema argentino. Vero é uma mulher que passa o filme todo sem saber se atropelou ou não uma pessoa. O acidente muda a vida da dentista, mãe de duas filhas. Traz à tona a sensação de inadequação tão comum nos tempos modernos. É uma mistura de culpa, estranhamento, vontade de mudança. O filme termina como começa: com a gente perdido na cadeira, emaranhado pela confusão da personagem.
O maluco nisso tudo é que hoje não era o dia de eu ver esse filme. Acordei meio sorumbática. Era dia de ver Harry e Sally, não Lucrécia Martel. O Chico, em compensação, saiu do filme, taxado de comédia romântica, com a alma lavada. 
Isso me fez pensar como quase sempre a arte tem o poder de nos tirar de maus momentos, nos inspirar ou tornar o dia mais colorido. Em troca, no entanto, há que se ter certo carinho com ela. Se o seu estado de espírito claramente não for aquele, em respeito ao criador, fique em casa. Não estrague a possibilidade de uma bela experiência por culpa da ansiedade. Cuide da obra como se ela fosse sua. 
Num texto emburrado, reclamando da modernidade, Ernesto Sabato trouxe uma observação maravilhosa: o problema daqueles bares onde a música está sempre nas alturas não é apenas o fato de a gente não conseguir conversar. Trata-se, também, de um desrespeito à própria música, pobrezinha, que, nessas circunstâncias, não pode ser apreciada com a devida atenção. 
Depois dessa, me resta ler a Time da semana.

Tuesday, August 18, 2009

Salvador

Na foto ao lado eu estava na Sam Ash, em abril, quando minha mãe veio me visitar. Queríamos fotografar a loja pro meu pai, com quem eu falava no telefone naquele momento. Desde cedo os dois me ensinaram a amar a música. Tão cedo que abandonei as aulas de piano aos cinco, mais ou menos quando as Barbies me pareciam bem mais coloridas que as teclas pretas e brancas. Depois, lá pros nove anos, eles me matricularam no curso da professora Lourdes, curiosamente, nome do mesmo bairro onde morávamos. Acabei deixando o moço meio de lado quando conheci Fred e Chico, dois dos melhores violonistas que já conheci. Juro. Os dois, por sua vez, também seguiram carreiras profissionais distantes da música: um é administrador, o outro advogado. Mas continuam tocando muitíssimo bem. 
Pois eu segui tocando de vez enquando, os acordes mais simples. Até ficar triste, triste. Daí, a primeira pessoa que me veio à cabeça foi o violão. É que nessas horas o bichinho parece ter coração e saber dar abraços. Fui com minha mãeà Guitar Center, onde compramos o Salvador. Ele já veio com o nome, apesar de parecer invenção. Salvador me tirou da fossa. Ele e mamãe, é claro. 
Só resolvi escrever este post de agradecimento ao violão porque ontem fui à casa da Dani no fim da tarde, dar a ela a primeira aula de violão. Eu e Sérgio compramos um Yamaha lindo pra ela, de surpresa, e agora a moça dá os primeiros passos. Ela é bem esperta, vai aprender rapidinho. E é tão bonito ver alguém aprendendo a tocar o instrumento. A emoção do primeiro acorde com som limpo, o desafio de um dedilhado novo, a sensação de que se tem o mundo na ponta dos dedos. Boa sorte, Dani. Evoé.

Sunday, August 16, 2009

Staycations


Era esse o título da matéria de capa da Time Out desta semana, aqui em Nova York. Parece que eles advinharam. Tirei a semana pra aproveitar a cidade com o Chico. Pra isso, é claro, trabalhei dobrado por três semanas e, quando já parecia que eu não ia aguentar mais chegou o sábado e fui cedinho ao aeroporto.
Foi uma semana inacreditável. Tão especial que só dá pra reproduzir numa lista dessas rápidas, mas suficientes pra lembrar o que a memória vai guardar pra sempre.
Sat: Central Park; Pier 70; Cookies na 74th Street; Rave no Cetral Park; Hip Hop no Central Park.
Sun: Tentamos, sem sucesso, ir à missa do Harlem; Columbia (passadinha no Le Monde); Casa da Dani e do Sérgio (risotto com Mumme, Dany, Karina); Jazz no basement do Harlem. 
Mon: Brooklyn (de metrô + Ice Cream Factory + Dumbo); Brooklyn Bridge a pé; Ground Zero; Staten Island (vista linda da Estátua da Liberdade); almoço em Chinatown; Wall Street; Soho (chocolate); Greenwich Village (Tiramisu); Washington Square.
Tue: Metropolitan (Francis Bacon); Grand Central (mercado + oysters); Public Library; Bryant Park; Times Square; Hair
Wed: Saint Thomas e Saint Patrick's Church; 5th Ave; Guggenheim; Le Monde (almoço); Abyssinian Church Harlem; Vespa, na 2nd Ave com Laura e Cz.
Thu: Bryant Park (chuva) café Juan Valdez; Almoço no mexicano em Hells Kitchen; Barnes & Nobles; Cinema (Adam); Opera (A Flowering Tree, no Lincoln Center).
Fri: Passeio longo de bicicleta até Battery Park com patrocínio de Michelle e Peter; Rosa Mexicano; Cinema (Funny People); Summer Stage (Martha Wainwright).
Sat: Show Bubble no Lincoln Center (playing Sgt Peppers); Union Square; Noodles no Republic; Loja de gibis; Igrejinha; Cinema (Julie & Julia); Jantar em casa
Sun: Moma; almoço no Etíope, aeroporto.
E agora? Como voltar à rotina?

Sunday, August 2, 2009

Desconstruindo Londres


Três dias sem escrever bastam pra parecer que uma eternidade se passou. Princialmente quando esses três dias se passam longe de casa. Começando pelo começo, gravei o dia todo na sexta mas, à noite, tive uma surpresa maravilhosa. Jantei com Denise e David, sweethearts desde os tempos da faculdade que se casaram e estão morando aqui. Fomos a um vietnamita com direito a rolinho primavera de primeira e sorvete de tapioca de sobremesa. Delicioso. Só não tanto quando lembrar como é bom ter amigos há muito tempo. Chico diz que a quantidade de amigos que se tem há mais de dez anos diz muito sobre a pessoa. Nesse quesito estou bem servida (quando eu ia pro aeroporto, Carol me lembrou que é minha melhor amiga há vinte anos!), mas nunca é demais perceber que tem algumas pessoas que não passam. Não via os dois há anos. A Dê então, nem se fala. Queria saber tudo, mas o mais importante eu soube no primeiro abraço. Os dois continuam com a mesma essência. São lindos, bondosos, apaixonados e cheios de amor pra espalhar. Inteligentes, interessados, companheiros, inspiradores. Saravá!
Foram eles que me indicaram o meu passeio da manhã de sábado. Era meu único tempo livre na cidade, pois 1pm tinha gravação de novo. Fui correndo até o Design Museum. Um barato. Além de uma linha do tempo super interessante, de 1960 a 2009, mostrando como o mundo mudou esteticamente, sempre pautando os principais acontecimentos históricos de cada ano. Além disso, uma temporária do designer espanhol Javier Mariscal era de encher os olhos. Ele é o talentoso moço que fez o bonequinho dos Jogos Olímpicos de Barcelona. Além de o trabalhos serem lindos, a exposição era maravilhosa, de um bom gosto tremendo. Cortinas de canudinhos pretos separavam uma ala da outra. Os trabalhos, ora pendurados, ora espalhados pelo chã ou pelas paredes encheram de cor o dia.

Até eu chegar ao metrô. Fecharam uma linha porque algum maluquinho esqueceu uma bolsa na estação. Deve ser terrível viver numa cidade com medo de terroristas. Pelo menos no caminho até o metrô me deparei com a figura da foto ao lado. Um artista de rua, que me lembrou aquele quadro do Magritte, O Homem com chapéu de côco. Genial.