Saturday, October 24, 2009

A arte é uma agonia


É tão difícil explicar o que faz de um filme um bom filme, o que faz de um quadro o seu preferido, o que faz de uma música um resumo da sua vida. É quando a gente diz "parece que ele fez isso pra mim" ou simplesmente se acaba de chorar.
Na verdade, tudo não passa de uma grande agonia. Acho que a arte deixa de ser bonita pra ser espetacular quando desarruma alguma coisa dentro da gente. 
Foi bem o que aconteceu quando vi "4 X 4", o espetáculo da Deborah Colker que, anos depois de ver no Brasil, revi aqui e Nova York. Eu lembrava direitinho o desespero que senti no segundo ato. As minhas amigas ainda tentavam se deliciar com o primeiro, também muito bacana, enquanto eu anunciava: "vocês precisam ver o segundo ato!".
É que só depois que a cortina se levanta pela segunda vez os bailarinos começam a trazer, um a um, vasos chineses pro palco. Pousam num desenho simétrico, marcado no chão do palco, aqueles lindos e frágeis obstáculos. E quando tudo parece em ordem, começam a dançar. Você perceber que a piruetas são mais contidas, mas os batimentos do coração nem por isso se conformam. É desesperador. Dá uma angústia tão enorme, como se nenhum ensaio fosse suficiente e você tivesse que pedir a papai do céu pra proteger aqueles pobres pés do desastre vindouro. 
Claro que nenhuma tragédia acontece a não ser a dolorosa constatação de que, na sua agonia, você se tornou refém da arte. E torce dia a dia, pra que prisões como essa não se abram jamais.

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