Saturday, November 6, 2010

A vida é um balão vermelho


Algumas vezes vi amigos artistas sofrerem uma abordagem um tanto esquisita dos fãs. Eles punham as mãos pesadas sobre os ombros dos pobres autores e diziam: "eu seeeeeei que você fez aquela música para mim. Quem te contou"? Ou ainda "sou eu, não sou? Aquele personagem sou eu, tenho certeza". Assustador.
Pois hoje me peguei fazendo a mesma coisa para um filme que eu já deveria ter visto há muito tempo, mas sempre adiei. Adiei porque tenho certeza de que Albert Lamorisse o fez para mim. E para que eu o visse hoje.
São 34 minutos, suficientes para mostrar o que tantos de nós passamos em tantos momentos das nossas vidas. Palavras são desnecessárias na saga do menino que encontra um balão encantado numa rua de Montmartre. Os dois ficam juntos, tão juntos que o balão passa a seguir seu "dono". Às vezes lhe prega peças, brinca de esconde-esconde. Lado a lado, os dois descobrem a cidade, as pessoas, a vida.
O problema é que, como nas histórias reais, uma hora alguém se incomoda com aquela harmonia. Por que é que ele tem uma balão vermelho mágico e eu não? Por que os dois se dão tão bem? Quanta injustiça! A alguns, cabe a simples vontade de ter o balão. São crianças que perseguem o garoto, o cercam até conseguirem rouba-lo.
Mas há, ainda, aqueles que nem se importam em ter um amigo encantado. Querem apenas destruir o balão do outro. O primeiro aponta um estiligue. Cambaleante, o balão cai no chão. Outro se aproxima e, com toda a força (aquela que ele deixou de usar construindo seus próprios sonhos e brinquedos), pisa o pobre.
Quem nunca teve um balão vermelho?
Pois bem, meus amigos. Se vocês pensam que, como num bom filme francês, o menino aprende que a vida é assim mesmo e vai para casa de mãos abanando, a lição é outra. Sentindo o que acontecera, dezenas, centenas de balões multicoloridos voam impávidos pelos céus de Paris. Atravessam ruelas, desvencilham-se de duras janelas, driblam telhados. Chegam ao terreno baldio onde o menino velava seu amigo. Dançam ao redor dele que, num lampejo de alegria, segura um por um. E, todos juntos, voam, sabe lá para onde.
Por isso, pode ter certeza. Se o balão vermelho for mesmo seu, chore um pouco por ele. Mas chore sabendo que de onde veio esse, tem uma porção para tornar sua vida ainda mais colorida.

2 comments:

Anonymous said...

deixa eu te contar um segredo?
eu acho que vc é um dos meus balões vermelhos!!! aquele que me leva a sonhar lindo lindo, lá no alto!
bjo grande!

Unknown said...

Amei, mt bem escrito, mt inspirador...alias, não poderia ser diferent vindo da pessoa que vc é...autentica, poeta, verdadeira, honesta...maravilhosa...parabens!!! que Deus continue a lhe envira mts balões, mesmo que não sejam vermeçlhos...para que vc continue brilhando sempre e semore mais...bjsssss.. Saxa