Sunday, May 1, 2011

Omaha Feelings


Veio de casa o exemplo. Trabalhe, seja honesta, esforçada e, mesmo que demore, a recompensa vem. Lembro das broncas homéricas que recebia se jogasse lixo no chão. Pintar minhas bonecas, tudo bem, afinal, eram minhas. Mas estragar o "coletivo", como meu pai dizia, o que era de todo mundo, ah, isso era imperdoável. Tendo a retidão e a dedicação como guias, fui tocando o barco. E como a tal da recompensa demora pra quem escolhe, como dizia Tim Maia, "o caminho do bem"! Mas ela chega.
Morei em várias cidades, me apaixonei por muitas delas, preservo bons amigos, conquistei algumas coisas no trabalho. Mas depois de muito esforço, me dei conta de que talvez estivesse negligenciando o mais importante: eu mesma. Preocupada com o coletivo, esqueci que eu fazia parte dele. Acabei me deixando de lado em várias situações.
Nem sei por que esse assunto surgiu. Aliás, sei. Estou em Omaha, no Nebraska. Para quem não tem mapa, fica na meiuca dos Estados Unidos. Vim para cá cobrir o Encontro anual de acionistas da Berkshire Hathaway, conglomerado do bilionário Warren Buffet. A cidade não tem nenhuma grande atração fora esse evento e é a cara dos Estados Unidos. Uma porção de malls cortados por highways, grandes estacionamentos e uma Radioshack em cada esquina.
Vi essa paisagem ano passado inteiro e o retorno para Nova York me havia feito esquecer como a vida pode ser pequena. Se a gente permitir que o cenário da nossa história seja este, que os figurantes estejam sempre preocupados com o efêmero e que o diretor nos diga como fazer cada movimento, o filme passa, ninguém se lembra e o protagonista chega a um final nem triste nem feliz. Água choca, como dizem os portugueses. Tô fora. É moleza procurar vilões. Eles sempre vão existir, reais ou fictícios. Difícil é ser autor da sua própria história.
Faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro leva o barco devagar. Mas leve, você mesmo, seu barco.