Tuesday, July 28, 2009

Merce Cunningham


Decidi começar a escrever este blog quando soube da morte do coreógrafo Merce Cunnigham. Queria deixar anotadas em algum lugar as recente memórias das minhas caminhadas pelo mundo, em especial por Nova York, minha casa desde janeiro deste ano. Não quero ver o tempo coando os detalhes de dias tão marcantes.
Num fim de semana de abril fui com minha mãe à Brooklyn Academy of Music, uma das mais belas casas da cidade. A arquitetura clássica, o pé direito alto, permitindo que a elegância se espalhe, já pagariam o ingresso. A companhia da minha mãe bastaria para que eu me percebesse pagando pouco. E quando o espetáculo começou, percebi que vivia um momento impagável.
A música de Sonic Youth, cheia de esquisitices, servia de compasso pra uma coreografia que parecia saída da cabeça de um jovem de roupas coloridas e cabelos arrepiados. Um instante, maestro. Um jovem assim não teria bagagem pra calcular cada movimento como se ele tivesse sido criado sem qualquer cálculo. Era só sentimento, como se a natureza tivesse criado um novo bicho, meio anjo, meio bailarino, meio trator. 
O cenário imponente desaparecia numa mistura se sensações que às vezes lembrava nuvem, às vezes arco-íris.
E no final daquilo tudo, quando eu já não sabia mais se ria ou chorava, Merce Cunningham, numa cadeira de rodas, entrou no palco. Como sempre, elegante, usando roupa preta e cachecol, teve de arrumar forças pra acenar por mais de dez minutos. Foi o tempo em que o público permaneceu de pé, aplaudindo não a apresentação daquela tarde mágica, mas os 90 anos de serviços prestados aos corações do mundo.
Espero que Pina Bausch o esteja esperando descalça, num vestido longo, pra um baile sem fim.

2 comments:

Aline said...

Que lindo, companheira blogueira! Bem vinda a esse mundo do tudo-pode! E não deixe de escrever, ainda que só de vez em quando!
Beijos.

Unknown said...

Mila, você bem sabe que eles estão mesmo dançando lá em cima, neste momento. Quem acredita na arte torna-se eterno. O mesmo vale para o amor. Não existe barreira para essas pessoas. Parabéns pelo Pra te confundir, que será tão belo quanto a sua vida. Serei o seu companheiro de blog mais dedicado. Porque eu sei os prazeres de ser confuso! Boa sorte. Beijo do Chico