Friday, May 14, 2010

Dia 104 (12/05) - Biloxi e Maurília


Calvino continua puxando meu tapete. Quando fala de Maurília, em "As cidades Invisíveis", ele descreve Biloxi, a cidade a que chegamos hoje. Às vezes parece que ele está conosco, na estrada, descobrindo este país tão rico e contraditório. O Mississippi é o estado mais pobre daqui, com o menos nível de educação dos moradores e o maior índice de obesidade. Sofreu com o Katrina, agora sofre com o vazamento de petróleo e, o mais maluco, é uma terra tão desgraçada que nem como tal é lembrada. Quando a gente pensa no Katrina, fala a verdade, vem à cabeça New Orleans. Nessa história do vazamento até a Flórida está sendo citada, mas o pobre MIss, coitado! Biloxi já foi a terceira cidade do estado. Caiu para a quarta posição depois dos danos causados pelo furacão. Passamos por algumas áreas atingidas e, de mansões, sobrava apenas o piso. Às vezes uma única coluna do que havia sido um quarto resplandecia. Uma dor. Conversamos aqui com dois brasileiros que viveram isso e foram categóricos: não é um estado bom para os imigrantes. Falta emprego, sobra ignorância. Mas a tal Maurília, de Calvino, me lembrou Biloxi por outro motivo. Ele fala de uma cidade substituída por outra, com o mesmo nome. De colinização francesa, Biloxi já foi uma New Orleans. Os casarões, coretos, tudo o que permeava a minha imaginação por causa dessa referência, virou uma sucessão de cassinos. Uma tentativa de Las Vegas. Apenas um velho farol, em frente à praia de areias brancas, lembra que deuses deviam morar ali. Hoje, são deuses desconhecidos, que talvez tenham tirado umas férias de lá e ido passar uma temporada ou em Las Vegas, ou em alguma praia paradisíaca. Bem longe dali.


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