Tuesday, May 25, 2010

Dia 114 (22/05) - Clarksdale


Em Clarksdale o blues foi criado. Ali, na região do Delta do Mississippi, bluseiro que se preze ou nasceu ou passou boa parte da vida. John Lee Hoocker, W.C Handy, BB King, Ike Turner, entre eles. O ator Morgan Freeman também é daqui e hoje tem dois restaurantes bacanas à beça na cidade. O Mardidi, mais arrumado, é ótima pedida para o jantar. O Ground Zero tem shows de blues, comida boa e um estilo largado com charme. Estar aqui me levou de volta às rodas de violão em Vitória, em que o Chico e o Antonio, ainda achando que mudariam o mundo, cantavam "Vampiro Doidão" como se fosse uma grande música. Estavam todos ali. Os meus amigos, mas também Muddy Waters, o maior orgulho da cidade. E o mais curioso: ontem, em Memphis, vimos um show bacana na Lewitt Shell, mas não conseguimos entender o nome do cara. Parecia algo como "Super Chicken", nome estranho demais para eu confiar apenas na minha compreensão da língua inglesa. Mas era isso mesmo, exceto pelo fato de que a grafia é Chikan, pra ficar mais chique. Pois não é que o cara é um mito entre os apreciadores de blues e estava na parede do Museu? Mais que isso: um americano almofadinha, blusa pra dentro da bermuda e mocassim, nos puxou num canto do museu e convidou: "venham comigo e finjam que são meus convidados". Chico, desconfiado, quase não foi. Eu segui. De repente estávamos numa salinha, com outras dez pessoas, num show privé do tal Super Chicken dentro do Museu. Um luxo! Mas a maior surpresa do dia foi mesmo Clarksdale. Eu imaginava uma cidade relativamente desenvolvida, grande. Que nada! O lugar parece mesmo ter saído de uma canção do Robert Johnson (aliás, fica ali a encruzilhada em que ele teria feito um pacto com o diabo); em cada esquina parece que uma guitarra chora com uma faca sendo usada no lugar do slide. Dá vontade de andar de sapato bicolor por aquelas calçadas por onde tantos gênios passaram. Da vontade de ouvir Blues Before Sunshine.

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