Tuesday, February 8, 2011

Vlado e a nossa amnésia


Ontem assisti, pelo Netflix, a "Vlado: 30 anos depois", um filme de João Batista de Andrade. Pensei nos meus pais, na época do movimento estudantil; em Doramundo, filme em que os dois amigos se encontram (Vladimir Herzog escreveu o primeiro roteiro, João Batista de Andrade dirigiu); no mais recente documentário "Tempo de Resistência", que meu pai intimou todos os amigos a verem, para que não esquecessem aquele período tão doloroso quanto decisivo para a nossa formação como povo.
Mas pensei muito mesmo na minha viagem para a Argentina, nos idos de 2004, se não me engano. Fui com minha irmã. Organizamos tudo para chegar lá no dia em que os hermanos comemoram o fim da ditadura militar naquele país. O problema é que era um feriado e não era uma data redonda para as comemorações, portanto imaginei que não veria ninguém na rua. "Devem ter viajado pro feriado", pensei. Mas os argentinos tinham muito a me ensinar. Quando cheguei ao Obelisco uma multidão tomava as ruas. "No perdonamos y no olvidamos", gritavam, mais de duas décadas depois do fim do regime. E me envorgenhei da nossa falta de memória. Devia haver pelo menos 200 mil pessoas naquele fim de tarde em Buenos Aires, seguindo em marcha até a Casa Rosada. Me juntei às mães da Praça de Maio como se aquela luta fosse minha, que se fossem meus filhos os mais de 30 mil desaparecidos durante o período da Revolução Argentina. Mas não eram.
Os nossos filhos - ou pais - atuaram em lutas semelhantes aqui no nosso quintal, e cabe a cada um de nós fazer com que essa história não seja esquecida. Vendo Vlado ontem percebi, mais uma vez, que apesar de todo o meu interesse, ainda sabia pouco sobre a história desse herói acidental. Menos ainda sei de outros heróis brasileiros, que desapareceram no cruel coador da memória.
Cabe a nós lembrar. "No perdonamos y no olvidamos". Talvez a internet, os filmes, os livros, sirvam também para isso. Para refrescar uma lembrança que nos construiu como pátria.

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