Saturday, February 26, 2011

From China with love


Vale muito a pena ir à exposição When Worlds Collide, do fotógrafo chinês Wang Qingsong. Está no International Center of Photography, um museu super bacana que visitei pela primeira vez com a Flavinha. Naquele dia quentinho de 2009 a gente viu uma outra mostra, chamada This is not a Fashion Photograph, com fotos de um monte de feras, de Walker Evans a Robert Mapplethorpe. Desta vez, um maluco. Até então incógnito para mim.
Qingsong mostra em retratos montados (à la Norman Rockwell) o choque entre a tradição chinesa, o comunismo, a mão de obra barata e a chegada de bens de consumo, sobretudo os americanos. As fotos são lindas e perturbadoras. Algumas até fisicamente, como em Yaochi Fiesta. A foto ao lado é Archaeologist, em que o artista encheu de lama um bando de figurantes para simular uma escavação, em que corpos foram encontrados depois do fim de alguma civilização. Símbolos do Mc Donalds se misturam a pinturas do século 12. Tudo detalhadamente calculado.
Mas o mais bacana da exposição foi uma cena, em frente à foto Follow me. Na obra, um professor aponta para um quadro negro cheio de coisas escritas em inglês. Parece impor a todo um povo que compreenda as investidas do inimigo. O que aconteceu foi que um dos seguranças da sala, um senhor de uns 60 anos, chamou a segurança da sala ao lado. "Corre aqui. Achei outra coisa. Olha, aqui está escrito: onde fica o banheiro, bem ao lado de ideogramas chineses." Os dois discutiram longamente sobre o sentido da obra.
Esses profissionais sempre me fascinaram. Cercados de arte o dia inteiro, mas ao mesmo tempo, tendo de olhá-la com o distanciamento de que fita um bem financeiramente valioso. E nada mais. Sempre quis saber se, por trás do terno azul-marinho, eles se apaixonavam pelos quadros e esculturas, ou se apenas batiam ponto e poderiam estar tomando conta de caixas sabão de brio (das que não valem dois dólares, não as do Warhol). Um dia, no Whitney, na exposição do Paul Thek (que, particularmente, detestei), vi um deles fazendo cara feia pras instalações. No mesmo museu, no entanto, conheci a obra de Charles LeDray que, vejam só, foi segurança de museu! Poxa, se o cara virou artista, é porque estar ali, perto das obras, de fato deve acordar o bicho carpinteiro de alguns deles. Achei lindo ver a arte mexendo desse jeito com as pessoas. E, olha, em poucos museus encontrei funcionários tão felizes. Deve ter alguma coisa a ver.

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