
Se as cidades têm mesmo alma, a alma de Dallas deve ser meio envergonhada. A cidade é uma das mais reacionárias dos Estados Unidos. Curral eleitoral de republicanos, foi palco do assassiato de Kennedy, entre outros episódios em que o ódio fala mais alto que a liberdade. Estava bem desanimada, mas o encontro com a Luciana, uma brasileira que está aqui há mais de dez anos, me deu novo fôlego. Ela é apaixonada por Dallas e fazia graça de todos os problemas. A urbanização excessiva? "Ah, aqui um avião passa pelo céu a cada 50 segundos. Não é o máximo?". O clima esquisito? "Se você não gosta, espera cinco minutos que muda!". de fato, o bom humor da Lu me fez acreditar que Dallas pode ter seu charme. Também me animou conhecer o Robert, um texano que foge de qualquer padrão. Filho de uma brasileira, aos 42 anos, quando se tornou pai, decidiu aprender a língua para ensinar à filha, coisa que muitos brasileiros da gema deixam de fazer. Brunssen entende tudo o que dizemos, e responde com um sorriso a cada galanteio em português. Mas foi só a gente terminar as gravações e seguir para o Museu JFK para lembrar a aura esquisita da cidade. A gente vê até a janela de onde Oswald teria atirado no então presidente (é esta que aparece na foto ao lado, no sexto andar do que era um depósito de livros). Teria. Até porque, no próprio museu, todas as hipóteses de conspiração são lembradas. A história é terrível e deixa a gente com vergonha da cidade. Mas reunir tudo isso num museu e convidar o público a lembrar também das suas derrotas faz de Dallas, pelo menos, uma cidade com vergonha na cara.
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