Monday, September 28, 2009

Le Misérable


O Jean Valjean dos tempos modernos se chama Roman Polanski. Um vacilão que faz tudo para entrar na linha, mas não consegue escapar da perseguição de um policial. Acabo de ver "Roman Polanski wanted and desired", que está no watch instantly da Netflix. O documentário, super interessante, menciona a infância trágica do menino que se viu sozinho, fugindo do nazismo, depois que toda a família morreu (a mãe, ainda na Polônia, o pai, num campo de concentração), do adulto que perdeu a esposa grávida, assassinada pelo maior serial killer dos EUA, Charles Manson, e o velho babão que virou fugitivo depois de transar com uma menina de 13 anos.
No documentário a gente se covence de que sim, por mais que se tenha compaixão por Polanski, 13 anos são 13 anos e é de lascar. Fosse quem fosse a menina ou a mãe dela, ou qualquer coisa.
Mas é maluco imaginar o fim que um delito, perdoado pela própria vítima, pode causar tamanho dano. Se a vida de Polanski daria um filme (na verdade, daria dezenas, e não apenas "O Pianista" ou o próprio documentário), é doloroso imaginar que depois de tantas décadas, perdão não sirva pra nada, talento e lifetime achievement não sirvam para nada. Ainda não sabemos o fim do filme, mas hoje o cara está com quase oitenta anos, casado há 20, com dois filhos. 
A vítima também é casada há 20 anos e tem três filhos. Já disse que perdoa Polanski e que não quer que ele seja preso. Diz que um novo jugamento seria um tormento para sua família e pede paz.
O inspetor Javert dessa história é um juiz de Los Angeles, Laurence Rittenband, que tenta propor acordos às duas partes e segue quebrando cada um deles, de acordo com a maré da mídia. Ele morreu em 1993, aos 88 anos. Agora, não se sabe como a justiça americana vai proceder. É esperar que pelo menos alguma coisa o berço do capitalismo tenha aprendido com Victor Hugo: "a tolerância é a melhor religião". 

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