Thursday, February 11, 2010

Dia 13 - Vida na fronteira


A mula pintada de zebra foi a menor das surpresas que tivemos neste um dia de México na veia.

Hoje foi um daqueles dias que mudam a vida da gente. Mais um, aliás.

Acordamos cedo para que conseguíssemos voltar antes de anoitecer em Tijuana. O México fica a menos de 20 minutos do nosso hotel, mas pelas diferenças que vimos assim que atravessamos a fronteira, pareceram anos. Nem sei como explicar. Parece que o ar da cidade é carregado pela vontade que as pessoas têm de estar fora dali, ao mesmo tempo em que tem um certo tempero de alegria. Muito louco.

Passamos o dia "escoltados" pelo fiel Mestre Pelourinho, um baiano que, na definição do Chico, é o malandro, no melhor sentido da palavra. Aquele cara que faz da vida uma aventura errante e uma alegria constante, com o que quer que ela ofereça. Uma beleza de ver. Ele está no México há seis anos, anda pra cima e pra baixo num carro cheio de desenhos de florestas e mestres da capoeira, e é conhecido na cidade toda. Ainda assim, o único momento de turista que a gente teve foi o da foto ao lado. O restante foi de trabalho e tensão. O próprio Pelourinho, que contrariando as estatísticas nunca quis atravessar pros Estados Unidos, já se rendeu e confessou que não aguenta mais tanta violência e que a situação na cidade é ainda pior do que o terror que vemos nos jornais. Passeamos pela Avenida Revolución, decadente ponto turístico da cidade, visitamos a escola de capoeira dele, fomos à casa de uma amiga, conhecemos uma taquería. Ah, e esqueci de dizer! Tomamos um café da manhã típico: feijão, batata assada e um louco omelete vegetariano que vinha com pele de porco (blergh) ao lado. Por que eles não chamam isso de omelete de vegetais? Eu sei lá! Só sei que no fim das contas foi o que me sustentou sem almoço até as 9 da noite.

Estava tudo tenso, mas relativamente tranqüilo, até chegarmos ao temido muro. Fomos acompanhando seu doloroso trajeto até chegar à fronteira do mar. Ali foi difícil aguentar. A energia péssima, dezenas de homens vagando, alguns olhando o navio da marinha americana enquanto o sol se punha. E pouco antes de o muro deitar na areia, ele foi coberto de cruzes, de ponta a ponta. Cruzes brancas a perder de vista, representando aqueles que morrem tentando atravessar. E San Diego logo ali, onde a vista, sem esforço, alcança.

Foi duro voltar para casa. E mais duro ainda, dormir.

1 comment:

Anonymous said...

Esse "desayuno" é típico mesmo. A pele de porco se chama Chicharón,é o equivalente mexicano ao nosso torresminho. Concordo com o Blargh! Em 5 anos aqui nunca consegui comer essa coisa...